Falta de motivação agrava evasão escolar

Jornal O Popular, 04/04/2007

Falta de motivação agrava evasão escolar

Estudo da FGV aponta que 7% dos estudantes em Goiás abandonam escola por não ver atrativos nas aulas. Necessidade de trabalhar agrava problema.

Ana Cristina Arruda

Mais de 8% dos estudantes brasileiros até 17 anos abandonam a escola por falta de motivação, de interesse em freqüentar as aulas. Em Goiás, esse índice cai para 7,19%, mas ainda é o principal motivo da evasão escolar, embora também pese nessa taxa de abandono a necessidade de trabalhar para ajudar no sustento familiar (veja quadro). É o que revela estudo divulgado ontem, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com base em dados de 2005 e 2004 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Denominada Eqüidade e Eficiência na Educação: Motivações e Metas, a pesquisa aponta também a relação direta entre anos de estudo, renda e chances de emprego.

Coordenador do estudo, o pesquisador da FGV Marcelo Neri destaca o fato de o levantamento demonstrar em números a incapacidade da escola de atrair os estudantes e atender seus interesses. Segundo observa, os jovens não estão na escola porque não gostam da escola que é oferecida a eles.

Analisando a pesquisa, Neri ressalta o fato de, em Goiás, o índice de abandono por falta de interesse na escola ser inferior ao nacional. Ele ressalva, porém, o indicador em relação à evasão por necessidade de gerar renda familiar, em que, no geral, por faixa etária, o índice no Estado - 1,80% - é superior ao nacional, de 1,43%. E alerta também para a taxa de abandono dos estudos por dificuldade de acesso na faixa dos 15 a 17 anos, em que o índice de Goiás, 2,55%, fica acima do registrado no País, 2,01%.

Coordenadora nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Trabalho, a procuradora do trabalho Jane Araújo Santos Vilani, que atua em Goiás, lamenta que no Estado a necessidade de trabalhar ainda seja motivo para crianças e jovens abandonarem a escola. “Combater essa realidade tem sido a nossa grande luta.” Jane Vilani observa que o trabalho rouba da criança uma das poucas chances reais de conseguir ascensão social: o caminho da educação.

Um dos instrumentos utilizados para tentar garantir a presença na escola, lembra, é a bolsa oferecida pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do governo federal. O Peti oferece remuneração a famílias de baixa renda para que a criança e o jovem deixem de trabalhar e freqüentem a escola, mantendo ainda uma jornada ampliada, com atividades lúdicas, por exemplo. Jane Vilani se preocupa, porém, com a estagnação do programa - em Goiás, em dezembro, eram oferecidas 61.555 bolsas, ao todo - e sua gradativa incorporação pelo Bolsa-Família, também do governo federal. Jane Vilani observa, porém, que evasão escolar determinada pela necessidade de trabalhar não pode ser analisada de forma separada de fatores como as dificuldades de acesso e o interesse pela escola.