Bolero rock and roll à brasileira

Filipe Catto faz sua primeira apresentação em Goiânia esta noite, no Música no Câmpus, com show da turnê Entre Cabelos, Olhos e Furacões

Taynara Borges 10 de junho de 2014 (terça-feira)

 

Depois de cobrar, no ano passado, um convite para se apresentar em Goiânia, durante sua passagem pela cidade de Goiás, o cantor Filipe Catto finalmente traz para a capital a turnê de Entre Cabelos, Olhos e Furacões, show de seu último trabalho, lançado em 2013. Sua primeira apresentação na cidade será esta noite dentro do projeto Música no Câmpus, uma iniciativa da UFG em parceria com o Sesc, no Centro de Cultura e Eventos da UFG.

 

Filipe traz à capital a mesma turnê que apresentou em Goiás, mas afirma que o show está completamente diferente do que fez durante o Festival de Artes de Goiás, em setembro, convidado pelo Instituto Federal de Goiás. “Muita coisa muda. Já vai ter uma outra cara, sem dúvida nenhuma.”

 

Contratenor, assim como Ney Matogrosso, ele canta com a visceralidade de quem sofre a dor de um coração partido, como se o palco fosse o lugar para extravasar seus sentimentos, verdadeiro e intenso. No currículo, Filipe traz dois discos e o primeiro EP, Saga, de 2009, cuja música título integrou a trilha sonora da novela Cordel Encantando, da Rede Globo, sem nem mesmo que o cantor soubesse previamente, numa passagem que abriu as portas de sua carreira para o grande púbico. Hoje, ele se tornou uma das maiores revelações da música popular brasileira.

 

Em seu repertório, Filipe faz um passeio entre o samba e o bolero, com uma boa pitada de rock e outra de romantismo, cantando músicas suas e de seus ídolos. Hoje ele vem de uma curta temporada de três shows no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, em que cantou apenas músicas de Cássia Eller, sua maior influência. O projeto é recente e o cantor ainda não sabe se resultará em turnê ou se ficará por ali mesmo. Mas as músicas da cantora integrarão o setlist de sua apresentação em Goiânia.

 

Sobre esse novo projeto, a preparação de novos trabalhos e seu atual processo de composição, Filipe conversou com o POPULAR (leia abaixo). O cantor, que se encantou com o Estado em sua passagem por aqui em 2013 e até optou por Pirenópolis para passar o réveillon, diz que há muito aguardava o convite para se apresentar em Goiânia e que ficou encantado com a energia do público goiano.

 

Show: Filipe Catto

 

Data: Hoje, às 20h30

 

Local: Centro de Cultura e Eventos da UFG - Câmpus Samambaia

 

Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)

 

Informações: 3521-1035

Entrevista/Filipe Catto

“Meu compositor serve ao meu intérprete”

10 de junho de 2014 (terça-feira)

 

Finalmente em Goiânia... Em Goiás, você disse que aguardava muito um convite para cantar aqui. Como aconteceu?

 

O pessoal da organização do Música no Câmpus já estava analisando colocar meu show no projeto há um tempo. E daí, depois do show na cidade de Goiás, os contatos se abriram. E quando o convite veio, achei muito bacana. Eu esperava muito me apresentar em Goiânia.

 

E o show será o mesmo que você fez em Goiás? Mudou alguma coisa?

 

Muita coisa muda. Já se passaram nove meses, né... Eu não consigo deixar o show exatamente igual. Têm muitas músicas novas que entram, outras saem... Já vai ter uma outra cara, sem dúvida nenhuma.

 

Uma das músicas que entraram foi Depois de Amanhã, sua parceria com o Moska, não é isso?! Como se deu essa parceria?

 

Conheci o Moska quando fizemos o DVD Eles Por Eles. E foi super legal porque a gente se deu mega bem. Depois, participei do Zoombido, o programa dele no Canal Brasil. E, conversando sobre música, ele me contou que é super matemático, que tem uma simetria na composição. Eu contava como não conseguia fazer isso. Um dia eu estava fazendo uma música e tinha escrito uma letra que era totalmente simétrica e eu não conseguia encaixar na melodia que eu tinha feito. Aí me lembrei do Moska, que era o único que poderia fazer alguma coisa legal com aquilo. E era uma letra super triste, melancólica. Eu estava esperando uma música com esse tom. Mas não foi o que aconteceu. Quando ele me mostrou, fiquei muito surpreso. Ele interpretou de uma forma muito inteligente. Fiquei muito feliz. E já virou hit, todos cantam no show.

 

E o Filipe Catto Canta Cássia Eller? Esse é um projeto seu? Te propuseram fazer? Por que Cássia Eller?

 

Esse projeto nasceu em 2011, quando fui a Brasília e fiz uma série de shows ao lado de outros cantores masculinos cantando Cássia. Eu tenho uma relação com o trabalho da Cássia muito profunda. As músicas delas me formaram como intérprete. Ela é uma das referências mais fortes no meu trabalho, mas, curiosamente, não é uma referência óbvia. Apesar de ser muito pesada, as pessoas não associam tanto a mim. E é muito mais forte do que as comparações que as pessoas fazem levianamente sem saber que não tem nada a ver com a minha real referência. E daí o Sesc fez um convite de fazer um show interpretando algum outro repertório, e resolvemos fazer a Cássia, até porque não tinha como ser diferente.

 

E como foi escolha de repertório?

 

Foi difícil, porque tem muita música boa. O que priorizei foram as músicas que eu gostava de cantar, que eu sei que ficariam boas comigo cantando e que tivessem a ver com o meu estilo. Acho que ficou legal.

 

E ainda teve a participação da Lan Lan... Como foi isso de resgatar uma de suas maiores influências tocando ao lado de uma das pessoas mais presentas na vida da Cássia?!

 

A Lan Lan é uma grande instrumentista. Quando ela sobe no palco, a gente percebe que o buraco é mais embaixo... (risos) E, ao mesmo tempo, ela é muito generosa, e muito moleca, tranquila, disponível. E ela traz toda a força, o poder da percussão, e se adapta às nossas brincadeiras. Mas eu prefiro nem pensar muito, porque é muito emocionante. Quando eu olho para o lado e vejo ela tocando comigo... e ainda aquele repertório que me fez ser cantor... é muito emocionante.

 

E você pretende sair com este show em turnê?

 

Fiz o projeto para esses três shows. Não quero prometer nada. Esse é um projeto gostoso de fazer, mas meu trabalho é minha prioridade sempre, é claro. Para mim, ele é como o Eviscerados, meu show com a Cida Moreira, que voltaremos a fazer em São Paulo. É algo que me dá prazer de fazer.

 

E sobre o seu trabalho autoral... A composição é um pretexto para que você cante ou você canta para extravasar suas composições? Como isso funciona em você? O que é mais forte?

 

Eu componho para eu cantar. Eu componho o que eu estou precisando cantar. Eu não canto porque componho, eu componho porque canto. Às vezes, tem umas músicas que expressam exatamente o que eu estou querendo dizer, então não vou compor algo parecido com aquilo, mas em outras vezes não tem nenhuma. Então eu sinto uma necessidade muito grande de fazer. O meu compositor serve ao meu intérprete, e estou respeitando isso cada vez mais. Sou intérprete das minhas músicas.

 

O amor não correspondido e a visceralidade da paixão são temas norteadores do seu trabalho até hoje, tanto nas suas composições quanto nas suas interpretações. A música é seu lugar de extravasar tudo isso?

 

A música é o lugar onde me expresso completamente. Essa parte do repertório diz respeito a um momento da minha vida. Mas acho que é muito pouco. Fazer só isso não me satisfaz. Por exemplo, agora já entrou Depois de Amanhã, que é intensa mas totalmente para cima. Estou em um momento que estou precisando sair dessa minha zona de conforto. Porque é muito fácil, para mim, ficar cantando só isso. E eu não estou a fim. Quando gravei Saga, era o momento que eu estava vivendo. Mas agora não é mais. Acho que a minha missão com a música, o meu chamado é maior do que os motivos e os gêneros. Eu odeio gênero. Música é música. Boa ou ruim. E só.

 

Até porque você vai do rock ao bolero num mesmo repertório numa boa...

 

Sou um artista muito entregue. O palco é um lugar fantástico. Eu preciso me jogar loucamente naquele lugar, se não não vale a pena. Porque, para mim, não é um exercício de vaidade. É meio brutal estar lá. É muita energia... Me dou muito. Saio do palco zerado. Essa visceralidade é muito forte. É a visceralidade do sambista, a visceralidade do clube dos 27... Tem uma coisa da inquietação, uma loucura que está também no bolero, no samba... O rock é um comportamento, um posicionamento diante das coisas. Acho que esse é o meu lugar de rock. Meu rock é esse. Então, isso me liberta. Eu posso usar essa energia do rock em qualquer música. Eu posso cantar Maysa com essa energia. Aliás, Maysa tinha muito essa energia. Ela era uma cantora de fossa com a energia do rock.

 

Agora está completando um ano do lançamento do DVD. O que esse ano mudou na sua carreira?

 

Fiquei muito feliz com esse DVD. Muito orgulhoso. Acho que ele foi muito bem feito, o som foi muito bem gravado, o repertório... Está tudo de primeira. Gosto de assistir. Para mim, um presente é assistir e gostar. Porque é o meu legado, né. Eu tenho de assinar embaixo. Sinto muito orgulho dos meus discos. Tem muita integridade. Mas sinto que muita coisa mudou. Quando lancei Fôlego, o público conhecia as músicas e não ligava o nome à pessoa. E como o DVD é um trabalho de imagem, depois que eu lancei, as pessoas passaram a me parar no supermercado. As pessoas passaram a saber quem eu sou. E acho isso legal, porque agora, como isso já aconteceu, vou poder dar um passo diferente.

 

E você já pensa em um novo trabalho autoral? Ainda está cedo? …

 

Estou pensando, sim. Estou compondo e esse projeto já está começando a existir. Ainda não tenho nada fechado. Data nem nada. Estou num processo de criação mais amplo. Estou gostando muito disso, de não estar preso, só estar tocando e cantando. Para mim, é a melhor coisa do mundo. Com certeza vou lançar um disco de inéditas no ano que vem. Mas não dá para adiantar nada ainda. 

Fonte: O Popular

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