Tratar um fumante, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é bem mais barato para os cofres públicos do que arcar com um paciente doente por causa do cigarro. E esse tratamento para parar de fumar já tem preço estimado: R$1,4 mil. O dado é apontado em um estudo desenvolvido entre 2011 e 2013 pelo Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde (IATS), assinado pelas pesquisadoras Andréa Cristina Rosa Mendes e Cristiana Maria Toscano, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Realizado em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e secretarias de Saúde do Estado de Goiás e do município de Goiânia, o estudo estimou custos e efetividade do Programa de Cessação de Tabagismo (PCT) implantado na capital pelo SUS, considerando o ano de 2010. Dos 803 goianienses atendidos, na época, pelo programa, 37,2% tiveram sucesso no processo terapêutico e deixaram de fumar - o índice, ou taxa de cessação, se refere à abstinência ao final da realização dotratamento, com duração aproximada de seis meses.
“O resultado da pesquisa foi positivo nos dois sentidos: tanto no que diz respeito a essa taxa de cessação quanto ao custo total do tratamento desses pacientes. Não há dúvida de que, em Goiânia, o PCT está muito bem estruturado”, afirma Andréa Mendes, mestre em Medicina Tropical e Saúde Pública e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Segundo ela, o índice de pacientes atendidos pelo PCT no município que deixaram de fumar é maior que o apontado pela literatura internacional, em que a taxa de cessação varia entre 13,3% e 19,7%, dependendo do medicamento utilizado no tratamento - na capital, dentre os pacientes que deixaram de fumar, 87,3% fez uso de apoio medicamentoso, sendo, a maioria, de adesivos de nicotina (73%).
PREVENÇÃO
De acordo com Andréa, os custos verificados pelo estudo, a partir do PCT desenvolvido em Goiânia, confirmam a ideia de que os investimentos em prevenção são mais valiosos do que os gastos com tratamento de doenças relacionadas ao hábito de fumar. A evidência científica fica ainda mais clara quando o custo da cessação - em média R$1,4 mil - é comparado aos custos estimados para tratar um caso de câncer em hospital público especializado no Brasil, em particular os cânceres sabidamente associados ao tabagismo: pulmão (R$ 29 mil), esôfago (R$ 33 mil) e laringe (R$ 38 mil), por paciente.
Quanto à taxa média de 31,5% de abandono do tratamento até a quarta sessão de abordagem cognitivo-comportamental - fase considerada decisiva no processo -, a pesquisadora diz estar dentro do esperado (35%).
Pesquisa de Goiânia supre lacuna sobre tema em todo o Brasil
(P.D.)07 de julho de 2014 (segunda-feira)
Doutora em Epidemiologia e pós-doutorada em Avaliação de Tecnologias em Saúde, a professora Cristiana Maria Toscano lembra que os resultados apresentados pela pesquisa realizada em Goiânia suprem uma lacuna de informação existente no País e têm aplicabilidade imediata. “Os achados referentes à efetividade da abordagem e do tratamento do tabagismo reforçam seu bom desempenho no âmbito da atenção primária no Sistema Único de Saúde, podendo incentivar sua ampliação”, avalia a pesquisadora. Além disso, diz ela, a estimativa e a análise dos custos do Programa de Cessação de Tabagismo (PCT) constituem subsídio relevante para apoiar a decisão de gestores quanto a sua implementação.
“O tabagismo é responsável por cerca de 6 milhões de mortes a cada ano no mundo, com significativo impacto econômico e social”, sublinha Cristiana Toscano, citando dados de 2013 da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Os resultados do estudo podem contribuir não só para a sustentabilidade do PCT, por meio da alocação eficiente de recursos, como também poderão orientar sua implementação e ampliação, resultando em redução da mortalidade causada pelo uso do tabaco e por melhor qualidade de vida para a população”, completa. De acordo com a especialista, o trabalho já foi apresentado, preliminarmente, em congressos nacionais e internacionais em 2012 e 2013 e abre a perspectiva de uma investigação semelhante no âmbito federal.
Goiânia foi um dos primeiros municípios a implantar o PCT, em 2005 - não por acaso foi escolhido como objeto de estudo das pesquisadoras da Universidade Federal de Goiás (UFG). No estudo, os custos da abordagem e tratamento do tabagismo foram estimados considerando uma amostra de unidades de saúde que desenvolvem o programa e extrapolados para o município como um todo. Estimou-se, também, o custo de gerenciamento do PCT, em itens médicos e não-médicos diretos: recursos humanos, medicamentos, material de consumo, despesas gerais, transporte, viagens, eventos e custos de capital.
“A perspectiva da análise foi a do SUS e os custos do PCT foram estimados considerando a sua ampliação para suprir a demanda dos fumantes do município motivados a deixar de fumar”, explica a pesquisadora Andréa Cristina Rosa Mendes. “Em Goiânia existe um total de 175.331 fumantes; destes, 35.232 estão motivados a parar de fumar e seriam usuários do SUS para o tratamento. Caso o município ampliasse o programa com vistas a alcançar toda esta demanda, o custo seria de R$ 20,2 milhões”, conclui. Os dados foram coletados junto às unidades, Secretarias de Saúde Municipal e Estadual e Ministério da Saúde para o ano de 2010.
Secretaria municipal oferece tratamento em 17 unidades de saúde
07 de julho de 2014 (segunda-feira)
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 17 unidades de referência com grupos terapêuticos da abordagem intensiva ao fumante mantêm ativo o Programa de Cessação de Tabagismo (PCT), distribuídos, pelas diferentes regiões da capital, em Centros de Saúde (CSs), Unidades de Atenção Básica Saúde da Família (UABSFs), Centros de Assistência Integral à Saúde (Cais), Centro Integrado de Assistência Médica à Saúde (Ciams) e Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (Craspi). Na Região Sul, por exemplo, oferecem atendimento o Ciams Pedro Ludovico e o CS Parque Amazônia; na Região Norte, o Ciams Urias Magalhães, as UABSFs Itatiaia e Vale dos Sonhos, e o CS Vila Clemente; e, na Região Leste, a UABSF Ville de France e os Cais Amendoeiras e Chácara do Governador.
Já moradores da Região Campinas/Centro que se interessarem pelo PCT oferecido pelo SUS, podem se dirigir ao CS Vila Canaã ou ao Craspi; na Região Oeste, à UABSF Bairro Goiá; na Região Noroeste, aos Cais Cândida de Morais e Finsocial e à UABSF Morada do Sol; e, na Região Sudoeste, mantêm o programa o CS Parque Anhanguera e o Ciams Novo Horizonte. “Basta procurar a unidade de saúde mais próxima da residência e fazer a inscrição. O nome do interessado será colocado em uma lista e, quando o grupo for formado, ele será convidado a participar”, explica a psicóloga Rose Barcelos, da Divisão de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da SMS.
ATENÇÃO ÀS RECAÍDAS
Segundo Rose, cada grupo conta, em média, com 15 pacientes, podendo chegar a 20. Desde 2005, quando os núcleos foram implantados em Goiânia, cerca de 300 grupos de tratamento foram formados e 7 mil fumantes dispostos a abandonar o vício passaram pelo atendimento. Ela afirma não dispor de números oficiais sobre a quantidade de pessoas que deixaram de fumar, mas aponta a pesquisa recém-divulgada – pelo estudo, 37,2% das pessoas tratadas conseguem manter abstinência seis meses.