O Brasil precisa investir mais em seus jovens
Jornal O Popular, 30/03/2007
O Brasil precisa investir mais em seus jovens
Sebastian Pereira
A desigualdade social brasileira, resultado de uma histórica concentração de renda, nivela por baixo a parcela mais pobre da população – são contornos nada positivos nos aspectos de segurança pública, educação e falta de oportunidades de trabalho.
Na medida em que se vêem ampliar os casos de criminalidade evidencia-se a precária estrutura do sistema prisional. Na semana passada, quando a polícia civil deflagrou uma operação de cumprimento de mandados de prisão, pôde-se constatar que há um contingente de foragidos superior a 500 mil pessoas em todo o País, enquanto outros 400 mil cumprem penas nos presídios nacionais.
Outro dado sombrio e que deve merecer mais atenção dos agentes públicos e da sociedade organizada é que, em 2006, 15.246 jovens estavam presos nos chamados centros de internação das 27 unidades da Federação. Em Goiás, são mais de 300 adolescentes que vivem nessa crítica situação, alguns envolvidos em crimes bárbaros. Em São Paulo, onde há o maior número de jovens em conflito com a Justiça, mais uma fuga de 55 infratores ocorreu domingo.
Para uma hipotética recuperação dos menores infratores, o poder público gasta cerca de R$ 4 mil por interno, segundo dados do Ministério da Justiça. São mais de R$ 67 milhões por mês. Próximo de R$ 1 bilhão por ano, pois nessa conta não estão os adolescentes em sistema de liberdade assistida.
Lamentavelmente, muitos jovens acabam virando fregueses da criminalidade, e boa parte, ainda que bem-intencionada, não consegue emprego no mercado formal, quando conhecido seu passado no mundo ilegal. A justificativa para a prática de crimes é a desagregação familiar e a falta de recursos para manutenção do padrão mínimo de vida desejado por qualquer jovem. Em suma, é preciso rever as políticas de amparo aos jovens e investir mais em educação e desenvolvimento sociocultural. Os investimentos atuais nessas áreas ficam aquém do desejável.
Como contraponto nesse enorme fosso social, em que milhares de pessoas não conseguem suprir necessidades básicas, entra o poder público, que institui programas para apoiar os mais humildes. Em pleno século 21, quase 15 milhões de famílias brasileiras vivem da dependência governamental, ancoradas em programas como Renda Cidadã e Bolsa Família, que distribuem dinheiro como complemento de renda.
São ações paliativas, incapazes de erradicar a miséria, e mantêm na subserviência cerca de 40 milhões de indivíduos, perpetuando as políticas assistencialistas mantidas pelos governos federal, estaduais e municipais.
No campo do trabalho, vê-se que uma das principais preocupações do cidadão é a falta de emprego – e as pesquisas de mercado mostram que os jovens com idade entre 15 e 24 anos são os que mais sofrem os efeitos do desemprego no Brasil. A explicação mais usual é de que falta experiência. Mas, como adquirir experiência se não dão a primeira chance de trabalho?
A cada ano, cerca de 2,5 milhões de jovens entram na fila da busca de trabalho. Desse total, cerca de 250 mil são egressos das universidades, profissionais qualificados nas diferentes áreas do conhecimento e, ainda assim, muitos enfrentam grandes dificuldades para conseguir emprego. Imaginem os que não têm qualificação. E as iniciativas de qualificação por parte do setor público nunca foram tão ruins quanto no governo Lula. Goiás, por exemplo, não tem recebido mais do que R$ 2 milhões por ano e, para piorar, a Secretaria do Trabalho não tem sido eficiente para investir esse montante em ações efetivas de capacitação.
O resultado é que uma acentuada angústia acompanha milhares de jovens que buscam apoio nas unidades do Sistema Nacional de Empregos (Sine) e, ao serem encaminhados para as empresas, são reprovados no momento da entrevista. Muitos não tiveram a chance de fazer um curso de capacitação técnica e outros não tiveram sequer uma formação educacional adequada.
Pra complicar o cenário, a baixa expansão da economia nacional inibe a geração de mais postos de trabalho e as aviltantes cargas tributária e trabalhista impedem o setor empresarial de remunerar melhor seus empregados.
Em 2006, segundo informações do Ministério do Trabalho, 40 mil jovens conseguiram emprego por meio do programa Jovem Aprendiz, em todo o País. Indicador vexatório, se comparado à expansão do desemprego, que margeia os 10% da população economicamente ativa nacional, nas principais regiões metropolitanas, segundo o IBGE.
Só em Goiás, são mais de 17 mil jovens cadastrados no Sine à espera do primeiro emprego, desde 2005. Outros milhares aguardam a oportunidade de ingresso no Programa Jovem Cidadão, mantido pelo Estado em parceria com uma ONG. O pior é que os jovens são obrigados a deixar o programa numa das etapas mais difíceis da busca do segundo emprego, próximo dos 18 anos, quando se tem o compromisso compulsório com a questão militar – e nenhum empresário quer contratar trabalhador nessa indefinição. O ponto válido do Jovem Cidadão é que, de fato, exige que os adolescentes estejam freqüentando a escola. Mas só isso não resolve.
Ainda assim, há muitas pessoas interessadas nessa modalidade de trabalho. O fato é que os 170 reais de remuneração a cada um dos 2,1 mil jovens contemplados com a ação fazem diferença no somatório da renda. É preciso repensar e melhorar esse modelo de inclusão.
Situação pior é o Programa Pró-Jovem, do governo federal, que oferece uma bolsa de apenas R$ 100 (durante seis meses) para o trabalhador sem qualificação e que ainda não conseguiu completar sequer o ensino básico. Os jovens nessa situação vivem sem emprego e sem renda. Esse contraditório precisa ser revisto.
O País precisa cuidar melhor de seus jovens e o investimento mais vantajoso é evitar que meninos e meninas sejam ocupantes das celas nos famigerados centros de ressocialização que de virtude pouco ou nada têm. Essa questão não é responsabilidade somente dos governos.
Sebastian Pereira é jornalista