Face a Face entrevista reitor Edward Madureira Brasil

O Popular, 18/12/10

Face a Face

É preciso ter a universidade em locais estratégicos

UFG parceira da sociedade - Em entrevista ao Face a Face, o reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira, defende a aproximação da instituição com a sociedade e, em especial, com o empresariado goiano

PERFIL:

Edward Madureira Brasil
47 anos
Engenheiro agrônomo, graduação, mestrado e doutorado pela UFG
Segundo mandato como reitor (desde 2006). Antes foi diretor da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, de 1998 a 2005

Com 21 mil alunos, 2 mil professores 2,8 mil funcionários técnico-administrativos e câmpus espalhados pelo interior do Estado, a Universidade Federal de Goiás (UFG) chega aos seus 50 anos de fundação como referência de qualidade para o ensino superior em Goiás. E é justamente essa imagem, de referencial qualitativo e não quantitativo, que a atual reitoria pretende consolidar, além de aproximar a instituição do setor produtivo goiano e da sociedade. Em entrevista ao Face a Face, o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, responde aos leitores sobre os projetos em andamento, as perspectivas de expansão da instituição e de cursos de pós-graduação, bem como a implantação do Parque Tecnológico, já em licitação, quer irá estreitar os laços entre universidade e empresariado, revertendo a parceria em benefícios para a população.

Valéria Pinto - Há anos o prédio da Faculdade de Direito da Praça Universitária está condenado pelo Corpo de Bombeiros. Existe alguma previsão para alocar este curso em um prédio digno de sua importância?

O prédio da Faculdade de Direito acabou de passar por uma grande reforma e readequação e não consta, pelo menos para mim, nenhum tipo de condenação desse edifício da Faculdade de Direito. Com a reforma que terminou ano passado, as instalações estão muito boas e os espaços estão sendo recompostos em função da construção da nova biblioteca da praça juntamente com o espaço do Banco do Brasil. A Faculdade estará recebendo, nos próximos meses, aquela área destinada a biblioteca setorial e a do Banco do Brasil. A gente recompõe o espaço adequado para a Faculdade de Direito. Quanto a condenação, para mim é uma novidade.

Valéria Pinto - Os créditos em livros que as livrarias existentes no prédio do Direito oferecem como "pagamento" de aluguel estão sendo solicitados pelos professores para atualização da biblioteca?

A política de atualização do acervo da UFG não depende dessas pequenas receitas de aluguel, que entram na conta única da universidade, mas não há uma vinculação desses alugueis com a aquisição de livros. O que a gente investe para adquirir livros é muito maior do que o valor desses alugueis. Nós temos uma política de recuperação do acervo, que hoje a UFG investe, anualmente, cerca de R$ 800 mil e, considerando os cursos novos, esse volume de recursos é muito maior. Envolve a Biblioteca Central e todas as setoriais, do câmpus 1, Jataí, Catalão, Goiás. Há uma política de recuperação do acervo da UFG, além do acesso livre ao portal da Capes, que também hoje tem muitos livros eletrônicos. Então hoje a gente tem uma política de investimento no acervo da UFG muito forte.

Valéria Pinto - Os vestibulares estão realmente selecionando os alunos mais preparados para o exercício de suas profissões, considerando o baixo nível educacional daqueles que têm se formado nas faculdades da UFG? Um dos problemas evidentes é a Língua Portuguesa?

Eu vejo que o vestibular seleciona bem sim. Os diferentes critérios - seja o vestibular, seja o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), seja os sistemas seriados que algumas universidades adotam - selecionam sim os melhores, os mais bem preparados. Acho que estamos diante de uma mudança de paradigma com a consolidação do Enem. Esse ano tivemos a realização e mais e mais universidades adotam esse critério. Com o Enem teremos uma seleção, vamos dizer, mais democrática porque ela é de caráter nacional. O fato de selecionar os melhores não significa que pessoas bem preparadas ingressam na universidade. Nós temos uma deficiência muito grande nos níveis de ensino anteriores à universidade e é praticamente impossível você conseguir selecionar só os alunos que tem uma boa formação em Português, Matemática e nas demais áreas para a faculdade. Cabe à universidade tentar corrigir um pouco dessas deficiências, o que também não é possível fazer de forma plena. Acredito que os egressos da UFG, que conseguem terminar seus cursos, tem um nível compatível com as exigências do mercado. Então, eu acredito que nesse aspecto seleciona sim.

Carla Borges - Há previsão de expansão da UFG em Catalão? Comenta-se a possibilidade de criação de um curso de Direito na cidade. Há também uma articulação para a criação da Universidade Federal de Catalão. As informações são verdadeiras e quanto disso já avançou?

Esse desejo do Estado de Goiás de ter outras universidades federais, além da UFG, é um desejo antigo e para o qual nós procuramos contribuir. Tanto Catalão quanto Jataí são dois câmpus de porte bastante grande e que já poderiam se transformar em universidades. O que acontece é que o sistema federal de educação superior ele tradicionalmente, antes de 2005, era baseado em um único câmpus por universidade. De 2005 para cá, todas as universidades federais se tornaram multicâmpus e com isso é praticamente impossível, já que hoje o sistema está presente em aproximadamente 250 municípios do país, nos termos 250 universidades federais autônomas. Vai depender muito da política do governo federal na criação de novas universidades. E uma pergunta que deve ser feita também é o sistema multicâmpus funciona bem ou não? Eu acredito sim que é possível ter universidade multicâmpus, e temos bons exemplos que funcionam dessa forma. Quanto a expansão em Jataí, e mesmo em Catalão e Goiás, é política da administração da UFG, na medida do possível, continuar expandido. Basta dizer que de 2005 para cá, o câmpus Catalão multiplicou por três. Nós tínhamos sete curso, hoje temos 22 cursos de graduação em funcionamento, temos cursos de mestrado e a criação de novos cursos depende basicamente de uma política do governo federal de continuar a expansão. E eu vejo que é política do governo federal de continuar a expansão. E eu vejo que é política do governo sim continuar a interiorização do ensino superior. E a gente não pode esquecer que a UFG ela não deseja e nem a missão de ter a maior quantidade de alunos matriculados dentre as instituições presentes no Estado, mas sim de ser o referencial de qualidade do sistema, como deve ser o sistema federal. Para isso, é necessário ter a presença da universidade em locais estratégicos para o nosso Estado. E eu enxergo a necessidade de nós termos a presença da UFG em outras regiões de nosso Estado, com o Norte, Nordeste e o Entorno do Distrito Federal. O projeto nosso é criar câmpus ou, dependendo da política do governo federal, criar outras universidades federais nessas regiões que hoje não tem a presença física da UFG. Existe um plano de expansão do câmpus de Catalão, elaborado pelo próprio câmpus, que contempla a criação de vários cursos. O que tem que ficar claro para o leitor é que essa criação não é apenas de vontade do reitor ou do diretor do câmpus, porque isso implica em vagas, novas vagas para professores e elas são criadas pelo Congresso Nacional. Geralmente isso é possível quando se estabelece uma política do governo federal como foi em 2005 e depois em 2007 com o Reuni e aí sim é o momento que o câmpus tem a liberdade de planejar a criação de novos cursos.

Edilberto de Castro Dias - O número de vagas para o curso de Medicina continua o mesmo há décadas. Há pressão dos médicos (reserva de mercado) para não se aumentarem as vagas? Existe previsão do aumento das vagas para o curso de Medicina?

Não. O curso de Medicina já tem o número de vagas bastante elevado. São 100 vagas, se a gente comparar com o da UnB (Universidade de Brasília), nossa vizinha, são 40 vagas. Nós já temos um número de vagas bastante elevado e o quadro de docentes é compatível com esse número. Então, não há nenhuma pressão. Os professores e médicos não exercem nenhuma dificuldade nesse sentido. O que há é que pra expandir as vagas, precisamos expandir também a estrutura física, o número de docentes. O que estamos fazendo agora é um investimento pesado no Hospital das Clínicas para melhorar, cada vez mais, a nossa formação. E o número de médicos por habitantes formados em Goiânia, e agora em Goiás com a criação de dois cursos de Medicina, ele seguramente é suficiente para atender a população. O que nós temos é a concentração de profissionais em determinadas regiões e baixa concentração em outras. Então é isso que nós temos que corrigir para termos um atendimento médico melhor e isso passa, certamente, por valorização profissional e outras questões.

Jesseir Coelho de Alcântara - O Estado de Goiás é muito carente em mestrados e doutorados na área jurídica e com isso ficamos prejudicados. Existe alguma perspectiva por parte da UFG para incrementar a realização desses cursos?

Ontem foi a posse da nova diretoria da Faculdade de Direito. Nós conseguimos agora,
depois do intervalo de alguns anos, recredenciar o mestrado em Direito Agrário. A grande questão na área do Direito, que possamos avançar a graduação Stricto Sensu é aumentar a oferta de doutores e a presença de professores em regime de dedicação exclusiva. Tradicionalmente, tanto na Faculdade de Direito quanto na de Medicina, o número de professores em dedicação exclusiva, por razões diversas, é baixo. Nós já temos agora, na Faculdade de Direito, 19 doutores e mais quatro professores em doutoramento. Muito em breve serão 23 doutores. Já temos uma parcela significativa do quadro da Faculdade de Direito em regime de dedicação exclusiva e eu tenho certeza que um doutorado em Direito, sem precisar em qual área, é uma questão de dois ou três anos, a depender da avaliação do mestrado, que o que tudo indica pelo nível e pelo esforço dos professores, que teremos uma boa avaliação pela Capes. Aí o doutorado é consequência natural. E com a criação do curso de Direito em Jataí e também na cidade de Goiás, em breve nós teremos mais oferta de pós-graduação na área jurídica.

Reilly Rangel - A UFG é um dos importantes atores do cenário goiano. Ao longo dos anos, a instituição foi a grande responsável pela profissionalização de nossa mão-de-obra e a maior geradora de conhecimento científico no âmbito estadual. Em 2010, a UFG potencializou seu poder de atuação, muitos novos cursos foram anunciados, a estrutura física foi significativamente ampliada e a universidade anunciou que será a propulsora do primeiro parque tecnológico goiano. Neste contexto, explique as razões da universidade ter optado pelo Parque Tecnológico como foco dos investimentos e dos esforços da UFG para os próximos anos? O que mudará na vida dos alunos? E como esse grande empreendimento impactará na realidade socioeconômica de Goiás?

A universidade tem, dentre as suas missões, além da formação dos profissionais, produção do conhecimento, e extensão, que é levar essa conhecimento à sociedade, novas funções. A universidade se transforma no grande agente de transformação do nosso Estado, pelo número de profissionais (hoje a UFG concentra praticamente 1,3 mil doutores em seu quadro, isso é mais de 50% dos doutores do Estado de Goiás, que estão dentro da UFG) e para explorar adequadamente todo esse potencial nós precisamos de alguns mecanismos. Um dos mecanismos é justamente fazer com que o conhecimento produzido dentro da universidade chegue à sociedade por intermédio da inovação tecnológica e outros meios. Então, o Parque Tecnológico cria um ambiente para que a universidade se encontre com a sociedade. No caso do Parque Tecnológico mais especificamente com o empresariado para que ele se aproprie do conhecimento produzido aqui. Nós estamos iniciando um processo licitatório e em breve vamos iniciar a construção dos primeiros edifícios do Parque Tecnológico do Estado de Goiás e a construção dessa ideia vem sendo feita há muito tempo e agora chega num grau de maturidade suficiente, entre empresários e universidade, para que isso se transforme realmente em benefício para a população. Da mesma forma isso acontece com outros seguimentos da sociedade. A UFG tem hoje uma incubadora social onde os catadores de lixo são organizados, com apoio da UFG, em cooperativas que trazem o profissionalismo para a atividade. Então, é com essa perspectiva da universidade mediar essa relação que nós estamos investindo no Parque Tecnológico. Os estudantes terão, de forma muito próxima, um contato mais forte com as empresas e os empresários terão o contato com os pesquisadores. Isso, de certa medida, já acontece, o Parque Tecnológico apenas materializa o espaço para esse avanço. Eu acredito que Goiás tem um potencial enorme, tanto na área de tecnologia da informação, da indústria alimentícia, na indústria farmoquímica, agora também na indústria automobilística, na indústria mineral e aproximar a academia desses setores é um dos papeis. Lógico que isso tudo com apoio dos poderes constituídos. Tanto o poder Executivo Municipal quanto o Estadual, quanto Federal.

Gustavo Melo - O senho acha que um dia a UFG será reconhecida internacionalmente por sua excelência em ensino, pesquisa e extensão?

Nós já podemos começar a comemorar um pouco desse reconhecimento. Hoje a UFG tem um nível de internacionalização bastante grande. Hoje nós temos, anualmente, mais de uma centena de estudantes de outros países cursando parte seus cursos na UFG e mais de uma centena de estudantes da UFG cursando parte de seus cursos no exterior. E isso tudo mediado pela nossa Coordenação de Assuntos Internacionais e pelos nosso docentes. Então essa mobilidade não é apenas de estudantes, mas articulada com atividades de pesquisa. Então, naturalmente essa inserção internacional da universidade, ela vai trazer projetos, e nós já temos alguns projetos com organismos internacionais, que resultarão em pesquisas e desenvolvimento de novos conhecimentos e novos produtos, que terão impacto internacional. Basta dizer que professores da UFG atuam no grande programa de acelerador de partículas dos Estados Unidos. Então, a resposta é sim e eu acho que esse dia está muito próximo.

Evelyn Rocha - Por que as vagas para o mestrado em educação são tão poucas? Qual os projetos futuros para ampliar o acesso de mais pessoas a esse grau de titulação?

Acredito que o mestrado e o doutorado em Educação, o problema não é quantidade de vagas que é pequena. É que o curso tem uma qualidade muito grande e é muito disputado. Nós temos uma grande procura pela qualidade do curso de mestrado e doutorado da Faculdade de Educação. A expansão decorre, naturalmente, da própria expansão da universidade. É interessante que o leitor compreenda que os cursos de pós-graduação são avaliados, e o Brasil tem um mecanismo de avaliação reconhecido internacionalmente, que é feito pela Capes, que é um órgão do MEC (Ministério da Educação), que é muito rigoroso. Para ter uma pós-graduação de qualidade, os cursos devem seguir os princípios que a Capes coloca. Com isso, a ampliação do quadro de professores filiados aos programas de pós-graduação deve ser feita com muito critério, para que continuemos a manter a qualidade e, voltando um pouquinho a pergunta anterior, certamente o cursos de pós-graduação da UFG que tem nota cinco, essa escala de nova vai até 7, sendo que os níveis 6 e 7 são reservados aos cursos de nível internacional. Então eu não tenho dúvida que na próxima avaliação da Capes, daqui há 3 anos, alguns dos programas nota 5 hoje galgarão o nível internacional. E para seguir nessa trajetória, que é estratégica para universidade e para o Estado, nós precisamos ter o devido rigor no credenciamento dos professores e na qualidade dessa pós-graduação. Talvez por isso nós tenhamos ainda um número de vagas não de acordo com a demanda que temos. Mas é certo, nós somos um dos poucos cursos nessa área no Estado, com o crescimento do câmpus Catalão, quanto do de Jataí, em breve tenho certeza que teremos novos programas de pós-graduação oferecidos nesses novos câmpus, o que certamente irá diminuirá um pouco a pressão da procura, , aumentando também a demanda pelos novos cursos.

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