Vacina da dengue chega ao Brasil
Data: 01/08/2016
Fonte/Veículo: Istoé
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Distribuição de 500 mil doses pela rede pública do Paraná servirá como laboratório para o País. Como isso vai mudar o combate à doença
As 30 cidades paranaenses receberão 500 mil doses da vacina. Entre elas estão Londrina, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu. Em 28 localidades, serão vacinadas pessoas entre 15 e 27 anos, faixa mais atingida pelo vírus localmente. Nos dois casos restantes, de Paranaguá e Assaí, porém, o quadro é tão calamitoso que as autoridades decidiram ministrar o medicamento dos 9 aos 44 anos, ou 60% da população. A estimativa dos governantes é que a campanha proteja, de maneira indireta, de 50 a 90% dos habitantes, já que a doença se alastra mais devagar caso o inseto tenha menos pessoas infectadas para picar. As três doses necessárias serão aplicadas agora e em fevereiro e agosto de 2017. O maior desafio será atrair jovens e adolescentes, mais refratários a aderir às campanhas de imunização coletiva.
Como o Brasil vem perdendo a batalha para o Aedes aegypti e os avanços no controle biológico do mosquito ainda dão os passos iniciais, a imunização pode ser a melhor saída para o País. Um estudo feito pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) descobriu que, em cinco anos, casos de dengue e mortes decorrentes poderiam cair 81% se fosse feita campanha via Sistema Único de Saúde (SUS) entre 9 e 40 anos. Para se ter uma ideia, se o remédio estivesse em circulação desde 2010, no ano passado o número de casos teria caído do recorde de 1,6 milhão para 300 mil. O de mortes, despencaria de 863 para 169 (veja quadro). A campanha paranaense botará à prova, na prática, essa perspectiva. “Sendo um projeto documentado, a experiência do Paraná será muito útil para o Brasil e para os outros países do mundo”, afirma Guillaume Leroy, vice-presidente mundial da Sanofi Pasteur, laboratório que desenvolveu a vacina.
Por enquanto, não há previsão para incorporar o medicamento no sistema público nacional. O primeiro entrave é a falta de conhecimento sobre seu funcionamento em larga escala. “Ainda não temos estudos suficientes”, diz o infectologista Marcos Boulos, chefe da Coordenadoria de Controle de Doenças do estado de São Paulo. “Vai ser avaliado, até o fim desse ano ou o começo do ano que vem, se essa vacina terá impacto. Aí poderemos decidir.” A segunda crítica é que, apesar de a imunização oferecer uma proteção semelhante à da gripe (66%), a eficácia contra o tipo 2 do vírus, que está crescendo no Brasil, é considerada baixa (47%). “A vacina vai fazer efeito justamente no ano em que o vírus contra o qual ela é menos eficiente vai atingir o ápice”, afirma Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses. “É uma nova arma, mas com sérias limitações”. O terceiro problema é de custo. Em maio, o então ministro de Saúde Agenor Álvares, da presidente afastada Dilma Rousseff, disse que, a R$ 88 a dose, o impacto seria de três vezes o orçamento do Programa Nacional de Vacinação: “Fica praticamente impossível incorporá-la”, afirmou na época. Para o governo paranaense, cada dose saiu por R$ 12 a mais.
Como toda doença, a dengue cobra seu principal preço em vidas. Mas o prejuízo também se dá nos cofres públicos. Um levantamento feito em 2015 pela Universidade Federal de Goiás (UFG) calculou que a perda chega a R$ 4,7 bilhões por ano. Um exemplo disso se encontra no município de Foz do Iguaçu, um dos que serão imunizados na campanha. Lá, acumulam-se há anos prejuízos no turismo por conta da enfermidade. “A propagação da epidemia faz com que o visitante não venha para a cidade”, diz Ivone Barofaldi, prefeita em exercício de Foz. “Vemos isso pela taxa de cancelamento de pacotes, além das reclamações do setor hoteleiro”. No Paraná, uma das expectativas das autoridades é que os gastos com a vacina sejam compensados pelo retorno econômico indireto. “Nós investimos R$ 50 milhões nas doses, mas prejuízos pela dengue superaram os R$ 330 milhões por ano”, afirma o governador do estado, Beto Richa (PSDB).
Butantan
Nos últimos anos, houve uma corrida no estudo dessas vacinas no mundo. A primeira a ser aprovada por órgãos regulatórios foi a da Sanofi. Uma concorrente desenvolvida pelo Instituto Butantan se encontra na fase final de testes, mas não deverá chegar ao mercado antes de 2018. Enquanto isso, a medicação da empresa francesa começa a chegar às clínicas particulares do Brasil nesta semana. Depois de sete meses de espera, na segunda-feira 25 a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMed) – órgão composto por cinco ministérios que define o preço máximo dos remédios vendidos no território nacional – definiu o valor de R$ 132,76 a R$ 138,53, dependendo do estado. Para o consumidor final, porém, o custo será bem maior, com clínicas falando em até R$ 300 e 400 devido à alta procura. A distribuição deve começar nesta semana, mas o consumo do cliente privado não mudará o quadro da doença no Brasil. “Para que a vacina modifique o panorama de um país continental como o nosso, só mesmo caindo na rede pública”, diz Edimilson Migowski, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Instituto Vital Brazil. “Sem isso, será um excelente produto para quem for imunizado, mas não para a população como um todo.”
A vacina criada pela francesa Sanofi começa a chegar às clínicas particulares do Brasil nesta semana. O preço inicial é R$ 132,76