Física em crise

Estimular os jovens à docência na Educação Básica. Esse é o objetivo do mais novo programa que o MEC (Ministério da Educação) pretende lançar ainda esse ano com o intuito de reduzir o déficit de professores de ciências na rede pública. 
O programa inclui a criação de bolsas e cursos para incentivar estudantes a seguirem carreiras nas áreas de Física, Química, Matemática e Biologia. Mas para a pesquisadora da USP (Univer­sidade de São Paulo), Luciana França Leme, a medida será pouco eficaz. “Pode ajudar, mas a questão da atratividade dos professores não será solucionada com medidas específicas, porque o problema tem vários fatores articulados, explica. 
Para ela, os baixos salários e as péssimas condições de trabalho são os maiores motivos para a falta de interesse dos estudantes e, consequentemente, para o grande déficit de professores de ciências no ensino básico brasileiro. 
A pesquisadora realizou um estudo sobre o interesse dos estudantes de licenciatura da USP pela Educação Básica, revelando que 52% dos graduandos em Física não pretendem seguir a docência. “Eles vão trabalhar num banco, na área financeira, porque conseguem emprego ainda fazendo licenciatura e, muitas vezes, nem chegam a ir para as escolas públicas pela falta de condições dessas instituições e por não estarem preparados para lidarem com os alunos.”
Luciana ainda frisa que faltam muitas pesquisas na área para identificar os egressos e encontrar os gargalos da formação, mas acredita que o motivo do desinteresse na licenciatura também é pela falta de percepção do estudante em relação ao curso. “Ele entra porque gosta de Física ou Matemática, mas não está interessado em como as pessoas aprendem Física. Ele precisa entender como pensa uma criança e isso é muito mais complexo. Aí ele desiste!”
Essa dura realidade é vivenciada diariamente pelas universidades que lutam para manter os estudantes na licenciatura. “Entram 30 alunos por ano, mas a evasão hoje está em torno de 60%”, revela o coorde­nador do curso de Física da UEG (Universidade Estadual de Goiás), Clodoaldo Valverde.

Ensino superior
A situação não é diferente na PUC/GO, onde apenas 12% dos graduandos em Física conseguem concluir o curso. “A evasão é grande porque o mercado de trabalho na Educação Básica é desmotivante. No estado, as condições de trabalho são piores que o salário”, ironiza o diretor do De­par­tamento de Matemática, Física, Química e Engenharia de Alimentos da PUC/GO, Antônio Newton Borges.
Borges revela um dado alarmante: os licenciados optam por trabalhar no Ensino Superior, onde encontram melhores salários, condições de trabalho e reconhecimento profissional. “A maioria dos formandos está sendo contratada pelos institutos federais”, ressalta o diretor.
Já na UFG, a oferta de vagas para a licenciatura em Física foi reduzida drasticamente, com a extinção de 15 vagas no curso integral. O motivo, segundo o vice-diretor do Instituto de Física, Wagner Wil­son, foi a abertura de outros dois cursos, o de Física Médica e o de Engenharia Física, e a baixa procura por parte dos estudantes. 
Ainda sim, sobram vagas. De acordo com Wilson, as 25 cadeiras do curso integral oferecidas em 2013 só foram preenchidas no processo seletivo das vagas remanescentes realizado nessa última semana, em que são consideradas as notas do Enem. 
Para ele, a complexidade do curso e a falta de perspectiva salarial não só desmotiva o ingresso do aluno, mas também estimula a evasão. Por isso, muitos estudantes acabam optando por outras áreas. “Nós vemos muitos alunos de licenciatura indo para mestrados e doutorados acadêmicos na área de pesquisa. Alguns só vão para o mestrado na área de ensino para depois pleitear uma vaga nas universidades ou num instituto federal”, acrescenta Wilson.

Fonte: Tribuna do Planalto