Opção por alunos com mesma idade

Rede municipal trabalha com matrícula por idade e trata defasagem no decorrer do ano letivo

 

Cleomar Almeida 09 de junho de 2014 (segunda-feira)

 

A diretora de administração educacional da Secretaria Municipal de Educação (SME) de Goiânia, Clarislene Domingos, disse que a taxa de distorção entre idade e série da rede pública municipal de ensino na capital varia entre 1,5% e 1,8% nos últimos sete anos. Nas escolas ligadas à SME a matrícula é baseada na idade e a defasagem de aprendizagem é corrigida no decorrer do ano, segundo ela. “A nossa rede prioriza o atendimento pela idade”, afirmou.

 

Em uma sala de aula, uma criança se sente muito melhor com outras da mesma idade, mesmo se tiver menos conhecimento que as demais, na avaliação da diretora. “Uma criança que tem nível de aprendizagem menor se espelha na que tem mais conhecimento”, pontuou Clarislene. Ela disse que o aluno com mais dificuldade de aprendizagem recebe aulas complementares de acompanhamento escolar, forAua do período destinado ao cumprimento da matriz curricular tradicional. A mesma estratégia é adotada pela Secretaria Estadual de Educação (SEE).

 

A migração de famílias para o Centro-Oeste, que tem se intensificado principalmente para Goiânia e Brasília, é um dos fatores que dificultam a SME a zerar o índice de distorção entre idade e série ideal, conforme a representante da secretaria. “Muitas crianças chegam aqui a partir de Estados que ainda não conseguiram avançar completamente na educação, e, mesmo assim, nosso papel é garantir educação para ela”, observou.

 

Já as escolas particulares em Goiás apresentaram índice médio de distorção de 6%, no ano passado, nas três fases do ensino básico. A taxa menor que a de escolas públicas e, na avaliação do presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro-GO), Allan Francisco de Carvalho, reflete o perfil de alunos selecionados pelas instituições. “Sabemos que em Goiânia existem escolas particulares que não aceitam alunos com defasagem entre idade e série”, disse o professor. “Mas isso é inconstitucional, porque a educação de qualidade deve ser garantida sem distinção”, criticou ele.

 

O presidente do Sinpro-GO acredita que o baixo índice de distorção nas escolas particulares deve ser relacionado com o “poder econômico da família dos alunos.” “Alunos de escolas particulares podem pagar mais aulas e têm mais recursos para estudar”, observou Carvalho, para emendar que algumas delas não aceitam a distorção para manter em alta a avaliação nos indicadores de educação.

 

Estratégias para manter os alunos na sala de aula

 

Pesquisadoras da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG) alertam para a necessidade de implementar estratégias que façam o aluno permanecer nos estudos. Para elas, a distorção entre idade e série ideal mostra a carência de investimentos principalmente no ensino médio, etapa que mais registra alunos com necessidade de conciliar trabalho e estudo.

 

Com histórico de atuação na área de políticas educacionais, a professora Denise Silva Araújo entende que o modelo de educação é “autoritário e meritocrático.” “O aluno estuda apenas para fazer prova e passar de ano”, disse ela. “Muitos alunos saem da escola porque não veem perspectivas de fazer um curso superior”, acrescentou, ponderando que principalmente os que trabalham sentem-se incapazes de concorrer a uma vaga numa instituição pública de ensino.

 

Coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da UFG, Amone Inácia Alves destacou que, cada vez mais, os jovens são obrigados a conciliar estudo e trabalho. “Mas as políticas geralmente desconsideram os jovens como protagonista do processo de ensino-aprendizagem e a realidade deles”, criticou. “É preciso criar alternativas que reconheçam esta rotina dos estudantes, em vez apenas de traçar estratégias para conseguir bons índices em sistemas de avaliação.”

 

Fonte: O Popular

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