Reflexo da história
Reflexo da história
Livro da professora Míriam Costa Manso defende
que, como as artes e a arquitetura, a moda reflete o
comportamento da sociedade ao longo dos tempos
Renata Dos Santos
Uma roupa ou acessório é retrato de uma época. Essa é a tônica de O Reflexo do Espelho, livro que Míriam da Costa Manso Moreira de Mendonça lança amanhã no 30º VIP, evento de moda no Memorial da América Latina, em São Paulo. A publicação do Cegraf foi lançada junto com outras obras da editora da UFG em dezembro do ano passado, no Museu Antropológico. Em linhas gerais, a obra de Míriam Costa Manso defende que, ao longo do tempo, a moda acompanha outras manifestações artísticas como as artes e a arquitetura.
O livro, de 258 páginas, é uma análise do vestuário como linguagem artística que, por causa do seu significado simbólico, expressa os sentimentos do indivíduo e destaca-se como elemento capaz de retratar o pensamento estético e a identidade visual de uma época. O conjunto é uma leitura rica com informações de moda, registros históricos e curiosidades que devem atrair tanto pesquisadores de moda como outros leitores.
Professora da Faculdade de Artes Visuais da UFG, a autora também traz no currículo a criação do curso de moda da FAV/UFG há 12 anos e atuações como estilista na capital. Ela reuniu no livro O Reflexo do Espelho a sua dissertação de mestrado realizada na Escola de Comunicação e Artes da USP.
O livro propõe um novo olhar para a moda. O assunto cada vez mais em voga na atualidade ainda descansa sob rótulos como a superficialidade e a futilidade. A leitura permite o entendimento de características marcantes do fenômeno, como a brevidade de tendências que invadem a passarela a cada temporada. “A moda é criada a partir de um conjunto de sentimentos imprecisos que adquirem formas e cores, constituindo a tradução da fisionomia breve de um momento histórico”, destaca a autora.
Segundo a professora, a cada estação, sem uma perceptível composição entre os estilistas, existe uma linha estrutural coincidente entre a maioria dos criadores. “Essa linha comum e nova se propaga misteriosamente em ondas cíclicas invisíveis, com raízes no estilo anterior para ser captada pelos designers que, a partir dela, compõem as formas de seu tempo e de seu ambiente”, explica.
A obra é valorizada por gravuras assinadas pela autora, que também é artista plástica e tem nas Belas Artes a base de sua formação. Os seus desenhos de vestuário estão reunidos em quadros de encarte didádico com trajes de todos os tempos, num passeio explicativo que começa na antiguidade e vai até o mundo contemporâneo.
Arte e design
Em entrevista ao POPULAR, a professora Míriam Costa Manso conta que, durante uma viagem a Veneza, na Itália, viu que as pessoas se ajeitavam ao passar diante de um espelho na porta de um hotel renascentista. Ao refletir sobre quantas pessoas de diferentes épocas já teriam passado por ali, ela iniciou sua pesquisa científica. Como professora de desenho do curso de Artes Plásticas da UFG, a autora percebeu que a moda, ao longo dos tempos, embora tratada como assunto frívolo, é uma manifestação artística como qualquer outra.
Em seu livro, desenhos como roupas dos assírios (com chale ou espiral envolvendo o corpo feminino) lembram construções da mesma época, como a lendária torre de Babel. “Elas retratavam o espírito da arte daquele tempo, como aconteceu com o gótico, o barroco e o renascentista”, reforça. No século 20, Coco Chanel foi pioneira na defesa de roupas confortáveis e no lançamento da onda das bijuterias com o papel de adornar.