Aqui, casas. Lá, empregos!
Enquanto no cenário internacional, eleitores cobram melhor qualidade de vida e mais empregos. No Brasil, itens básicos como saúde, moradia e educação ainda são promessas de campanha
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O ano de 2012 será marcado por eleições nas principais nações do mundo. No primeiro semestre, o processo eleitoral aconteceu na Grécia, França, Rússia e Egito. Agora os olhares do mundo se voltam para os Estados Unidos, que estão prestes a escolher seu próximo presidente.
No Brasil, o pleito será municipal, mas nem por isso menos importante, já que o processo funciona como uma prévia para a disputa ao governo em 2014 e influencia, inclusive, na escolha presidencial.
No dia 7 de outubro, domingo, a população irá às urnas para escolher prefeitos e vereadores para todas as capitais e cidades brasileiras. Mas diante dos cenários mundial e nacional, quais seriam as diferenças e semelhanças entre o Brasil e as principais nações do planeta?
Maria Aparecida Skorupski, professora de Política Internacional da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO), avalia que a particularidade das campanhas eleitorais brasileiras é que elas não enfocam um projeto de sociedade.
Pelo contrário: dão lugar a uma “barganha imediata”, já que os candidatos sabem que a população carece do acesso aos direitos básicos como saúde, moradia e educação. A análise dela vai mais além.
Para ela, a campanha contra a venda de votos só faz sentido no Brasil porque o país tem uma demanda reprimida que o Estado ainda não conseguiu suprir. “O eleitor vai aproveitar o momento eleitoral para ver suas carências atendidas porque, em outras horas, ele não é ouvido. E isso significa o atraso do ponto de vista da democracia e da autonomia do cidadão”, ressalta.Barganha ainda vigora
Como as campanhas eleitorais brasileiras priorizam questões de infraestrutura básica que, aparentemente já foram resolvidas em países do primeiro mundo, cabe a pergunta: o comportamento eleitoral está relacionado ao grau de desenvolvimento econômico da nação?
Na opinião de Francisco Mata Machado Tavares, professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), a resposta é não.
“Apesar de os Estados Unidos serem um país notadamente desenvolvido, as eleições lá atendem frequentemente a prática de pequenas barganhas. Por outro lado, há países não tão desenvolvidos do ponto de vista econômico como a Argentina, em que as campanhas eleitorais são mais ideológicas e os cidadãos participam com um certo grau de compreensão de grandes questões sociais.”
Apesar de enfatizar que a barganha eleitoral acontece na grande maioria dos países, Tavares ressalta que essas práticas já estão deixando de existir em países desenvolvidos, mas ainda permanecem no Brasil.O eleitor tem o poder
Alguns exemplos citados por ele são o coronelismo, o clientelismo e a patronagem. “Essas situações em que a pessoa troca o voto por proteção, por favores, etc, só acontecem em regiões pouco desenvolvidas e muito especialmente nas regiões ainda não urbanizadas do Brasil. Elas, sim, têm correlação com o desenvolvimento econômico”, acrescenta.
Mas, então, como construir uma sociedade mais politizada onde as práticas que coíbem o desenvolvimento da democracia não tenham mais lugar?
Para Tavares, a resposta passa pela organização da sociedade civil em torno de causas coletivas. “Em uma sociedade com capital social, ou seja, pessoas que participam de atividades coletivas em um grau mais intenso, essa compra de votos tende a ser menos frequente”, defende ele.
Já a professora Maria Aparecida ressalta que o poder para colocar um basta nas práticas eleitorais antidemocráticas está nas mãos dos próprios eleitores. “Os políticos só vão sustentar esse processo de barganha eleitoral até o dia em que o eleitor se conscientizar do seu valor e do seu poder. O voto, aparentemente, é uma coisa simples, mas tem uma conotação de poder muito forte”, adverte.
Fuente: Tribuna do Planalto