O Cerrado contra o vitiligo

Professores e alunos da UFG estudam planta do bioma para tratamento de doença dermatológica

Dentro de três a quatro anos novos medicamentos para tratamento do vitiligo, feitos à base de planta do Cerrado, podem estar no mercado. Professores e alunos de pós-graduação da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG) estão pesquisando há quase 10 anos o uso da mama-cadela no tratamento da doença. O objetivo é produzir medicamentos fitoterápicos com efeito e segurança comprovados e fundamentados cientificamente.


Segundo o professor coordenador da pesquisa, Edemilson Cardoso da Conceição, a planta já é utilizada pela população há mais de 50 anos em forma de chá, mas seu uso indiscriminado pode causar queimaduras na pele e intoxicação no fígado. A pesquisa também conta com o apoio do agrônomo João Carlos Mohn Nogueira, da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), e de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) - câmpus de Ribeiro Preto. “Além de contribuir com novas opções de medicamentos, essas pesquisas servem para demonstrar a viabilidade do Cerrado, que vem sendo destruído pela expansão desenfreada e desorganizada da agricultura, perdendo uma riqueza enorme de recursos genéticos”, afirma Conceição.


As fórmulas originadas dos estudos são negociadas com empresas interessadas através do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT). O dinheiro arrecadado será investido em novas pesquisas.


Com discretas manchas no queixo e no pé, a mestranda Mariana Cristina de Morais, de 25 anos, tem motivo especial para se dedicar a sua pesquisa sobre a produção do extrato e as formulações semi-sólidas - ou seja, gel, cremes e pomadas para o tratamento da doença. “Muito bom pensar que poderei ajudar pessoas que assim como eu, desenvolveram o vitiligo”.


A DOENÇA


Os médicos não sabem explicar direito a origem do vitiligo, mas a teoria mais aceita atualmente define a doença como autoimune. A médica Mayra Ianhez, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) explica que a indicação do tratamento depende do comprometimento de cada paciente, do tamanho da lesão, se ela está estável ou não. Mayra explica que o vitiligo não prejudica a saúde física do paciente e não é contagioso, mas por transformar a aparência, acaba trazendo impactos psicológicos. A doença atinge 1% da população brasileira, afetando igualmente ambos os sexos, e pode aparecer em qualquer idade.
Hoje, além dos medicamentos psoralênicos - que reagem com a exposição solar - como é o caso das substâncias encontradas na mama-cadela, também são usados, de acordo com Mayra, medicamentos que controlam as células do sistema autoimune, evitando que as células ataquem os melanócitos. “Outra opção, mas que no serviço público é oferecido apenas para casos extremos, é a fototerapia com radiação ultravioleta do tipo B (UVB), de banda estreita. O paciente entra na cabine e os raios induzem a proliferação de melanócitos. O bom desta opção é a redução dos efeitos colaterais”.


A doença


Tratamento com medicamento ou a laser


O que é vitiligo


■ Doença cutânea em que ocorre a perda da cor (pigmento) em certas áreas da pele, resultando em machas brancas irregulares.

Causas


■ Parece ocorrer quando as células imunológicas destroem as células que dão cor a pele (melanócitos). Acredita-se que essa destruição ocorra por um problema autoimune, mas a causa é desconhecida.

Tratamento


■ Dentre as opções terapêuticas está o uso de medicamentos que induzem a repigmentação das regiões afetadas. Também pode-se empregar tecnologias como o laser, bem como técnicas de cirúrgicas ou de transplante de melanócitos.

A planta


Mama-cadela (Brosimum gaudichaudii) - Arbusto de pequeno porte muito comum no Cerrado. Sua raiz é rica em substâncias fotosensibilizantes. A UFG estuda sua utilização para a fabricação de comprimidos e soluções tópicas (a definir) para o tratamento do vitiligo.



Fonte: O Popular