Biodiesel - À sua disposição

Jornal O Sucesso, 07/04/2007

Biodiesel - À sua disposição

Carolina Melo e Flávia Guerra especial para O Sucesso

Pouco mais de um ano após começar a ser comercializado em postos goianos, o biodiesel conquistou seu espaço no mercado de combustíveis. Com fama de ecologicamente correto, o óleo a base de matéria orgânica ocupa, atualmente, bombas em quase todos os postos das distribuidoras AleSat e Ipiranga, além da Petrobrás, totalizando mais de 50 pontos de comercialização somente em Goiânia.

Misturado na proporção de 2% ao óleo diesel comum (B2), o produto deverá ser obrigatoriamente comercializado em todos os postos do país até janeiro de 2008. A intenção do Governo Federal é aumentar gradativamente essa proporção para que, em 2013, o biocombustível passe a ser comercializado na forma de B5, ou seja, com 5% de acréscimo do biodiesel ao diesel comum. No entanto, dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) revelam que esse objetivo pode ser alcançado antes do prazo, já em 2010.

Em Goiás, a primeira bomba de biodiesel passou a funcionar em dezembro de 2005, num posto da distribuidora AleSat, que fechou o ano de 2006 com nada menos que 27 postos disponibilizando o produto. De lá pra cá, as distribuidoras BR (Petrobrás) e Ipiranga também aderiram à novidade. Segundo informações do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás (Sindposto), os resultados só não são melhores porque a chance de divulgação do produto acabou não sendo devidamente explorada pelo Governo.


De qualquer forma, o biodiesel vai, aos poucos, ocupando o espaço almejado pelos defensores da geração de energia renovável. Usinas em funcionamento chegam a produzir, atualmente, 640 milhões de litros por ano. Quando as novas usinas em fase de construção passarem a funcionar, a produção pode saltar para 1,3 bilhão de litros anuais. Segundo a ANP, isso é quase o dobro do necessário para cumprir os 2% de biodiesel a ser adicionado ao diesel comum até janeiro de 2008.

Na análise do professor Nelson Antoniosi Filho, coordenador da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel do Ministério da Ciência e Tecnologia, Goiás será um dos pólos de produção, juntamente com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em pouco tempo, acredita Antoniosi, o Estado será auto-suficiente e indispensável ao abastecimento de outras regiões do País.


Curiosos quanto aos benefícios e ao processo de fabricação do produto, alguns motoristas goianos ainda hoje costumam questionar os proprietários dos postos sobre o funcionamento do novo combustível. Segundo o presidente do Sindposto e proprietário do posto Pucci II, Luiz Pucci Filho, na época da introdução do produto no mercado houve desinformação entre os consumidores, mas nada que afetasse as vendas nos postos. “Os motoristas que usam o óleo diesel comum quiseram saber como era o produto, como era processado, mas não resistiram à mudança. Mesmo porque a porcentagem de biodiesel no óleo ainda é muito pequena e não há nenhum risco de dano ou diminuição da eficiência dos motores dos carros”, explica Pucci.

Benefícios ambientais são discutíveis


Seguindo a tendência nacional, o uso do biodiesel crescerá gradativamente em Goiás. De acordo com a professora Ana Christina Kratz, superintendente de Estudos e Projetos Estratégicos da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, a propagação das vantagens econômicas e sociais no uso do biocombustível vem sendo feita conjuntamente com a Embrapa, Ministério da Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual e Universidade Federal de Goiás (UFG). “O objetivo é promover desenvolvimento sustentado nas dimensões social, econômica e ecológica”, explica Ana Christina.

Para a professora, a tendência mundial é procurar saídas para os problemas ambientais que castigam o planeta. A substituição do diesel comum seria uma boa alternativa para reverter o alarmante quadro de poluição, já que a queima de combustíveis derivados do petróleo são os maiores responsáveis pelo problema. Segundo ela, melhorar as condições ambientais, sobretudo nos grandes centros metropolitanos, como Goiânia, significa evitar gastos dos governos e dos cidadãos no combate aos males provocados pela poluição.


No entanto, a tarefa não é simples, avalia o professor da UFG e coordenador da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel do Ministério da Ciência e Tecnologia, Nelson Antoniosi. Os benefícios advindos com a utilização do biodiesel só serão notados e levados em conta se medidas ambientais forem adotadas desde o cultivo da matéria-prima, acredita o professor.

Assim como informa Antoniosi, a principal espécie vegetal utilizada para a produção do óleo orgânico em Goiás é a soja, cuja plantação vem causando polêmica devido às conseqüências ecológicas desfavoráveis, como, por exemplo, o desgaste do solo e a devastação do cerrado. Também plantações de cana-de-açúcar, prejudiciais ao ambiente, tendem “a invadir” o Estado com o consumo do biodiesel.


Para evitar os impactos ambientais, políticas para minimizar a devastação devem ser priorizadas, na análise do professor. “Não adianta falar que não haverá impacto ambiental, pois terá. Resta é a adoção de políticas que preservem às áreas de conservação do cerrado”, enfatiza Antoniosi. Até agora, no entanto, não há nenhuma política ambiental dentro do Programa Nacional de Biodiesel que garanta o controle ecológico da produção de matéria-prima para o óleo vegetal.

Pequi é matéria-prima para biodiesel goiano


No ano de 2006, Goiás por meio da Universidade Federal foi o responsável por 10% da produção científica nacional sobre biodiesel. Com o estímulo de contribuir para o desenvolvimento da geração de energia com preservação ambiental, a pesquisa que testou matérias-primas nativas do cerrado, como o pequi, para a produção de óleo ganhou destaque nacional.

“A utilização de espécies nativas da região para produção de alimentos e de óleo vegetal é uma saída para minimizar a degradação do ambiente”, afirma Nelson Antoniosi. O professor explica que, de acordo com os resultados colhidos, a utilização de pequi, além de recuperar solos degradados, viabiliza economicamente a produção de biocombustíveis sem prejudicar o cerrado.


Outro enfoque da pesquisa goiana é a avaliação da qualidade do biodiesel disponibilizado para o consumidor. Para isso, dois métodos de análise qualitativa foram desenvolvidos e serão disponibilizados para todo o País, com o objetivo de garantir ao motorista, por exemplo, o acesso a um biocombustível sem formação de depósitos, com rendimento adequado e não-prejudicial ao motor dos automóveis. Segundo o professor Antoniosi, os testes que avaliaram o biodiesel utilizado em Goiás constaram a boa-qualidade do produto.

Saiba mais


Biodiesel é um combustível alternativo de queima limpa, produzido de recursos domésticos renováveis, derivados de óleos vegetais como girassol, mamona, soja, babaçu e demais oleaginosas.

A gordura animal também vem sendo utilizada na mistura com o diesel comum. Para isso, um processo especial remove a glicerina do óleo.


Segundo registros históricos, Rudolp Diesel, inventor do motor a diesel, usou óleo de amendoim para alimentar um motor, em 1900.

Atualmente, apenas a mistura B2 está regulamentada e validada tecnicamente, inclusive com garantia assegurada pelos fabricantes de veículos.


O preço do produto não sofreu alteração nas bombas de postos após a mistura do biodiesel ao diesel comum.

Em 2008, a capital do Paraná, Curitiba, deve testar um combustível 100% composto de biodiesel (B100) numa parcela da frota de ônibus da cidade.