A quem interessa um Brasil desigual?
A quem interessa um Brasil desigual?
Lúcia Vânia
Um dos mais graves desafios que o Brasil enfrenta são as desigualdades regionais. Apesar da grande extensão territorial que forma nosso país, estamos apequenados pela enorme diferença econômica, social e cultural entre um único povo: o brasileiro.
Essas disparidades se agravam a partir do momento em que o próprio governo, que deveria trabalhar para diminuí-las, faz exatamente o contrário: concentra a distribuição de recursos em regiões já privilegiadas, em detrimento daquelas que, pela própria história, são as mais pobres de nosso país.
A cada dia faz-se mais urgente uma política de desenvolvimento regional para o Brasil. Uma política anunciada no começo do ano pelo presidente Lula, tão logo lançou o PAC, e que viria para superar as desigualdades regionais. Mas já estamos chegando ao mês de maio e nenhum empenho mais articulado surgiu para tirar do papel a Política Nacional de Desenvolvimento Regional prometida.
Ao contrário, o que o governo tem feito é apresentar propostas contraditórias que acabam resultando em verdadeiros entraves ao crescimento dessas regiões. De que adianta uma política nacional de desenvolvimento regional se o presidente Lula veta artigos fundamentais dos projetos de recriação da Sudene e da Sudam, aprovados pelo Congresso Nacional?
Com esses vetos, o governo está enterrando as duas superintendências capazes de garantir o progresso do Norte e do Nordeste, tão díspares em avanços econômicos em relação às demais regiões do País.
A última ironia do governo foi a criação de um grupo de trabalho, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que em 30 dias deverá apresentar sugestões para ampliação das linhas de financiamento para as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ora, se mutilou as duas superintendências, por que se preocupa agora em criar um grupo de trabalho para ampliar os financiamentos para as mesmas?
Números apresentados pelo ex-presidente do BNDES, Demian Fiocca, na véspera de sua demissão, mostram que a instituição destinou, entre 2005 e 2006, um volume de empréstimos e financiamentos para a Região Sudeste de 9%, enquanto para o Norte foi de 1%! De R$ 52 bilhões, a Região Sudeste ficou com R$ 31,414 bilhões; a Região Sul com 9,782 bilhões; o Centro-Oeste com R$ 3,659 bilhões; o Nordeste com R$ 4,836 bilhões e o Norte com R$ 1,318 bilhão.
A Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) está mobilizada desde o início desta legislatura para lutar contra essa discriminação. Não entendemos por que a demora na convocação do Congresso para apreciação dos vetos presidenciais à Sudam e Sudene.
A CDR quer o apoio dos demais parlamentares para essa causa. A derrubada dos vetos é o caminho para garantir o desenvolvimento regional e integral de nosso país.
Lúcia Vânia é senadora (PSDB), presidente da
Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo.