Ainda à espera de melhorias

Um ano após os protestos que mobilizaram o País, mudanças provocadas por manifestações são tímidas

20 de junho de 2014

 

Avenida 85 é tomada por manifestantes em protesto

Há um ano, nesta mesma data, as ruas do Centro de Goiânia foram tomadas pelo maior público presente em um protesto no Estado, desde que a jornada de manifestações teve início no ano passado. Algo em torno de 60 mil pessoas saíram para protestar - a maioria vestida de branco - por causas diversas, que iam da melhoria do transporte coletivo ao fim da corrupção. Um ano depois, em plena realização da Copa do Mundo, que foi alvo da campanha #NãoVaiTerCopa, o que observa sociólogos é que o legado das manifestações foi mais simbólico e de mudança de conscientização do que verdadeiramente prático. Apenas parte das reivindicações, e uma parte pequena, foi atendida desde então.

O transporte público foi a pauta que motivou o início das manifestações, principalmente em Goiânia, que divide com Porto Alegre (RS) a condição de ter sediado os primeiros protestos do País. Mobilização semelhante a de 20 de junho não voltou a se repetir na capital. As manifestações continuaram esporádicas, com público menor e, sobretudo, voltadas para a questão do transporte, que ainda não se revolveu por completo. A tarifa do ônibus foi mantida, inicialmente, em R$ 2,70, sofreu aumento este ano para R$ 2,80, o Passe Livre Estudantil foi implantado pelo governo estadual, mas as melhorias do serviço, apesar de prometidas, não aconteceram.

O governo federal foi o primeiro a se manifestar abertamente, diante dos protestos recorrentes no País, e a presidente Dilma Rousseff (PT) estabeleceu cinco pactos para atender reivindicações nas áreas de mobilidade urbana, reforma política, educação, responsabilidade fiscal e saúde. Apenas um deles se efetivou por completo, até então, que foi o da saúde, com a implantação do Programa Mais Médicos, que já vinha sendo planejado antes mesmo das manifestações. Os demais ou foram realizados parcialmente ou esbarraram em questões burocráticas que inviabilizam a efetivação deles em tempo hábil, como é o caso da reforma política.

Sociólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ricardo Barbosa de Lima pontua que muitas das reivindicações feitas no protesto de 20 de junho são temas nacionais e que, portanto, não são resolvidas da noite para o dia. “O que não foi atendido não é problema da jornada de protestos, mas do tempo de resposta da institucionalidade brasileira”, enfatiza ele, explicando que não dá para aferir o sucesso das manifestações a partir de uma análise quantitativa. A representatividade do que ocorreu no ano passado vai muito além, já que o “processo de politização e mobilização não tem correlação direta com o total de conquistas dos movimentos”, afirma.

Para Ricardo, as manifestações não inventam mentalidades, mas expressam e evidenciam uma indignação natural que existe e que, até então, estava em silêncio. “Uma coisa é certa: mudou-se a pauta das eleições. Entrou para a arena política e as eleições deste ano serão o principal termômetro dessa mudança de consciência”, acredita. Apesar do aparente esfriamento dos ânimos e da mobilização restrita a alguns segmentos da sociedade, nada garante que o “gigante” não voltará a acordar como em junho de 2013. Em linhas gerais: vai depender das ações dos próximos governantes, porque a revolta não deixou de existir. “Pode ser que já no ano que vem revivamos tudo de novo e o povo volte para as ruas”, aposta o sociólogo.

Fonte: O Popular

Categorias: clipping