Terceira via pode ser a força extra de Iris Rezende
Terceira via pode ser a força extra de Iris Rezende
Cientistas políticos e lideranças avaliam que base governista rachada prejudica Marconi Perillo e beneficia, indiretamente, o peemedebista. Mas a alternativa à polarização encontra dificuldades para se concretizar
INÃ ZOÉ (14/03/2010)
São muitas as especulações em torno de uma terceira via, ou nova frente, encabeçada pelo PP do governador Alcides Rodrigues nas eleições estaduais, como alternativa política à polarização entre PMDB e PSDB. A discussão vem se arrastando há algum tempo, mas com a aproximação do prazo limite para a desincompatibilização, tem merecido mais atenção, e até certa pressão daqueles que defendem o projeto político. Em busca ainda de um nome forte que dê o mínimo de condições para entrar na disputa, o PP aposta em pesquisas quantitativas e qualitativas que apontem a melhor direção.
Os nomes cogitados, recentemente o do prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (PR), e do secretário de Segurança Pública, Ernesto Roller (PP), até o momento não têm tido respaldo do eleitorado goiano. Como observa o cientista político e pró-reitor de pesquisa da Uni-evangélica, Itami Campos, eles não repercutem em nível estadual. O governador, por outro lado, não esconde o desejo de que seu fiel escudeiro, o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, tenha seu nome apreciado para concorrer à vaga. Tanto que já estuda o afastamento de Braga da pasta de forma que esteja a total disposição do partido nas eleições.
Nos três anos de governo o secretário tem atacado direta e indiretamente as gestões do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), principalmente no que diz respeito a um suposto déficit deixado pelo pré-candidato tucano no valor de R$ 100 milhões mensais. Ele estaria reunindo documentos que comprovariam essa e outra série de irregularidades, a serem apresentadas na campanha. Com ou sem Braga, Vanderlan, Roller, ou outros nomes já cogitados ao longo do processo, caso a nova frente se concretize, há quem aposte que tenha força para desarticular a campanha de Marconi Perillo. “A candidatura da terceira via, como está sendo colocada, atrapalha a campanha de Marconi na medida em que racha a base aliada, que inclusive elegeu o atual governador”, avalia Campos.
O cientista político e professor da PUC-Goiás Wilson Ferreira Cunha defende a tese de que tanto o prefeito da Capital quanto o governador fazem parte de um projeto político nacional, arquitetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo maior seria eleger presidente a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), mas a derrota do PSDB em nível regional não fugiria da meta da aliança. “Não há diferença clara entre as duas frentes, caso haja um segundo turno, certamente estarão unidas.” Essa aliança PT-PMDB, lembra, é conhecida antes mesmo da eleição municipal de 2008.
Concordando com Cunha, a cientista política e professora do departamento de ciências sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG) Silvana Krause destaca, entretanto, que mesmo que as eleições no Estado reflitam as orientações nacionais dos partidos, não se pode desconsiderar as articulações feitas em nível regional. “A política em nível regional costuma falar mais alto”, pondera.
Papel do executivo
Dúvidas surgem quando se tenta mensurar o papel do governador na consolidação da frente governista, e sua influência nas eleições. Indiscutivelmente, a terceira via, ao contar com o apoio da máquina, oxigena suas chances no páreo, mas a transferência de voto, como Lula vem tentando fazer com Dilma, não é algo fácil de se alcançar. Mesmo com seu governo bem avaliado nas pesquisas, Alcides, diferente de Lula, não possui carisma elevado, nem mesmo demonstra com clareza o desejo de continuidade.
O candidato que tiver esses índices, analisa o cientista político Pedro Célio, já dispõe de grande força para iniciar negociações e fortalecer uma campanha eleitoral. “O fato é que há também inúmeros exemplos de que pesquisa não garante vitória em eleição.” Um conjugado de fatores precisa ser formado para confirmar e enriquecer a predisposição original. Capacidade de ampliar alianças, programa de governo compatível com demandas sociais e econômicas básicas, forma de uso da televisão e da propaganda, desempenho pessoal do candidato, etc. Como observa o cientista político Reginaldo Lima, “o governador é um bom político, mas não apresenta aquela vontade de partir para o debate, o que nesse momento é primordial.” O governador, segundo ele, tem tido cautela, por não ter ainda reunido os apoios que espera para a eleição. “Muitos prefeitos da base governistas se mostram indecisos, e há o temor de que nas convenções tendam para o lado de Marconi Perillo.”
Briga interna
Deputado federal e presidente do PR estadual, Sandro Mabel tem trabalhado para emplacar a candidatura do prefeito de Senador Canedo como o nome da opção palaciana para o governo do Estado. Segundo o parlamentar, Vanderlan Cardoso tem as atribuições que o PP e seus aliados buscam hoje para fazer frente ao PSDB nas eleições. “Ele é um político jovem, arrojado, competente e que tem feito uma ótima gestão na Prefeitura de Senador Canedo.” Segundo Mabel, com Vanderlan como candidato se formaria uma superfrente composta por PP, PR, PSB, PDT e possivelmente o DEM.
Apesar de seu partido ainda não ter se definido em nível regional, o senador Demóstenes Torres (DEM) acredita ser viável a proposta dessa alternativa política, principalmente por contar com o apoio do governo estadual. Ele, que já passou pela experiência de se lançar como candidato sem esse respaldo, disse que o suporte é fundamental e que o eleitorado goiano já mostrou disposição em apostar em um projeto novo. “Se Vanderlan apresentar um projeto diferenciado, gestado em propostas novas, não em repetições, e souber aproveitar este espaço, tem grande chance.”
Contrariando as sinalizações do governador e as pressões do Partido Republicano, o presidente de honra do PP e reitor da Uni-Anhanguera, Jovenny Cândido, acredita que o nome mais viável para a consolidação da terceira via é o do ex-prefeito de Rio Verde Paulo Roberto Cunha. “O nome não será nem o do Roller, nem o do Braga, nem mesmo do Vanderlan. Temos quadros importantes, não precisamos importar ninguém.”
No mar de indefinições, onde a nova frente corre contra o tempo para viabilizar um candidato e o prefeito Iris Rezende tem demonstrado indecisão quanto a sua candidatura, a chapa tucana ganha força. Mas como as alianças só se concretizam em junho, novas formatações podem impulsionar o quadro político atual apresentando cenários ainda pouco claros.