O resultado da primeira fase do vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG) revela que a diferença entre as notas de cotistas e daqueles que concorrem pelo sistema universal não passa de 10% na maioria dos cursos. O desempenho dos candidatos inscritos na ampla concorrência supera 50% em somente 8 dos 144 cursos oferecidos no processo seletivo da instituição.
As notas dos aprovados mostram uma discrepância. Mas especialistas afirmam que essa diferença não reflete no desempenho do estudante na faculdade e reforça a necessidade das políticas afirmativas. As maiores diferenças aparecem nas graduações mais concorridas, que são alvos de cursinhos preparatórios.
MEDICINA
No curso de Medicina, o mais disputado no processo seletivo, os concorrentes inscritos para disputar vagas pelas cotas raciais foram aprovados com 15 pontos a menos que os candidatos do sistema universal. Os cotistas de escola pública passaram para a segunda fase com 10 pontos a menos (veja quadro).
Entre os cursos mais concorridos do certame, a maior diferença foi em Medicina Veterinária. Para ser aprovado, o candidato regular teve de fazer pelo menos 37 pontos. Já os concorrentes que se declararam pretos, pardos ou indígenas no momento da inscrição no vestibular passaram com 17 pontos. Os oriundos da escola pública foram aprovados com 27 pontos.
No curso de Engenharia Civil a nota de corte dos candidatos cotistas também é 20 pontos menor do que no sistema universal. Essa diferença é a mesma do curso noturno de Direito na capital. Para o curso de Direito matutino a distância é um pouco maior: 23 pontos.
RENDA
A baixa renda familiar e a cor da pele comprometem o desempenho no vestibular, revelam as estatísticas da primeira fase, divulgadas pelo Centro de Seleção da UFG. Em todos os cursos as menores notas de corte são de estudantes oriundos de famílias com renda menor que um salário mínimo e meio e que se declararam pretos, pardos ou indígenas quando se inscreveram no processo seletivo. “As cotas existem justamente para isso: corrigir uma desigualdade social”, afirma o presidente do Conselho Estadual de Educação, José Geraldo Santana.
A segunda etapa do vestibular será nos dias 3 e 4 de fevereiro. Os candidatos aprovados na primeira fase devem acessar o site do Centro de Seleção da UFG (http://www.vestibular.ufg.br) a partir da terça-feira para saber os locais de prova. O resultado final do Processo Seletivo está previsto para ser divulgado no dia 17 de março de 2013.
Garantia de acesso ao ensino
25 de janeiro de 2013 (sexta-feira)
Para especialistas, as diferenças entre as notas dos cotistas e de quem concorre pelo sistema universal não terá reflexos no desempenho universitário. Reforça ainda mais a necessidade das políticas que garantem acesso de parcelas da população historicamente marginalizadas e de baixa renda.
“O que se espera das universidades são novas metodologias, que partam do princípio de que têm alunos diferentes”, argumenta a diretora de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania do Ministério da Educação, Clélia Brandão. “As cotas não podem ser avaliadas fora do contexto histórico, da dívida com determinadas classes sociais”, completa.
Para o presidente do Conselho Estadual de Educação, José Geraldo Santana, o sistema de cotas aplica o princípio constitucional da isonomia. “Não podemos nos contentar com uma igualdade formal. Essa política é uma medida efetiva para a igualdade de condições”, diz.