Todos pela Educação, por Valterli Guedes

Jornal Diário da Manhã, 26/04/2007

Todos pela Educação, por
Valterli Guedes

A vida é curta. Não há tempo para concretizar todos os sonhos. Um sonho que fui relegando, relegando e temo não colocá-lo em prática nunca é o de ser professor. Trata-se de uma atividade emblemática, para mim capaz de significar mais que qualquer outra o sentido da construção de um mundo melhor: de paz, descobertas, criação, de sabedoria; enfim, de sonhos realizados.

Mas, pensando bem, concluo haver priorizado outras atividades profissionais em decorrência da baixa remuneração atribuída à maioria dos professores. Nem sempre foi assim. Com a expansão do ensino, inclusive na área privada, o professorado ficou tão relegado que, fosse eu hoje um professor do ensino público em Goiás, instigaria as entidades representativas da categoria a encetar campanha visando nivelar os salários dos mestres ao que é pago ao soldado da Polícia Militar.

A quem perguntar-me sobre o porquê da sugestão, recomendarei a leitura do noticiário dos jornais de ontem (25/04/2007), sobre o lançamento solene e pomposo, pelo presidente Lula, do PDE – o Plano de Desenvolvimento da Educação, definido por sua excelência como “gigantesco”. Ainda assim, como diria Chico Anísio, “o salário, oh...” O mínimo previsto do PDE, na verdade uma conquista se comparado ao que ganha o professor nos grotões do Brasil, é de 850 reais para 40 horas trabalhadas. Pois o soldado da nossa PM ganha 1.700 reais por mês, o dobro do que será garantido ao professor. Ambos são extremamente necessários e úteis, num país de analfabetos dominado pela violência. Contudo, é preciso pensar mais no professor, até porque nos concursos para soldado é exigido comprovar a conclusão do 2° grau, enquanto para dar aulas exigi-se curso superior. Então mestre, é conversar com a colega de vocês, a professora Milca Severino, secretária da Educação, para que a reivindicação seja levada ao governador Alcides Rodrigues, que por sinal já proclamou a Educação como prioridade. Para início de conversa, que se nivele a base dos vencimentos do professor da rede estadual ao soldo do policial militar em início de carreira.

Com o tempo, é preciso fazer muito mais. O presidente Lula destacou o compromisso Todos pela Educação. Ótimo. Espera-se que isso tenha um sentido permanente. Basta de factóides; de lançamentos grandiloqüentes de novos programas que em seguida caem no esquecimento. Ficou-me essa impressão sobre o governo Lula desde que, logo na primeira semana do primeiro governo, o presidente e auxiliares empreenderam viagem a Guaribas, no Piauí, mas a caravana não conseguiu passar de Teresina. É necessária uma maior determinação. Não titubear. A Coréia do Sul é hoje uma potência mundial. Há 40 anos, era subdesenvolvida. Cresceu porque investiu pesado em Educação. A Coréia do Sul aplica por ano, só em Educação, cerca de um trilhão de dólares ou, para se avaliar melhor, algo como o PIB brasileiro, o de agora, depois de recalculado.

O presidente falou bonito durante o lançamento do PDE. Referiu-se a “um novo tempo”, cujo início seria “capaz de assegurar a primazia do talento sobre a origem social e a prevalência do mérito sobre a riqueza familiar”.

Isso, presidente, só será exeqüível com muito dinheiro e total empenho. Como, aliás, queria seu ex-ministro da Educação, senador Cristóvam Buarque, que, justamente por essa proposta, foi defenestrado do ministério. Pelo telefone.

Valterli Guedes é advogado, jornalista, sócio do escritório Guedes e Willar
Advogados, diretor e editor-geral da revista Hoje. Escreve às quintas-feiras neste espaço (valterliguedes@hotmail)