Moradores constroem praça

Com intenção da Prefeitura em vender área, população e professores fazem benfeitorias

Cleomar Almeida

25 de maio de 2014 (domingo)

 

Depois de a Câmara Municipal de Goiânia aprovar projeto da Prefeitura para desafetação de 18 áreas públicas, moradores, juntamente com professores e alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), iniciaram ontem a construção da praça do Residencial Humaitá, na Região Norte da capital. O ambiente de lazer está previsto no projeto do bairro, mas corre risco de ser derrubado, já que a área, com cerca de 10 mil metros quadrados, é uma das que serão colocadas à venda.

Indignados com a proposta da Prefeitura, a comunidade buscou apoio junto a professores e alunos da UFG e da PUC-GO, antes que a área fosse tomada por empreendimentos privados. A arquiteta Maria Ester de Sousa elaborou e doou o projeto da praça, que conta com pista de caminhada, quadra de esportes, arquibancada e playground. “A população não quer perder tempo. Está construindo a praça para não perder a área para a desafetação”, disse ela, enquanto trabalhava com os moradores e orientava a instalação de alguns equipamentos.

O professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG, Tadeu Alencar Arrais, também estava no local, plantando mudas de árvores com a moradores.” Esta é uma ação sem precedentes. É a comunidade se apropriando de uma área pública. Não há exemplo maior de cidadania”, ressaltou ele, para emendar: “A população espera reconhecimento da Prefeitura, para que não venda esta área.”

Logo em seguida, por volta das 10 horas, o secretário municipal de Fiscalização, Allen Viana, chegou ao local e tentou impedir a mobilização, mas recebeu várias críticas. “A Prefeitura deveria trabalhar para desenvolver a cidade, e, não, para atrapalhar a gente”, gritou um morador, sem se intimidar com a presença de policiais militares que tentavam reforçar o posicionamento do secretário.

O local fica atrás do Shopping Passeio das Águas, bem próximo ao Córrego Caveiras. “Aqui próximo tem a área de preservação ambiental. Se vender isto aqui, grandes empreendimentos vão se apropriar e sufocar ainda mais este local. Seria um risco muito grande”, criticou o professor do Iesa. “O prefeito (Paulo Garcia - PT) deveria ter orgulho de administrar uma cidade em que moradores se reúnem para construir um bem público. Em cinco dias limpamos e tiramos o excesso de mato”, pontuou ele.

A engenheira agrônoma Ludmilla Luciano de Carvalho mora no Residencial Humaitá há oito anos e disse que a mobilização teve início desde a discussão sobre a desafetação da área. “Esperamos que o prefeito se sensibilize e traga benefícios para a comunidade, em vez de vender. Precisamos de coisas públicas, que qualquer um possa utilizar, e não um empreendimento privado aqui”, acentuou ela, acrescentando que 150 mudas de árvores serão plantadas no local, onde também estava prevista a construção de uma escola e um posto de saúde. “A comunidade está contribuindo, com o início da praça”, disse.

Um dos primeiros moradores do Humaitá, o aposentando Sebastião Moreira Brandão vive no bairro desde 2005 e cobrou ações da Prefeitura. “Não temos nenhuma opção de lazer. O povo faz caminhada na rua, arriscando ser atropelado por um carro. É muito ruim”, desabafou. O caminhoneiro Marques Brasil de Amorim mora no Jardim Ipê, ao lado do Humaitá, e acredita na mobilização. “A Prefeitura pode até querer destruir depois o que está aqui, mas estamos fazendo a nossa parte”, afirmou ele.

Secretário diz que vai autuar voluntários

25 de maio de 2014 (domingo)

O secretário municipal de Fiscalização, Allen Viana, disse ontem que vai autuar os organizadores da mobilização feita para construir a praça do Residencial Humaitá, na Região Norte de Goiânia. “As pessoas que estão organizando este movimento precisam ser notificadas porque estão ocupando uma área pública, sem autorização prévia, e fazendo inclusive edificação”, disse ele, referindo-se a base de tijolos construída para colocar o memorial da praça, enquanto recebia duras críticas da população.

Os moradores estavam sendo monitorados pela Secretaria de Fiscalização, de acordo com Allen Viana. Ao iniciar uma discussão no local, ele queria que fosse paralisada a construção do memorial da praça. “Vamos parar isso aqui do jeito que está”, disse ele, em meio a um bate-boca travado no local com o professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG, Tadeu Alencar Arrais. “Vocês estão ferindo o Código de Obras e Edificação do Município”, ressaltou o secretário.

Ao lado de moradores e da arquiteta Maria Ester de Sousa, que elaborou o projeto da praça, o professor da UFG rebateu o secretário. “A cidade inteira está ferindo o Código de Posturas. Se tiver de ter ação, pode ter, a comunidade vai assumir. Pior que ferir o código, é ter 10 mil metros quadrados sem nenhuma praça ou qualquer outro equipamento público”, alfinetou Arrais.

Fonte: O Popular