Ordem na formatura
UFG estabelece normas para as cerimônias de colação de grau;
objetivo é coibir abusos e democratizar o acesso de mais estudantes
Hebert Regis
Na entrega dos canudos – símbolo máximo das formaturas – a música e a iluminação somam-se ao arsenal de gritos, apitos, cartazes, chuva de papel picado e gelo seco. As cerimônias de colação de grau não devem em nada a grandes produções do "show business". A concorrência entre os cursos e, principalmente, entre as empresas que formam a indústria da formatura transformou as colações de grau em verdadeiros espetáculos. Nas cerimônias deste ano, a Universidade Federal de Goiás (UFG) prometeu controlar os excessos, seja por parte dos estudantes, ou da própria pirotecnia montada pelas empresas organizadoras deste tipo de evento. "A colação é uma cerimônia da universidade, oficial e institucional, que precisa ter um caráter acadêmico", lembra a pró-reitora de graduação da UFG, Sandramara Matias Chaves.
Instrumentos de poluição sonora, gestos de exibicionismo, ou não-condizentes com a cerimônia, exibição de faixas, cartazes, uso de bebidas alcoólicas nas dependências do espaço destinado à colação, utilização de recursos pirotécnicos, produtos tóxicos, poluentes, inflamáveis e similares passam a ser proibidos nas colações de grau dos 38 cursos de graduação da instituição. Para os formandos do próximo ano, a Reitoria guardou a decisão mais polêmica. As cerimônias de colação de grau devem ser realizadas obrigatoriamente nas dependências da própria universidade. Para isso, a instituição planeja a construção até o início do próximo ano de um Centro de Eventos e Cultura, no Campus II, onde as cerimônias oficiais da UFG serão realizadas.
Planejada para abrigar aproximadamente duas mil pessoas, o salão de festas onde serão realizadas as colações caracteriza-se pela parte inicial da obra, orçada em R$ 5,5 milhões. As outras fases – infra-estrutura para congressos e um grande auditório com capacidade para três mil pessoas – deverão ser entregues posteriormente. No total, a instituição deve investir aproximadamente R$ 12 milhões em toda a obra. O Centro Gestor do Espaço Físico da UFG já aprovou a parte técnica da obra, restando apenas a destinação do recurso para o início da construção. Como 95% do orçamento da universidade destina-se ao pagamento da folha salarial, a instituição deve captar recursos, principalmente, de um convênio com a Caixa Econômica Federal e das emendas parlamentares.
"O nosso receio é que o espaço físico não esteja pronto até o início de 2008, como foi prometido", adianta o presidente da comissão de formatura da turma de Engenharia de Alimentos 2007/2, Flávio Caldeira, que acha difícil a universidade construir um espaço deste porte em um período de um ano. Caso a universidade não levante a obra a tempo, chegou-se a cogitar a hipótese de se montar tendas no espaço onde será construído o Centro de Eventos e Cultura, o que causou indignação por parte de alguns estudantes. Depois das reuniões com as comissões, em dezembro, a pró-reitora de graduação voltou atrás na proposta. E as tendas acabaram descartadas. A pró-reitora, no entanto, descarta a realização da colação de grau fora da universidade. "Até lá, tomaremos alguma providência", diz, reforçando a crença de que a obra será entregue no prazo previsto. "Estamos trabalhando para isso", ressalta Sandramara.
Inclusão
Com a realização das cerimônias no espaço a ser construído, a universidade quer baratear os custos, democratizando a participação, com inclusão de um número maior de estudantes nas colações de grau. Segundo o coordenador da Assessoria de Relações Públicas e do Cerimonial da UFG, Venerando Ribeiro de Campos, há uma evasão média de 50% dos formandos nestes eventos. "Queremos tirar a noção de espetáculo da festa e valorizar a cerimônia", afirma Venerando. Realizados nas dependências da UFG, os estudantes passariam a pagar apenas pela decoração e pela roupa destinada à cerimônia, a beca. "Isso não deve custar mais do que R$ 200", avalia Flávio Caldeira, que também defende a maior participação dos estudantes na cerimônia.
Flávio explica que, inicialmente, a turma não gostou das novas normas, principalmente pela falta de "glamour", devido ao veto aos recursos pirotécnicos. "Agora, as pessoas vão preferir incrementar o baile", acredita. Apesar de achar as normas precipitadas, a vice-presidente da Comissão de Formatura da Turma 2007/2 de enfermagem, Taciana de Souza Araújo, concorda num ponto: "Há colações de grau que viram palhaçada."
Os excessos foram a motivação da reitoria para estabelecer as normas. Para tanto, foram utilizadas como parâmetro outras quatro instituições, onde foram adotadas medidas semelhantes: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Ceará (UFCE) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV). Responsável pelo cerimonial da UnB, Ana Velloso explica que há 16 anos a universidade construiu o Centro Universitário, o que facilita o subsídio da Associação dos ex-estudantes da UnB aos formandos. A universidade cobra R$ 200 por aluno, sendo que os comprovadamente carentes têm desconto de 50%. "As colações de grau dos 72 cursos da UnB são iguais, independente da quantidade de alunos", explica Velloso.
As instituições também são rigorosas na padronização do convite de formatura, que precisa conter o símbolo da universidade, além dos componentes da mesa diretiva. A partir da nova norma, a UFG determina que as comissões de formatura encaminhem o convite à Assessoria de Relações Públicas para revisão e aprovação. Os formandos também precisam consultar a assessoria sobre a decoração do espaço para a colação, a cargo dos próprios estudantes, além de providenciar a beca para os formandos e para quem participa da colação na mesa diretiva. Há também o intuito de coibir abusos nos discursos, sendo que o orador, paraninfo ou patrono, diretor da unidade acadêmica e as autoridades presentes serão orientados a fazerem discursos de no máximo cinco minutos.
A visão dos empresários do setor
Para o cerimonialista Weiller Carneiro, há 17 anos no mercado goiano, as restrições da UFG constituem um regresso. "As colações da UFG vão ficar aquém das demais", alfineta. Weiller explica que, com a expansão das universidades particulares, a demanda das formaturas aumenta a cada dia. Os cerimoniais também devem continuar na organização dos outros cinco eventos (aula da saudade, jantar aos pais, viagem da turma, culto e baile) que, segundo ele, sai, em média, a R$ 3 mil por formando. No entanto, Weiller considera a colação de grau o dia mais importante da cerimônia, ao representar a entrega solene do diploma. "O sonho da família e dos pais serão prejudicados", critica.
Já o diretor de Comunicação e Marketing da Fábrica de Formaturas, Guto Delgado, concorda que as novas normas da UFG não vão alterar em nada os serviços prestados aos clientes, no caso, as comissões de formatura. "A colação de grau sempre foi ditada pelas próprias instituições de ensino", diz. Delgado defende a idéia de que a “pirotecnia” se limite às festas, já que a colação de grau é um momento marcado pelo protocolo e pelo respeito.
Ele diz que tem percebido um "um clamor pelo resgate da cerimônia acadêmica”. Weiller lança um desafio. "A partir de agora, eles vão sentir a responsabilidade de organizar o evento", diz, ansioso para ver como a UFG se sairá na posição de coordenadora das cerimônias de colação de grau.
Fonte: Jornal Tribuna do Planalto