Estudar para quê?

Jornal O Popular, 10/05/2007

Estudar para quê?

José Carlos Mendonça

A Constituição da República normatiza que a educação é um direito de todos e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205).

Na perspectiva da educação cidadã delineada nessa norma constitucional, e que se contrapõe à educação tradicional, muitos jovens se perdem no vazio da prática educacional sem saber por que devem estudar. Assim indagam: estudar para quê?

Diante dessa interrogativa, educadores vesgos respondem a seus alunos que devem estudar para passar no vestibular, obter melhor emprego, ter mais dinheiro. É verdade que a educação pode propiciar tudo isso. Entretanto, esses argumentos caem por terra quando identificamos cidadãos que sequer prestam vestibulares, porque não têm perspectiva de aprovação ou mesmo condições financeiras de custear seus estudos. Por outro lado, temos pessoas que concluíram o curso superior e estão desempregadas. Há ainda casos de advogados, médicos, odontólogos, bioquímicos e, principalmente, professores com renda mensal inferior do que pessoas que mal sabem ler. Nosso presidente da República não estudou em nenhuma universidade.

Portanto, os argumentos para que estudemos devem ir ao encontro da própria razão de existir do ser humano, visualizando a filosofia e a sociologia da educação, onde podemos compreender a necessidade de estudar para nos desenvolver como pessoas, de forma contínua, apropriando da cultura de nossos antepassados, adquirindo condições de refletir a respeito das variadas maneiras de exploração do homem pelo próprio homem, objetivando reduzir as desigualdades e os modos de exclusões sociais para que possamos comungar uma sociedade mais justa e fraterna.

Com esse pensar, poderemos dar motivação à prática de estudar, possibilitando ao educando se conscientizar de que ele é sujeito no processo de sua aprendizagem e que através dela conquistará paulatinamente sua autonomia enquanto ser racional, defendendo-se das inúmeras formas de opressão provocadas pelo Estado e seus governados.

Assim, devemos estudar não para o acúmulo de bens e poder, mas sim para o nosso aperfeiçoamento como pessoas e para a efetivação do exercício da cidadania na sua ampla concepção.

José Carlos Mendonça é procurador de Justiça e mestrando em Educação