Câncer avança, apesar de prevenção
Câncer avança, apesar de prevenção
Ministério aponta que 140 mil pessoas morrem por ano no Brasil
vítimas da doença. Mortes poderiam ser evitadas com exames simples
Isabel Czepak
Metade dos cerca de cem tipos de tumores malignos pode ser evitada por meio de cuidados preventivos, alimentação adequada, exames periódicos ou vacinas. Mas, hoje, Dia Mundial de Combate ao Câncer, especialistas fazem uma constatação preocupante: apesar da evolução dos métodos diagnósticos e do aperfeiçoamento dos meios de prevenção, a incidência da doença continua aumentando, assim como o número de óbitos.
Os dados mais recentes do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (referentes a 2004) apontam que 140 mil brasileiros morrem vítimas de câncer a cada ano. As neoplasias representam a segunda causa de morte no País - perdem apenas para as enfermidades cardiovasculares. Boa parte dessas vidas poderia ser salva com exames simples e baratos, como o papanicolau, para detectar o câncer de colo de útero, e PSA, para diagnóstico de câncer de próstata.
Rotina
“Apesar de uma melhora importante, infelizmente, algumas práticas preventivas ainda não foram definitivamente incorporadas à rotina de uma parte significativa da população”, comenta a oncologista Maria Paula Curado, coordenadora do Registro de Câncer de Base Populacional de Goiânia. Médica do Hospital Araújo Jorge, referência para tratamento da doença no Centro-Oeste, Maria Paula comenta que esse é o caso, por exemplo, do uso do filtro solar, da abstenção do cigarro e de bebidas alcoólicas e da realização de exames como a mamografia.
“Trinta por cento dos casos de câncer de mama ainda são diagnosticados em estágios avançados”, confirma o médico do Serviço de Ginecologia e Mama do hospital, Ruffo de Freitas Júnior. O dado revela que é preciso ampliar ainda mais o acesso ao exame e educar as mulheres para realizá-lo anualmente a partir dos 40 anos. Em Goiás, a cobertura dos serviços é de 60% e a qualidade dos exames melhorou. Porém, só 10% a 15% dos casos de câncer de mama são detectados no estágio um, em que as chances de cura são de 90%.
Inversão
Mesmo tendo havido uma melhora surpreendente nas últimas décadas, o mesmo problema ocorre com o câncer de colo de útero. “Em 1988, para cada caso de carcinoma in situ (câncer em estágio inicial), registrávamos cinco cânceres invasores. A partir de 2002, temos observado uma inversão no quadro, com o registro de um caso de câncer invasor para cada dois casos in situ”, assinala Freitas Júnior.
“Mas, ainda é preciso melhorar muito. O porcentual de casos invasores poderia baixar para um em cada dez casos, ou seja, restringir-se a 10%, se todas as mulheres fizessem a prevenção”, diz o médico.