Especialistas avaliam resultados

Professores ouvidos pelo POPULAR dizem que houve avanços, mas ainda há muito a ser feito

Carla Borges
16 de agosto de 2012 (quinta-feira)

 

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Especialistas em educação ouvidos pelo POPULAR concordam que o aumento das notas dos alunos de escolas públicas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é salutar, mas ponderam que é preciso melhorar as condições das próprias escolas e também dos profissionais da educação. Eles também ressaltam que as notas foram puxadas pelas de alunos de escolas acima do padrão mediano, especialmente de colégios militares. Dos 11 melhores do 5º ao 9º ano do ensino fundamental em Goiás, cinco são colégios militares – que têm melhor infraestrutura e grande disciplina – e um é o colégio de aplicação da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE), José Geraldo de Santana Oliveira diz que o resultado do Ideb será analisado em profundidade pelos conselheiros em plenária amanhã, mas adianta que os números apontam avanços. “Isso é muito bom, mas não significa dizer que as condições da educação pública tenham melhorado”, diz Santana. “O Ideb é apenas um indicador, que não contempla a infraestrutura das escolas, condições de trabalho dos professores, a carreira docente e o cumprimento de dispositivos constitucionais”, ressalta.

Santana aponta a redução da evasão do ensino médio como um dos motivos mais importantes para o avanço que Goiás mostrou no Ideb. Essa melhora, diz, veio com a ressignificação do ensino médio, de complementação da educação básica, de rito de passagem entre o ensino fundamental e o superior. “Com essa ressignificação, houve uma mudança de foco e a redução da evasão”. A questão do foco também é apontada por ele para justificar a queda na nota dos alunos de escolas particulares no ensino médio. Ela caiu de 5,8 para 5,5 e ficou abaixo da meta de 6. “O foco da escola particular não é a formação, mas o vestibular”.

Já em relação ao ensino fundamental, o presidente do CEE observa que houve uma melhora do desempenho a partir de 2004, quando passou a ser obrigatória a matrícula de crianças a partir dos 6 anos de idade.

Para o professor Ged Guimarães, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), é preciso avaliar, inicialmente, quais são e como são os colégios que puxaram as notas para cima. “Se excluirmos essas escolas que são exceção e ficarmos apenas com a regra, com certeza a média será menor”. Ele pondera que atualmente todos os professores têm curso superior e quase todos são concursados, o que colabora para melhorar o desempenho.

Ged observa que há uma série de fatores por trás do desempenho bom ou ruim. No caso dos colégios militares, os alunos passam por seleção, o que já é um fator em si. Além disso, a rígida disciplina dessas unidades terá reflexos positivos, como a disciplina para os estudos em casa. “É uma situação muito diferente das escolas que puxam as notas para baixo, onde, na maioria das vezes, os alunos não tem sequer acompanhamento em casa”.

INVESTIMENTOS

Os estudiosos ouvidos pelo POPULAR apontam ainda a necessidade de investimentos, principalmente na infraestrutura e na valorização dos professores. “A situação da escola com pior desempenho em Goiás está em um estado lamentável, parece um prédio abandonado”, diz Ged. Santana defende a garantia da destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, por meio do Plano Nacional de Educação – que está sendo discutido no Congresso –, com a distribuição de responsabilidades, deixando claro que é atribuição da União, dos Estados e dos municípios.

Fonte: O Popular