O aliado dos pequenos

O aliado dos pequenos

Foi-se o tempo em que a imaginação, a brincadeira e o riso ficavam fora da sala de aula. E se hoje incorporamos atividades lúdicas ao processo pedagógico, um dos responsáveis por essa inovação é o jornalista, professor e escritor italiano Gianni Rodari.
Ainda pouco divulgado no Brasil, Rodari morreu no dia 14 de abril de 1980 e é considerado o maior escritor de literatura infantil italiana.
Nascido em 1920 em Novara, na Itália, ele chegou a iniciar a faculdade de Línguas, mas logo a abandonou. Foi no jornal I'Unità, em 1948, que publicou seus primeiros textos e passou a escrever para crianças.
Curioso, Rodari foi até a sala de aula para descobrir se havia uma teoria específica do texto infantil, mas o que ele aprendeu mesmo com os pequenos foram os benefícios que a imaginação traz para o aprendizado. “Ele traz um tipo da narrativa livre, onde você dá um norte, um pontapé inicial e o leitor vai construindo e reconstruindo a narrativa. Ele revolucionou neste aspecto, pois saiu daquela linguagem mais estruturada da literatura e fez um cruzamento com essa narrativa mais cotidiana, dando a ela um peso das tradições, da li­teratura oral, dos trocadilhos e dos jogos de palavras que são comuns a nossa vida,” explica a professora da UFG (Universidade Fe­de­ral de Goiás) e mestre em Linguística, Margareth Nunes.

Imaginário infantil
Rodari acreditava que a fantasia e a imaginação deviam ser vistas sob a ótica de sua relação com a realidade e que, a partir delas, também poderia se construir o aprendizado.
Por isso, ele propõe que a base criativa da criança, que sustenta o imaginário infantil, deve fazer parte da educação. Além disso, o escritor não só incita a brincadeira e jogos na escola, mas também incentiva a garotada a perceber a realidade de uma forma totalmente nova e a participar da história.
“A base da construção da narrativa dele é a criatividade. São todas histórias que não tem um final previsível e o leitor pode reconstruir com sua própria fantasia e com isso fazer com que todos sejam autores, desconstruindo os papéis de autor e de leitor. Eu acredito que essa foi a grande contribuição de Gianni Rodari: fazer com que todos sejamos autores”, ressalta Margareth.
Foi com essa fórmula que Rodari ganhou adeptos na Itália e no mundo, chegando a ganhar o prêmio Andersen de Literatura infantil, considerado o Nobel da área. Livros como Gramática da Fantasia (1982),  Fábulas por Telefone (2006) e Histórias Para Brincar (2007) e foram sucesso não só entre as crianças, mas também entre professores que incorporaram os métodos do escritor na sala de aula.
Ao todo existem mais de 30 livros pu­blicados do escritor, alguns póstumos. Po­rém, no Brasil, são apenas 16 títulos tra­duzidos. Margareth considera que a falta de obras em português é o que justifica o desconhecimento dos brasileiros em re­la­ção ao autor. “Se você não tem a obra traduzida, as pessoas não têm acesso a elas e isso dificulta a recepção”, acrescenta.