Goianos também somam à indignação nacional

17 de junho de 2014. (Terça-feira)

 

Diário da Manhã

Helton Lenine

Goiás participou ativamente das manifestações de rua, desde junho do ano passado. A maior participação aconteceu em 20 de junho, quando uma multidão saiu às ruas de Goiânia para protestar, com concentração da Praça do Bandeirante, no Centro da cidade. Organizadores do movimento estimam que mais de 50 mil pessoas saíram às ruas para protestar. Conforme a Polícia Militar, cerca de 20 mil pessoas participaram do movimento, apesar deste número ser considerado muito superior, também pelo público que participou.

Depois de ocuparem os arredores da Praça Cívica, um grupo marchou em direção à Assembleia Legislativa, no Bosque dos Buritis. No local, manifestantes mais radicais jogaram rojões contra o prédio público, sendo contidos pelo Batalhão de Choque da PM. Além disso, um homem foi detido após agredir um dos policiais que faziam o cordão humano de segurança na Praça Cívica. Com gritos de protesto e com vários cartazes, milhares de pessoas tomaram as principais ruas da região central da cidade.

A insatisfação das pessoas que foram às ruas, em Goiânia, começou com o reajuste do valor da passagem do transporte coletivo, que passou de R$ 2,70 para R$ 3, mas logo se estendeu por outras esferas da gestão pública municipal, estadual e até federal, passando inclusive pelos altos investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo.

Durante o ano que passou, as manifestações ocorreram em outras cidades do Estado, com a população saindo às ruas para protestarem contra diversas questões nacionais, estaduais e municipais, principalmente em relação ao transporte coletivo.

ERA PREVISÍVEL

Para o professor de Ciência Política da UFG, Pedro Célio Borges, era previsível a retomada das manifestações de rua, com a chegada da Copa do Mundo e a aproximação das eleições de 5 de outubro. “Agora, uma certa dose de imponderável entra na paisagem social, com visível senso de oportunidade dos grupos manifestantes. Creio que em dois níveis as preocupações serão mais intensas: para a população que utiliza rotineiramente os serviços urbanos e viverão transtornos sérios. E também para o governos, pois ainda não conhecemos o potencial de irradiação e descontrole das ações vão se suceder.”

Questionado sobre a participação dos black blocs nos protestos de rua, com prática de violência, Pedro Célio diz que tudo está indicando que a oportunidade política dos que vão protestar, inclusive com previsão de radicalizações e confrontos, no caso dos black blocs, pode trazer efeitos contrários às reivindicações populares, “com significados reacionários.” E acrescentou: “Eu cito aqui a depredação de vários ônibus no Terminal Praça da Bíblia, com a queima de ônibus. No meu ponto de vista, essas ações jogam contra a legitimidade original das reivindicações. Afasta adesões e reforça opinião pública contrária. O veículo do transporte público, virando alvo, revela incompreensão e a tática é absolutamente antipopular. Sem contar que a Assembleia Legislativa aprovou o passe livre aos estudantes para a região metropolitana, que foi o objeto gerador dos protestos de ruas de 2013.”

A uma pergunta se a presidente Dilma Rousseff (PT) está cumprindo o que prometeu, logo após as manifestações de junho do ano passado, o cientista político Pedro Célio Borges afirma que alguns pontos, a presidente vai correspondendo. “O Programa Mais Médicos, com todos os problemas de implementação e enfrentamentos corporativos que suscitou, vai de encontro a necessidades de áreas extensas da população. O transporte público ficou atrelado aos governos locais e às exigências de infraestrutura nas maiores cidades para a Copa do Mundo, o que ficará em débito. De positivo, há também o fato de que um tema central à reforma política entrou na pauta, o de acabar com o financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas. Na Educação, alguns programas muito importantes (e polêmicos) que já vinham de antes, são incrementados. Cito de positivo o Sisu (final dos vestibulares nas universidades federais) que pode fazer frente à mercantilização do ensino, ainda que parcialmente.

Tudo isso é da política, isto é, nada é garantido de antemão. Mas trata-se de enxergar e reconhecer as iniciativas em andamento.”

Fonte: Diário da Manhã

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