Jornal Diário da Manhã, 09/10/2007

Brasileiros exageram no consumo de sal

Matheus Álvares Ribeiro
matheusalvares@dm.com.br
Da Editoria de Cidades

O brasileiro ingere diariamente mais sal do que é recomendado pelos médicos. A afirmação não seria novidade se não fosse pelo fato de que, mesmo que se tome cuidado, muitas vezes nem percebemos a presença deste tempero nos alimentos. É o que diz uma pesquisa feita em São Paulo.
A pesquisa mostrou que, dos pacientes hipertensos estudados, 61% consomem mais sal do que o recomendado. A culpa não é necessariamente deles. Ainda que eles tentem reduzir o consumo do tempero, a maior parte dos alimentos contém sódio, elemento presente no sal e que está diretamente ligado à retenção de líquidos.
“A rigor, ninguém precisa adicionar sal aos alimentos”, afirma o cardiologista Paulo da Veiga Jardim, um dos coordenadores da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Segundo ele, o excesso de sódio na dieta é responsável por uma retenção de líquido maior do que o desejado, o que pode gerar um aumento da pressão arterial.
O Centro-Oeste possui um consumo de sal três a quatro vezes maior do que o necessário. Isso equivale dizer que, diariamente, consumimos em torno de 20 gramas (um indivíduo adulto deve consumir no máximo 6 gramas diárias). Coincidentemente, já foi constatado que as doenças do coração são a maior causa de morte no Estado de Goiás.
Há duas semanas, a vendedora Isabel Braga, 49, descobriu que tinha hipertensão. Apesar de ter histórico de hipertensos na família, ela afirma que nunca se preocupou em balancear a dieta. “Quase todos os meus irmãos são hipertensos. Já perdi uma irmã por causa disso”, diz.
Isabel conta que há dois anos sentiu sua pressão subir, mas depois de baixá-la não se preocupou mais. A crise mais recente a obrigou a procurar um cardiologista, que lhe receitou remédio para controlar sua pressão além de exigir alguns exames e recomendar a redução de sal. “Todos os meus irmãos se cuidam, só eu que era relaxada”, brinca.
O cardiologista afirma que, não necessariamente, o consumo de sal está ligado à hipertensão. Há outros fatores, como obesidade, estresse, sedentarismo e histórico familiar que também são determinantes. Uma pessoa com tendência à hipertensão, no entanto, deve tomar cuidado com a ingestão do tempero ou seu excesso se tornará um agravante no problema.
“Todos os alimentos contêm sódio”, afirma Paulo. Segundo ele, não é proibido comer sal, mas sempre é possível encontrar alternativas para temperar os alimentos. Ele sugere o uso de especiarias como cheiro verde, limão e hortelã. O médico também recomenda evitar carnes conservadas como lingüiças, carne de sol e salsichas.
Evitar produtos industrializados também é uma boa opção, porque o processo de conservação dos alimentos inclui o sal. Este é uma das principais dicas para reduzir o consumo do tempero. A outra é evitar levar o saleiro para a mesa. “Às vezes adicionamos mais sal à comida enquanto comemos do que quando cozinhamos”, conclui o médico.