Dia do Índio Voz ameaçada (Jornal Diário da Manhã, 19/04/2007)

Jornal Diário da Manhã, 19/04/2007

Dia do Índio
Voz ameaçada

Das 1.200 línguas nativas da época do descobrimento, só restam 180, mostra pesquisa

Max Miranda
Da editoria do DMRevista

Em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, estimava-se que havia por aqui cerca de seis milhões de índios. Atualmente, há cerca de 460 mil, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai). Passados os tempos de matança, escravismo e catequização forçada, estes povos que foram praticamente extintos comemoram hoje, 19 de abril, o dia dedicado à eles. A data simbólica foi criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas, quando foi realizado, no México, o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano.

“Das 1.200 línguas indígenas existentes na época do descobrimento, só restaram 180.” O dado foi extraído da tese de doutorado de Sinval Martins de Sousa Filho, 34, sobre Língua Indígena, defendida ontem na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG). “A documentação, descrição e análise dessas línguas é uma tarefa a se cumprir”, conta Sinval, professor da Faculdade de Letras e o primeiro doutor em lingüística da cidade de Caiapônia, Goiás.

A pesquisa de campo para a realização do projeto Aspectos Morfossintáticos da Língua Akwe-Xerente (Jê) foi realizada na sociedade Xerente, ou Akwe, da família lingüística Jê dos Postos Indígenas Xerente e Funil, em Tocantínia (TO), em 2003. De acordo com as pesquisas dele, durante os 20 últimos anos, lingüistas do mundo todo têm assinalado a dramática suituação de perda de línguas minoritárias em um curto período de tempo. “Este estudo é uma contribuição à lingüística e aos indígenas que falam a língua Akwe-Xerente, língua do Brasil Central filiada à família lingüística Jê, falada por mais ou menos 3.100 indivíduos”, revela. Como várias línguas indígenas, a língua Akwe-Xerente se encontra ameaçada de extinção, segundo Sinval.

O estudo preenche uma lacuna nas pesquisas sobre línguas indígenas no Brasil. “Por um lado, fornece informações sobre a gramática da língua Akwe-Xerente, contribuindo com os estudos da ciência língüística. E, por outro lado, reduz o número de línguas que não foram descritas”, explica. Sinval Martins conta que os objetivos da tese de doutorado são variados. Tornar conhecida uma língua indígena do território brasileiro é um motivos que levaram o professor à pesquisa. “Contribuir com os estudos lingüístico-comparativos da família Jê e propiciar aos falantes de uma língua ameaçada de extinção condições para a elaboração de materiais didáticos na língua indígena, e, com isso, de propor ações de vitalização da língua Akwe-Xerente”, comenta Sinval os outros motivos.

Em 2003, com a abertura do curso de doutorado em Letras e Lingüística na Faculdade de Letras da UFG, Sinval decidiu voltar aos estudos acadêmicos. “Nessa etapa, tendia à descrição do sistema lingüístico da língua Akwe-Xerente, uma vez que essa atividade nos possibilitaria continuar contribuindo com o processo de educação escolar indígena Xerente.

 

Receitas indígenas
Na coleção Textos Indígenas
Série Receitas, a escrita Xerente ensina receitas culinárias e medicinais, com tradução para o português. É uma publicação financiada pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC), dentro do Programa de Promoção e Divulgação de Materiais Didático-Pedagógicos sobre Sociedades Indígenas, recomendada pelo Comitê de Educação Escolar Indígena, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Tocantins. Abaixo, o desenho Xerente que ensina como fazer um bolo de arroz (Karos kbu), assinada por Wakrtadi Noemi da Mata de Brito Xerente, com tradução em português.

Palavras Tupinambá (Tupi-Guarani) incorporadas ao Português:
Iguaçu - Rio Grande
Ipiranga - Rio Vermelho
Jacareí - Rio dos Jacarés


Outras palavras:
Tucano, jacarandá, ipê, cipó, mandioca, cupim, ananás, cuia, mamão, urubu, pirão, oca, tipóia, pixaim, caju, sabiá, peteca, guará, piranha, tapioca, capim, arara, pipoca, mingau, tamanduá, siri, samambaia, pamonha.

Vozes indígenas
Tikúia (Amazonas) 33 mil falantes
Kaiwá (Mato Grosso do Sul) 15 mil
Kaingang (RS, SC, PR e SP) 25 mil
Makuxí (MS e SP) 16.500
Teréna (MS e SP) 17.500
n Segundo Sinval Martins, todas as outras línguas têm menos de 10 mil falantes.

Voz Xerente
3.100 falantes

Em Goiás
Karajá (Aruanã) 150 falantes
Tapuio (Rubiataba) 280
Avá-Canoeiro (Minaçu) 5