Disputa entre liberal e linha dura

Negociar ou não com as Farc é o grande diferencial entre candidatos no segundo turno à Presidência

A Colômbia vive o impasse da escolha. O segundo turno das eleições se realizam hoje, com Juan Manuel Santos e Óscar Iván Zuluaga chegando às urnas empatados. Ninguém sabe quem será o próximo presidente. O que se sabe é que a disputa está marcada pelo posicionamento dos dois candidatos sobre como desarmar e acabar com os grupos de guerrilha no país, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Santos aposta no diálogo, como já vem sendo feito com as Farc desde outubro de 2012, e Zuluaga, mais linha dura, ligado a setores da ultradireita, amaciou o discurso nos últimos dias, mas prega uma aniquilação dos guerrilheiros à base da força e da violência.

De acordo com o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás, João Henrique Ribeiro Roriz, o melhor para a Colômbia é um processo de paz negociado. “A sociedade colombiana já sofreu 50 anos de uma guerra que tem pouca adesão da população civil, que está cansada dessa violência.”

O problema é que uma parte considerável da nação colombiana não aceita o que Santos pretende fazer nesse processo de negociações pacíficas com as Farc. Além disso, no início da semana, o governo anunciou que também vai dialogar com o ELN. O documento intitulado Acordo Geral para o Fim do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura aborda temas como “política de desenvolvimento agrário integral, participação política, fim do conflito e solução ao problema das drogas ilícitas.” Muitos temem a participação dos líderes guerrilheiros no processo político do país.

Por outro lado, outra parte da nação não quer de novo um governo que se pauta pelo discurso de ultradireita como foi o do apoiador de Zuluaga, Álvaro Uribe (2002-2010), responsável pelo mar de sangue que se abateu sobre o país contra as guerrilhas, oprimindo por tabela grupos de pressão e camponeses, sem resolver o problema da distribuição de renda, nem acabar com o narcotráfico.

Cocaína

A Colômbia ainda é o maior produtor mundial de cocaína. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2011 foram produzidas 345 toneladas da droga em solo colombiano, que possui 64 mil hectares de lavouras da folha de coca. As Farc e o ELN são acusados de fazer parte dessa engrenagem, fomentando o crime organizado. “É por isso que há quem tenha medo das Farc e por tabela rejeite mais um governo de Santos. Mas há também os que têm medo do pupilo de Uribe”, diz o professor.

Essas desconfianças se refletiram na baixa participação política da população, cuja abstenção no primeiro turno alcançou 60%.

Diferenças

Juan Manuel Santos não é de esquerda. É um neoliberal assumido, filho de uma tradicional família colombiana, estudou nos EUA e na Europa. Assim como Óscar Iván Zuluaga, é economista e esteve no governo de Álvaro Uribe como ministro da Defesa. Depois se afastou do governo de Uribe, fundou o Partido Social de Unidad Nacional (Partido de la U) e em 2010 foi eleito presidente. “Por causa disso, Uribe o chama de traidor”, diz o professor da UFG.

Já Zuluaga foi ministro da Fazenda de Uribe e continua sob suas asas políticas. Segundo Roriz, essa aproximação de perfis dos dois candidatos pode ser vista no plano da política econômica. “Por isso mesmo ninguém espera grandes mudanças na trajetória da economia do país com qualquer que seja o vencedor. Mas na política externa e no projeto de pôr fim às guerrilhas, as diferenças são brutais entre os dois.”

Na avaliação de Roriz, Santos é mais hábil na arte de fazer política do que Uribe e Zuluaga juntos. Embora o atual presidente colombiano não seja de esquerda, articula com a esquerda de maneira mais estratégica.

“A política externa mudou desde que Santos assumiu o poder. Aproximou-se mais da Venezuela, de Chávez, de Cuba, de Raúl Castro, e do Equador, de Rafael Corrêa, e fez isso sem se distanciar dos EUA e da União Europeia. Mas ainda tem de resolver questões internas com as das Farc.”

Ou seja, o diálogo com as Farc ainda faz parte de uma vontade política. A paz ainda não está garantida. “Mas nunca se avançou tanto nesse processo nos últimos 30 anos”, diz o professor, que argumenta que, se Zuluaga vencer, a Colômbia terá um retrocesso no processo de paz.

“Nos últimos anos houve uma ofensiva muito grande com relação aos rebeldes. Eles estão acuados, e saberemos se o fim disso será através de um banho de sangue ou de negociação.” Segundo ele, esta talvez seja a eleição mais importante da Colômbia nas últimas décadas.

Fonte: O Popular

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