Futuro carregado de desafios

Capital do Estado completa hoje 80 anos de existência com uma história marcada por várias conquistas. Marcada pela hospitalidade de seus 1,3 milhão de habitantes, Goiânia comemora hoje 80 anos, com uma história repleta de conquistas e um futuro carregado de desafios. É o pólo da quarta região metropolitana do País com melhor bem-estar, considerando infraestrutura urbana, condições ambientais e habitacionais, segundo o Observatório das Metrópoles. No entanto, também é a cidade da América Latina com a pior distribuição de renda, aponta a Organização das Nações Unidas (ONU), e padece com velhos problemas, como a baixa qualidade da prestação de serviços coletivos - energia elétrica, água e esgoto -, e a mobilidade é freada por transporte coletivo cada vez mais lento, demorado e caro, num trânsito afogado pela crescente frota de veículos – já é 1 para cada 1,2 habitante.

A capital ocupa o 45º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios do País e, além disso, é a 30º cidade brasileira onde as pessoas têm maior renda no fim do mês, com média de RS 1,348 mil, enquanto no Brasil é de R$ 793. Sua posição geográfica e a melhora de indicadores sociais provocam fascínio em migrantes do País, que fixam-se na capital, em busca de qualidade de vida. Isso coloca Goiânia como a cidade que mais atrai gente para morar nela, ao lado de Brasília (DF), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O avançado adensamento populacional, entretanto, implica falta de mão de obra qualificada e na escalada da criminalidade. Foram registrados 476 homicídios na capital, de janeiro até o dia 16 deste mês. Durante todo o ano passado, foram 577 assassinatos, contando mortes em supostos confrontos com policiais. “A violência acomete mais os pobres, que têm qualidade de vida menor”, pontua o diretor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), João de Deus. “A vida para a classe média alta é melhor, porque tem praças, parques e lazer que consegue pagar, por exemplo”, compara ele.

Mais gargalos

Por outro lado, também há uma seleção quase que automática no mercado de trabalho. Devido às ofertas de emprego não suportarem a demanda ou o candidato não atender a exigências, “Goiânia virou uma cidade do mercado informal, com muita gente vendendo em feiras, fabricando as mais diversas coisas para sobreviver”, analisa o sociólogo Cleito Pereira dos Santos, professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Creio que metade da população economicamente ativa em Goiânia está no mercado informal”, diz.

A capital goiana, de acordo com Santos, tem muitos jovens com baixa qualificação e, por isso, acentua, “estão num trabalho degradado, com situações precárias.” A cidade, entretanto, tem se tornado um centro de atração de investimentos, sobretudo do mercado imobiliário, das grandes redes de supermercado e de serviços de call center, na avaliação do economista Jeferson de Castro Vieira, professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). “Os investimentos estão vindo em razão da qualidade de vida na capital”, observa ele, para frisar a necessidade de construção do novo aeroporto de Goiânia. “Há um fluxo muito intenso de passageiros e poderia haver melhor visão ao País. Mas também é preciso investir em transporte público mais rápido e eficiente”, emenda.

João de Deus concorda, ao dizer que a implantação do Bus Rapid Transit (BRT) não vai resolver definitivamente o problema da falta de mobilidade urbana na capital. “A mobilidade é um grande desafio, e não será resolvida a curto prazo”, afirma o diretor do Iesa. Uma boa saída, destaca ele, seria investir em metrô e trem, que, acrescenta, fazem o percurso de forma mais rápida, sem serem impedidos por semáforos e veículos.

Planejamento deve ser descentralizado

Apesar de ser uma cidade relativamente nova, Goiânia já se constituiu como uma das principais metrópoles do País. A avaliação é do economista Marcelo Gomes Ribeiro, doutor em planejamento urbano e regional e pesquisador do Observatório das Metrópoles. “A capital tem um poder de radiação do ponto de vista econômico e populacional”, frisa ele.

O pesquisador observa que os problemas aumentam à medida que cresce essa radiação, mas, pontua, os maiores gargalos se acumulam nas periferias da região metropolitana, e não necessariamente na capital. Por isso, avalia ele, uma ação de planejamento das políticas públicas não pode ser pensada apenas com foco na capital, “porque as pessoas se deslocam na dimensão metropolitana.” “Mais que nunca é necessário fazer política metropolitana para que as pessoas tenham plenas condições de vida”, destaca o economista.

Ao comparar a região metropolitana de Goiânia com as demais do País no aspecto da mobilidade, Ribeiro observa que a capital está acima da média nacional. “Mas a média é muito baixa e, portanto, estar acima dela não significa uma realidade, situação, muito confortável”, diz.

Fonte: O Popular