Impulso ao mercado de trabalho
Impulso ao mercado de trabalho
O dia 1º de maio serve como momento de reflexão para os trabalhadores, empregadores e agentes públicos em todo o País. É preciso lutar para fortalecer e impulsionar o mercado de trabalho brasileiro, pois é assim que se contribui para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e para a busca do equilíbrio na distribuição da renda. Mas o cenário é muito desigual. Uma pequena parcela de empregados está satisfeita, trabalha na área que gosta e tem remuneração compatível com a atividade desempenhada, seja ela, formal ou informal. Entretanto, há um enorme contingente de insatisfeitos. Muitos porque ganham menos do que merecem, outros por estarem fora do mercado formal e milhares de outros porque, simplesmente, não conseguem emprego.
Sebastian Pereira
Os professores da rede pública, por exemplo, com toda razão, não gostaram do piso salarial (850 reais) sugerido pelo governo e os que recebem o salário mínimo de 380 reais também não têm muito o que comemorar. Mas essa é a realidade reinante no Brasil, com exceção da pequena elite que ganha acima de 10 mil reais por mês. A maioria de assalariados é que age com “heroísmo” para fazer o dinheiro render até o fim do mês. Entre as conseqüências dos baixos salários está a abundante oferta de trabalhadores no mercado, influenciada pelo baixo crescimento da economia e o elevado fardo dos encargos trabalhistas – criticado por todos os empregadores –, com reforço do atual ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
Conseqüências desses percalços atingem pessoas qualificadas e, de forma mais crítica, o grupo de trabalhadores sem capacitação. Nesse panorama é evidente que as pessoas com melhor formação educacional buscam alternativas para fugir dos baixos salários e os concursos públicos têm se apresentado como boa perspectiva de emprego. Seja pela estabilidade, pela possibilidade de ascensão ou salário diferenciado.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que em breve selecionará cerca de 3 mil agentes sanitários, contabiliza mais de 650 mil pessoas inscritas em todo o País. Somente em Goiás são 98 mil candidatos disputando 47 vagas. Que concorrência!
Muitos dos jovens que se dedicam à preparação para se classificarem nos concursos, após a aprovação ainda sofrem com a incerteza da contratação. Veja o exemplo da Assembléia Legislativa de Goiás, onde mais de 120 classificados não sabem quando ou mesmo se serão convocados. O mesmo ocorre na Câmara de Goiânia.
Noutra vertente, milhares de trabalhadores não têm a opção de disputar um concurso e dependem exclusivamente das vagas ofertadas pelo setor de serviços, nas indústrias, no agronegócio ou na informalidade. Muitas das atividades exigem capacitação e faltam trabalhadores qualificados no mercado. Goiás ocupa a 10ª posição no PIB nacional e comemora a expansão de empresas e perspectivas de geração de mais postos de trabalho em todos os segmentos, mas, a exemplo de outras regiões, não tem política eficaz de capacitação.
Na semana passada, o Ministério do Trabalho anunciou, em encontro nacional de secretários da área, a liberação de recursos para formação profissional e Goiás não vai receber mais que R$ 2,1 milhões em 2007, para esse fim. Isso não é suficiente para qualificar mais que 5 mil trabalhadores no Estado. Quem não tem dinheiro para bancar um curso particular nas conceituadas escolas de formação depende da ajuda do poder público.
O governador Alcides Rodrigues sinaliza implantar a Bolsa Qualificação como medida para alavancar as ações de capacitação no Estado. O programa prevê pagamento de bolsa-auxílio para o trabalhador custear despesas básicas enquanto se aprimora. A iniciativa é positiva e merece o engajamento dos setores organizados (entidades classistas, sindicais e patronais), consolidando em resultados práticos para a empregabilidade. Mas, tem de sair do papel.
O governo deve priorizar e investir mais na estruturação da Secretaria do Trabalho, tornando-a mais dinâmica e presente nos setores organizados, modernizando-a com equipamentos de apoio e incentivo à equipe de profissionais que atua nas áreas de captação de vagas junto às empresas. É preciso estabelecer parcerias com foco na redução da informalidade, delineando formas de dar suporte aos excluídos, que hoje vêem na pirataria e no contrabando o modelo de sobrevivência.
Sebastian Pereira é jornalista
sebasgyn@gmail.com