Preparação e investimentos podem reduzir crises de exportações agropecuárias

Estudo da UFG analisa políticas agrícolas e mercados internacionais e propõe estratégias para o desenvolvimento da agropecuária brasileira diante do cenário econômico mundial

O governo brasileiro tem sido pego de surpresa por mudanças nos mercados internacionais de produtos agropecuários, com implicações diretas para as exportações do país. A União Europeia restringiu recentemente a importação de frango produzido no Brasil alegando deficiências no sistema oficial de controle. Por outro lado, a proposta chinesa de tarifar a soja importada dos EUA em 25% deve aumentar as exportações brasileiras para a China e pode diminuir comércio com outros parceiros tradicionais.

Embora algumas dinâmicas internacionais sejam de difícil previsão, a maior parte está esboçada há tempos. Um estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG) revela que, apesar da promessa de liberalização dos mercados agrícolas, países desenvolvidos, como Estados Unidos e União Europeia, têm mantido a proteção a seus produtores, restringindo as exportações brasileiras seja pelos altos subsídios agrícolas, seja por barreiras sanitárias. Para cumprir as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), esses países lançaram mão de uma nova geração de políticas agrícolas que garantem apoio aos agricultores sem distorcer mercados.

O professor da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Gabriel Medina, explica que grande parte do crescimento recente das exportações brasileiras foi resultado do aquecimento da demanda chinesa por commodities: “Mas a estratégia chinesa de controle de cadeias-chave de produção pode relegar grupos brasileiros à exportação de produtos com baixo valor agregado no mercado de commodities agrícolas”.

A liberalização do comércio internacional também encontra outra dificuldade: a diversidade. São 156 países-membros da OMC e essa diversidade representa uma das maiores limitações para a construção de um acordo multilateral de livre comércio. O professor explica que “para tentar aproximar países diferentes no comércio, tem crescido o investimento em acordos bilaterais ou plurilaterais feitos com número menor de países com características mais próximas. Há três grandes acordos regionais em negociação que representam respectivamente 38,0%, 31,6% e 32,8% do PIB global, e o Brasil não participa da negociação de nenhum deles”.

O Brasil precisa se preparar

O estudo, que também deve ser publicado como livro ainda em 2018, além de fazer uma sistematização do conhecimento disponível sobre políticas agrícolas e mercados internacionais, também levanta estratégias para o desenvolvimento da agropecuária brasileira diante das dinâmicas em curso. “É limitado o esforço estratégico feito pelo país para mapear as dinâmicas recentes do mercado internacional de produtos agropecuários e suas implicações para a agricultura nacional. Enquanto o enfoque praticamente exclusivo na política de crédito subsidiado beneficia produtores rurais em curto prazo, no longo prazo, investimentos mais abrangentes como em sistemas de informação e no apoio institucional para o fortalecimento de empresas brasileiras podem trazer maiores retornos para o setor rural como um todo”, afirma Gabriel Medina.

Segundo ele, a falta de preparo tem levado a soluções intempestivas que podem mais atrapalhar do que ajudar. “Um exemplo é a ameaça do Ministério da Agricultura brasileiro de recorrer à OMC contra a União Europeia por descredenciar algumas plantas de produção de frango. Embora o recurso à OMC seja legal e legítimo, o processo leva tempo e pode ter efeitos colaterais, como mostrou o caso do algodão, no passado. Seguramente, uma tentativa inicial de diálogo poderia ser exercitada”.

O professor sinaliza que a questão política também afeta o comércio: “É inegável que o governo federal brasileiro sofre com o descrédito internacional diante das denúncias de corrupção e dos altos índices de rejeição. Mas a chegada das eleições de outubro pode proporcionar espaço profícuo para a construção de estratégias de longo prazo para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. O Brasil precisa se preparar para lidar com as dinâmicas internacionais recentes”.

Assunto: Estudo da UFG analisa políticas agrícolas e mercados internacionais

Unidade vinculada: Escola de Agronomia da UFG

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Fonte: Secom UFG

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