UFG isola célula-tronco (Diário da Manhã, 17/03/07)

Diário da Manhã – 17/03/07
 

Clonagem
UFG isola célula-tronco

Grupo de pesquisa consegue manter unidade bovina in vitro

Resultado, ainda inédito no Brasil, aguarda aval de revista científica

Técnica dá luz a tratamentos de doenças como câncer e Alzheimer

Macloys Aquino
Da editoria de Cidades


Um grupo de pesquisa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Goiás (UFG) conseguiu isolar uma célula-tronco embrionária bovina e mantê-la em cultura (ambiente bioquímico in vitro propício para manter as células vivas). O feito, ainda não alcançado no Brasil, ilumina as possibilidades de tratamento de doenças como câncer, osteoporose, diabetes, danos na medula espinhal, cegueira, além de doenças renais, do coração, de Parkinson e Alzheimer a partir da clonagem terapêutica. As pesquisas são realizadas a partir de amostras animais, mas o método pode servir, futuramente, para isolar células-tronco embrionárias humanas, além de oferecer subsídios para melhoramentos genéticos em animais.

A coordenadora do estudo, a pós-doutora em Bioquímica Lídia Guillo, explica que a célula-tronco embrionária poderá, entre outras aplicações, ser utilizada para melhorar a eficiência de procedimentos de clonagem de animais por transferência nuclear, utilizados na clonagem da ovelha Dolly em 1997, na Escócia, ou da vaca Vitória, em 2001, pela Embrapa. “Por transferência de núcleo, a taxa de geração (de embriões) é baixa. Com as células-tronco embrionárias conseguimos mais eficiência de prenhez”, diz a pesquisadora. O estudo, intitulado “Isolamento e caracterização de células-tronco embrionárias bovinas”, ainda não está concluído e aguarda publicação na revista científica norte-americana Animal Reproduction Science, em dois meses. “Precisamos realizar testes in vitro que demonstrem as capacidades destas células se reproduzirem em qualquer tipo de tecido”, diz a pesquisadora.

Os resultados da pesquisa podem dar a Goiás lugar nas discussões acadêmicas em países desenvolvidos. A professora Lídia Guillo, que trabalha com mais dois doutores, uma doutoranda, um mestrando e quatro biomédicos, ressalta que qualquer certeza acerca da pesquisa pode ser precipitada, mas adianta que as expectativas são muito animadoras. “Temos que ter cautela, afinal nenhum trabalho tem valor antes da publicação em revista científica”, aponta, mostrando edição recente da revista Nature Genetics, uma importante publicação científica mundial, com artigo que destaca a importância da compreensão dos mecanismos de diferenciação de células-tronco embrionárias bovinas na clonagem terapêutica humana.

O mérito da pesquisa da UFG mora no fato de que, futuramente, uma vez isolada a célula-tronco embrionária humana, o transplante de células para clonagem teraupêutica será realizado com mais eficiência e facilidade. “A pesquisa com células bovinas é esclarecedora porque oferece modelos cada vez mais próximos ao ser humano. Mas o maior problema talvez seja a questão ética”, afirma a professora Lídia Guillo, fazendo referência ao fato de que a Igreja Católica condena experimentos com material embrionário humano. “Atualmente, utilizamos células-tronco embrionárias de camundongos, que não são as mais promissoras em estudos de clonagem terapêutica”, diz.

Reprodução – Células-tronco são células-mãe que têm capacidade de reproduzir outros tipos de células a partir da auto-replicação. Significa que, a partir do contato com um tecido qualquer do corpo, estas células assumem características das células anteriores e começam a se reproduzir como se fossem parte do tecido. Por isso a técnica aparece como grande esperança no tratamento de doenças degenerativas, em que há destruição celular. É o caso do câncer, Alzheimer, doenças do coração, Mal de Chagas e mais uma gama de enfermidades em que há degeneração.

As células-tronco classificadas como pluripotentes têm capacidade de reproduzir todas as células do corpo, com exceção das células da placenta; oligopotentes se diferenciam em poucos tecidos; unipotentes conseguem se reproduzir em apenas um tipo de tecido. Há ainda as totipotentes, que podem produzir todas as células embrionárias e extra-embrionárias. As células embrionárias são consideradas pluripotentes porque apenas uma pode contribuir para formação de todas as células e tecidos no organismo.