Os mistérios dos fascinantes felinos domésticos

Eles são dóceis, carinhosos, temperamentais, e se apegam, sim, aos seres humanos!

 quinta-feira, 29 de maio de 2014

 Fofi, Pelanca, Nego, Frank, Loiro e El Pequeño. Estes são os nomes dos gatinhos de Thaís Dutra (23), estudante de jornalismo. “Os seis são vira-latas. A Fofi foi adotada de um pet shop; a Pelanca eu resgatei no Campus Sambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG); o Nego e o Loiro são filhotes da Fofi, e o El Pequeño eu resgatei de um homem que o maltratava”, conta a estudante, que sempre gostou de animais – ela já teve cães, coelhos e hamsters. “Eu cresci vendo minha mãe resgatando animais da rua. Nunca compramos um animal, sempre retiramos da rua ou adotamos. Eles não são apenas animais de estimação; são parte da família, companheiros”, comenta.

 Para a estudante, lidar com o comportamento e a socialização dos bichinhos não é tarefa difícil. “Para mim, é fácil. Eles miam e reagem de formas diferentes a cada necessidade. Quando pedem comida, andam e miam de uma forma; quando querem carinho, se esfregam em nossas pernas, miam bem fraquinho, e ronronam, e por aí vai. Cada vontade tem uma demonstração, e nós, tutores, conseguimos identificar a maioria delas”.

 A independência dos gatos é uma característica que agrada Thaís. “Eles são muito inteligentes, e costumam saber o que podem e o que não podem fazer. Por exemplo: assim que colocamos a caixinha de areia para que façam as necessidades, não precisamos ensiná-los; eles logo vão, e já sabem o que fazer. Se não podem subir em algum móvel ou entrar em algum cômodo, basta falar com autoridade, que eles costumam obedecer”.

 E os famosos arranhões dos felinos? Será que o amor supera as cicatrizes? Para a dona dos seis gatinhos, sim. “Entendo que cada arranhão que eu já levei foi por alguma reação minha em relação ao gato ou a alguma situação. Nenhum animal ataca sem que antes tenha sentido alguma coisa, como ameaça. Gatos costumam arranhar de leve, quando estão muito animados em uma brincadeira, mas não é por maldade, e não machuca. São ‘arranhões de amor’. Quando eles estão nervosos, não querem saber de ‘papo’; se eles se sentem ameaçados, arranham como forma de defesa, e dói muito. Na maioria das vezes, o local pode até inflamar se não lavar e desinfetar direitinho”.

 Thaís diz que ter gatos é um desafio diário. E ela admite que não é para qualquer um. “Repare a personalidade de pessoas mais apegadas a gatos e a de pessoas mais apegadas a cachorros. Nós, que gostamos muito de gatos, não vemos problema em o bichinho ter ‘sua própria vida’. Eles vêm, recebem e dão carinho, miam um pouco, brincam e te deixam sozinha. Dormem onde querem, comem quando querem, e interagem quando querem. São muito carinhosos e amorosos, reconhecem o dono e são recíprocos quando se tratar de demonstrar amor, mas não ficam o tempo todo grudado com o tutor, como os cães fazem. Isso me agrada. O gato tem um estilo de vida diferente. Acho que esse é o maior desafio de se ter gatos, porque muitas pessoas não entendem que eles, naturalmente, são assim: mais independentes. Isso não quer dizer que eles não gostem do tutor ou que só querem saber de ter o que comer e onde dormir. É só uma questão de personalidade do gato, e aceitar isso faz parte de amá-los”.

 A estudante afirma que os gatos são uma vida, portanto merecem amor e respeito como qualquer outra. “Quando se tem carinho e amor, gato, cachorro… qualquer animal de estimação deixa de ser apenas um animal de estimação ou um enfeite da casa. Os meus gatos – principalmente o mais novinho, El Pequeño, que é mais apegado a mim –, são como filhos humanos que eu poderia ter. Eu pago as contas deles; fico preocupada quando estou fora de casa; levo ao veterinário sempre que necessário; certifico-me de que eles estão bem; dou amor e carinho e, ainda por cima, faço questão que eles durmam comigo. O sentimento é um só: amor. De filho, mais precisamente”.

 Palavra de especialista

Com inúmeras habilidades e conhecidos pela famosa independência e pelo variável temperamento, os felinos têm vivido cada vez mais perto do homem. Sobre este e outros assuntos relacionados aos gatos, O HOJE conversou com Ke­llen de Sousa Oliveira, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), com pós-doutorado em Reprodução Animal pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal, e vice-presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-GO).

 

 Entrevista  Kellen de Sousa Oliveira

 

 Como interpretar os diversos tipos de comportamento dos gatos – de locomoção, de agressão, sexual e higiênico, por exemplo?

 

Os gatos são diferentes dos cães em diversos aspectos, por exemplo, o alimentar. Os gatos são carnívoros, e vão à sua vasilha de comida, várias vezes, para comer pequenas porções ao longo do dia. Gatos são animais solitários e, quando acostumados com uma casa tranquila, podem não se adaptar a agitação e barulho, e terminar indo embora. São considerados animais de fotoperíodo positivo, ou seja, seu comportamento sexual é estimulado pela incidência de luz solar, e as gatas podem entrar em cio a cada 21 dias dentro desse período (primavera e verão). São animais extremamente higiênicos, portanto o local de eliminação (caixa sanitária) deve ser afastado do local da alimentação. Em geral, os de pelagem curta não necessitam de banhos com frequência, já que tomam banho o tempo todo. Porém, para felinos de pelagem longa, são indicadas visitas ao salão de estética felino, com mais frequência, evitando nós (bolos) na pelagem e odor excessivo, devido às fezes e à urina, na pelagem, perto da genitália. O comportamento do felino vai depender muito da maneira com que foi criado, a quê e a quem foi exposto durante as suas primeiras oito semanas de vida.

 

 

 

Os gatos podem se socializar facilmente?

 

Os felinos, mesmo tendo e não abrindo mão de sua independência, possuem grande interação com o proprietário. Os gatos são os animais que mais têm crescido no gosto dos que pretendem ter um animal de estimação. Isso pode ser explicado pelo fato de as pessoas passarem mais tempo, fora de casa, e os gatos não se importarem de ficar sozinhos. No caso de apartamentos, por exemplo, como os tamanhos são reduzidos, os felinos não têm problemas com espaço, e não incomodam vizinhos, além de serem alegres e brincalhões.

 

 

 

Quando seria a época correta do início do trabalho de socialização dos gatinhos?

 

A socialização dos felinos deve ser realizada logo nas primeiras semanas de vida, e deve incluir pessoas de diversas idades, animais e determinados objetos. Gatos que não têm essa socialização podem se tornar o que chamamos de “gatos ferais”, ou seja, agressivos, arredios e de difícil convivência. A educação do gato em seu novo ambiente deve começar logo na sua chegada. Esses animais são extremamente metódicos, e não gostam muito de mudanças, então é interessante demarcar territórios específicos para alimentação, descanso e eliminação (caixa sanitária). Eles adoram observar o ambiente por cima. São animais que adoram altura, e, por isso, na casa, deve haver um local específico para que ele possa fazer essa observação, evitando, assim, que comece a subir em estantes, armários, provocando acidentes com objetos. Outra característica dos gatos é que eles adoram se esconder em locais escuros e apertados, então um novo ambiente deve ter um local ou objeto que possa proporcionar isso a eles.

 

 

 

Que tipos de alimentos devem ser oferecidos aos felinos? O leite é importante enquanto filhotes?

 

A lactação ou amamentação dos gatinhos pode durar de 60 a 70 dias após o nascimento. Depois desse período, é interessante adicionar, em sua dieta, um alimento comercial e balanceado que possa suprir todas as necessidades energéticas em cada fase de vida. Hoje, o mercado de alimentos para animais de estimação tem produtos para as várias fases de vida (filhote, adulto e senil), além de oferecer alimentos específicos para raças e animais castrados (esterilizados) ou inteiros. Não é contraindicado o oferecimento de leite aos gatos, porém, pela diferença de composição entre o leite de gatas e vacas, ele não deve ser a única fonte de alimento, já que possui determinadas deficiências nutricionais que podem comprometer o desenvolvimento e o funcionamento do organismo do gato. É importante também acostumar o felino, desde filhote, a vários sabores (carne bovina, frango e peixes) e textura (seco e úmido) de alimentos, assim, caso seja necessária uma mudança de hábito, a transição não é tão traumática.

 

 

 

E as raças? O que deve observar uma pessoa que quer adotar ou comprar um gatinho?

 

Hoje, são conhecidas aproximadamente 70 raças de felinos no mundo. Algumas são reconhecidas pelas maiores associações de felinófilos (criadores e apreciadores de felinos), e outras em fase de reconhecimento; cada uma com características físicas e comportamentais diferentes. Por exemplo: para aqueles que gostam de gatos tranquilos, temos persas, himalaias e exóticos, que são raças tranquilas que vocalizam pouco, porém as duas primeiras requerem cuidados especiais com a pelagem, já que possuem pelo longo. Para os que gostam de gatos ativos e brincalhões, sugerimos abissínio, balinês, maine coon e floresta norueguesa (também chamado de bosque da Noruega). Para quem gosta de gatos gigantes, indicamos bengal, maine coon, floresta norueguesa, savannnah e ragdoll, que são felinos que têm entre sete e 13 quilos. Independente se de raça ou não, os felinos têm ótima interação com os proprietários, são brincalhões e inteligentes. Quem vai adotar (ou comprar) um gatinho deve ter em mente que os felinos, atualmente, têm uma expectativa de vida de 21 anos, e que amor, carinho e dedicação, durante toda a vida do animal, devem ser iguais, independentemente da chegada ou não de novos membros da família (como filhos) ou da mudança de ambiente (de apartamento para casa). Então, a guarda responsável de dar amor, cuidar da alimentação, visitas ao veterinário é de exclusividade da pessoa que é proprietária.

 

 

 

É possível uma convivência harmoniosa entre cães e felinos domésticos?

 

Cães e gatos podem viver perfeitamente bem, desde que uma espécie tenha sido acostumada à outra.

 

 

 

E quais seriam os segredos para uma boa convivência com os felinos?

 

Os animais, felinos ou não, gostam de quem cuida deles. Então amor, carinho, brincadeiras, afagos e respeito são fundamentais para o estabelecimento de uma excelente convivência entre felinos e humanos.

 

 

Fonte: O Hoje