Católicos compõem maior parte do eleitorado goiano

29 de junho de 2014.

 

Apesar de Goiás ter mais evangélicos, institutos de pesquisa apontam que mais de 56% dos eleitores goianos são de religião católica. Especialistas acreditam que pode haver influência religiosa na escolha do candidato

 

DIÁRIO DA MANHÃ

DANYLA MARTINS

 

Religião e política construíram, com a inserção dos políticos, laços interligados, principalmente no que se refere a discussões sobre a interferência de ambos no desenvolvimento social. Tanto o papel da política quanto o da religião são pautas constantes da sociedade que não destoam dos seus poderes em segmentar e agregar seu público. Torna-se comum a presença de líderes religiosos nos cenários políticos, cujo ambiente estabelece conversas e debates, às vezes conflitantes.

Tal movimentação social insere nas esferas religiosas e políticas posicionamentos sobre temas, muitas vezes polêmicos. A categoria política goiana conta com diversos exemplos de religiosos que também exercem papel na vida pública. A religião ainda se encontra em uma relação delicada com a política, porém o cenário político permite gradativamente uma aproximação entre as duas vertentes.

Contudo, o eleitorado também está incluso nas perspectivas políticas, mesmo que a relação religiosa possa não interfira, diretamente, em sua escolha na hora do voto. No âmbito nacional, os que se declaram católicos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, contabilizam 64% e 22% representam os evangélicos, sendo as outras religiões menos de 6% (matriz africana, indígena, oriental, judaica, muçulmana, entre outros).

Considerando a região centro-oeste, baseada na mesma estatística do IBGE, Goiás conta com 42% de católicos, 45% de evangélicos. Entre os três estados, os goianos são mais adeptos do espiritismo com cerca de 46% e 29% aderem a prática do candomblé. 45% dos ateus da região Centro-Oeste são goianos.

Além das pesquisas de intenções de votos, os institutos também estabelecem critérios da religião como embasamento do eleitorado participante. Desta forma é possível identificar, pela amostra da pesquisa, qual seria o maior eleitorado de Goiás por religião. O Instituto Grupom, em pesquisa encomendada pelo Tribuna do Planalto, divulgou uma pesquisa de intenção de votos em janeiro deste ano referente a região de Anápolis. Dentro desta demanda 58,6% do eleitorado corresponde aos católicos, 34,3% aos evangélicos e 1,3% aos espíritas. Porcentagem superior aos espíritas, 5,8% do eleitorado desta região não possuem religião.

Com abrangência em todas as regiões do Estado de Goiás, a pesquisa Grupom (Registro/TSE: BR-00177/2014 e registro/TRE-GO: GO-00041/2014) deste mês também aponta o maior eleitorado composto por católicos, sendo 56,5%. Os evangélicos representam 31,2% dos eleitores goianos, os espíritas somam 3,5% e os que não são adeptos de nenhuma religião constituem 8,7%.

Divulgada na última semana, a pesquisa do Instituto Veritá (Registro/TSE:BR-00176/2014  e registro/TRE:GO-00040/2014) traz um cenário semelhante às demais pesquisas mencionadas quanto a religião do eleitorado. Da demanda consultada, 56,7% são católicos, 30,3% evangélicos, 3,3% espíritas. Referente a demais religiosidades, 1,3% compõe esse quadro e 8,3% declaram não possuir religião.

Interferência no eleitorado

Doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal de Goiás, Flávio Sofiati, explica que a história mostra que a relação entre igreja e política sempre foram intensas. No caso brasileiro, a Igreja Católica, ainda a maior instituição religiosa do país, esteve diretamente ligada ao Estado até o final do século XIX. Hoje, existe uma diversidade de instituições religiosas no país que tem gerado uma disputa significativa no mercado religioso.

De acordo com o sociólogo, a religião pode interferir na escolha do eleitorado por determinado político nos casos em que o político seja uma liderança religiosa ou respaldada pela instituição religiosa. Questionado sobre a que ponto a religião e a política são esferas semelhantes, Sofiati explica que são análogas no que diz respeito ao poder, visto que ambas atuam em esferas que, apesar de diferentes, articulam-se entre si.

Sofiati ainda acrescenta que o eleitorado tem discernimento que política e religião podem ser vertentes distintas, em contrapartida o eleitor religioso não. “Isso depende muito da formação do indivíduo”.

As pesquisas dos institutos mencionados apontam que os católicos são predominantemente a maior parcela do eleitorado goiano. Apesar de vivermos em um contexto de pluralismo religioso, o sociólogo salienta que há ainda elementos de predomínio do catolicismo na cultura nacional.

Quanto à igreja e à política, o sociólogo acrescenta que a relação é dialógica, pois tanto as igrejas buscam na política base para se sustentarem na sociedade quanto a política procura nas religiões novas bases de apoio. “Todos os grupos organizados na sociedade, sejam eles de caráter religioso, social, cultural, político, entre outros, têm direito de se relacionarem com a política”.

Sofiati ainda acrescenta que a democracia se constrói dessa maneira, com uma sociedade civil forte e atuante, mesmo que as relações atuais no Brasil seja uma tentativa de imposição dos grupos religiosos sobre temas que são de interesse de grupos não religiosos. “O Estado é laico, isto é, deve garantir o direito de todos e todas. As igrejas não contribuem com a democracia quanto praticam a intolerância e desrespeito com grupos não religiosos ou de denominações religiosas minoritárias”.

Para o mestre em Ciências da Religião e doutor em Psicologia, Claudomilson Fernandes Bragade fato, o eleitorado se influencia pelas denominações religiosas, desde que essa seja uma prática. No entanto, o mestre salienta que há nuances a serem analisadas ao afirmar que o eleitorado faça suas escolhas por determinação religiosa. Claudomilson Braga afirma que o candidato pode incorporar mais a religiosidade em processo eleitoral do que o próprio eleitorado.

Conforme explica o mestre, a política e a religião, nos processos os quais vivenciamos, se misturam. “Deixa-se o foco político e faz opção e faz-se a opção pelo ‘companheiro da fé’, se assim podemos denominar”. Claudomilson Braga ainda acrescenta que é interessante observar que tanto historicamente quanto a Constituição Federal importam o conceito de um Estado laico, ou seja, não deveriam se misturar.

De acordo com o mestre em Ciências da Religião, a maior influência, sobretudo, ocorre em maior parte entre os evangélicos, porém em Goiás a freqüência é menor. Para Claudomilson Braga, o fato de haver uma mistura desclassifica a importância do eleitorado em escolher um representante pelo projeto político, em detrimento das qualificações religiosas.

Doutor em Ciências da Religião, professor da PUC Goiás, Valmor da Silva afirma que a religião pode interferir na escolha de determinado candidato político. “Isso acontece porque existe uma relação muito estreita entre religião e política. O mesmo cidadão é religioso e político ao mesmo tempo, sem delimitar explicitamente os dois campos. Isso diz respeito, sobretudo, a questões éticas, que são ligadas tanto à política quanto à religião”.

Valmor da Silva ressalta que a religião e política são esferas semelhantes pois, ambas tocam, existencialmente, a vida das pessoas. Desta forma, conforme explica o doutor, não existe, do ponto de vista religioso, indivíduo ateu, em sentido absoluto, assim como também não existe, do ponto de vista político, indivíduo neutro ou indiferente. “Tudo o que a pessoa faz ou deixa de fazer tem consequência política efetiva. A omissão e a ignorância política, por sinal, são elementos muito explorados tradicionalmente na história do Brasil”.

Para o doutor em Ciências da Religião o eleitorado tem discernimento que política e religião são vertentes distintas, talvez, na teoria, mas, na prática as duas esferas com frequência se confundem. “Tradicionalmente a política brasileira teve um colorido católico e, embora Igreja e Estado fossem poderes distintos, normalmente os dois se confundiam nas diversas tomadas de decisões”.

Valmor da silva completa que mais recentemente, com a diversificação religiosa do país, as bancadas políticas adquiriram diferentes tonalidades religiosas. “É assim que se encontram bancadas com bandeiras diversas, tanto católicas quanto evangélicas. São ilustrativos, também, inúmeros casos públicos de verdadeiras “conversões” de políticos a determinadas igrejas, e vice versa, “conversões” de igrejas com seus líderes a determinados candidatos e partidos políticos”.

Fonte: Diário da Manhã

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