Graduação mais globalizada

Cresce número de estudantes intercambistas goianos, impulsionados por programa federal

 

Gabriela Lima

18 de maio de 2014 (domingo)

Fazer as malas e partir rumo a uma nova cultura, falar fluentemente um novo idioma e, de quebra, turbinar o currículo. Expectativas de estudantes brasileiros que, na última década, registraram um aumento vertiginoso no ingresso em universidades estrangeiras. Só na Universidade Federal de Goiás (UFG), a que registra maior mobilidade internacional no Estado, o número de intercambistas enviados ao exterior saltou de 12, em 2003, para 400, em 2013. Especialistas e goianos que passaram pela experiência contam como estudar fora ampliou os horizontes, mas fazem alertas para evitar contratempos e decepções.

Aprender a língua do País onde está interessado em estudar é essencial. Para os que pensam em se formar fora e voltar para exercer a profissão no Brasil, especialistas afirmam: a equivalência de cursos, disciplinas e carga horária são detalhes importantes para ter o diploma reconhecido por aqui. Em terceiro lugar, antes de optar por uma universidade estrangeira, pesquise se o curso nela oferecido tem a qualidade esperada.

Responsável pela Coordenação de Assuntos Internacionais da Universidade Federal de Goiás (CAI/UFG), Ofir Berggemann diz que houve um aumento do número de oportunidades de passar por um centro de ensino superior estrangeiro, causado principalmente pelo programa Ciência Sem Fronteiras (CSF), criado pelo governo federal em 2012 para dar bolsas de estudos no exterior. Mas a barreira linguística tem sido o principal problema enfrentado pelos estudantes. Recentemente, alunos que ganharam bolsas do CSF foram “devolvidos” justamente por não dominar o inglês.

Para evitar esse tipo de incidente, o programa Inglês Sem Fronteira, um desdobramento do Ciência Fronteira e que promove cursos gratuitos na internet, irá aplicar provas de nivelamento no idioma. Só na UFG, 9.500 alunos poderão fazer, de graça, o Test of English as a Foreign Language (Toefl), teste de proficiência aceito no ingresso de diversas universidades mundo afora. No Brasil, o exame custa cerca de US$ 250.

Além do programa federal, a coordenadora da CAI também cita parcerias com a iniciativa privada e a ampliação de acordos bilaterais como responsáveis pelo crescimento da mobilidade internacional. Esse complemento é importante porque o CSF é exclusivo para estudantes das áreas de Engenharia, Tecnologia e Ciências Biológicas e da Terra, não contemplando as Ciências Humanas e Sociais.

“Sempre houve o interesse, mas dificilmente o aluno tinha condições de realizar um intercâmbio ou pagar uma universidade estrangeira por conta própria. O Ciência Sem Fronteiras democratizou esse acesso, mas também são importantes as bolsas financiadas pelo Banco Santander e os acordos bilaterais pagos pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)”, pontuou.

Em 2013, dos 400 intercambistas da UFG, 278 viajaram por conta do Ciência Sem Fronteiras. A maior parte dos estudantes da federal goiana optou por cursos nos Estados Unidos (veja quadro). Mas não muito atrás, Portugal aparece como segundo destino preferido dos alunos.

A situação se repete na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Segundo o assessor de Relacionais Internacionais, Paulo Gonzaga, este ano a PUC enviou 160 alunos para fazer parte da graduação em instituições estrangeiras. Desses, 120 foram pelo CSF e 80% estão em universidades norte-americanas.

Tanto na UFG quanto na PUC, a Universidade de Coimbra, em Portugal, aparece como o centro de ensino estrangeiro que mais recebe alunos das instituições goianas.

“Nos Estados Unidos, os estudantes estão pulverizados em diversas instituições, que muitas vezes recebem apenas um estudante. Por outro lado, temos uma parceria consolidada com a Universidade de Coimbra, com vários projetos assinados e um maior número de vagas”, explica a coordenadora da CAI.

Para o assessor de Assuntos Internacionais da PUC-GO, apesar de ser considerada uma das universidades mais importantes do mundo, o principal atrativo de Coimbra para os brasileiros é a facilidade da língua. Gonzaga conta que, no início do Ciência Sem Fronteiras, Portugal era o destino escolhido por 80% dos contemplados.

Em meados de 2012, no entanto, o governo federal cancelou o envio de estudantes para lá, para forçá-los a aprenderem uma segunda língua, um dos objetivos do projeto. Após a exclusão do Ciência Sem Fronteiras, Portugal passou a aceitar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de acesso a suas universidades, e, assim, não deixar de receber brasileiros.

Mas Gonzaga estimula os estudantes a aprenderem um novo idioma. “A gente só não está aproveitando mais o programa devido à falta de fluência em línguas estrangeiras. Então eu digo para os alunos: ‘Se puder, comece no Ensino Médio. Se não, assim que chegar à universidade, porque em três, quatro períodos já terá uma fluência’”.

Fonte: O Popular