Educação para o trabalho, por Valterli Guedes
Jornal Diário da Manhã, 10/05/2007
Há altos índices de desemprego no Brasil. Isso é preocupante em vista das conseqüências. 10% da força de trabalho, sem emprego, é uma grave ameaça à estabilidade social. Daí os esforços dos governos para amenizar a crise, com a instituição dos programas sociais, tipo Fome Zero, Bolsa Família e suas variáveis.
Mas se existe mão-de-obra disponível, também existem vagas nas empresas. Só que com a exigência de qualificação. Então, temos o desempregado e temos o emprego, só que o primeiro não está preparado para o segundo. Cabe aos governantes dar ênfase a programas de qualificação da mão-de-obra, voltados, prioritariamente, para os integrantes dessas famílias atendidas pelos programas sociais. Sem isso, corre-se o risco de institucionalizar o pária, o carente-assumido.
Segundo estatísticas da Secretaria da Cidadania do Governo de Goiás, 38% das 59.000 famílias pioneiras, aquelas que em 1995 começaram a receber a cesta de alimentos instituída pelo então governador Maguito Vilela, permanecem inscritas no programa “Renda Cidadã” instituído pelo ex-governador Marconi Perillo. O programa, hoje, contempla mais de 150 mil famílias.
Sei que as autoridades procuraram abrir caminhos. A ex-secretária Linda Monteiro instituiu o “Criando Oportunidades”, paralelo ao “Renda Cidadã”. Foram ministrados cursos de até quatro meses de duração, treinando padeiros, eletricistas, manicures, torneiros, entre outros. Mas tais cursos foram insuficientes. São elevados, a meu ver, os índices (38%) dos pioneiros ainda dependentes desse programa. Estão virando “profissionais” do favor público. Isso não é bom. Ou o indivíduo é incapaz e assim deve ser aposentado ou tornar-se beneficiário de uma pensão, ou ele precisa ser levado a realizar um consistente esforço para, aí sim, ter a verdadeira renda cidadã: o fruto do seu trabalho.
Então, mais importante que a própria renda cidadã, ou tanto quanto esta, é a educação voltada para o trabalho. É preciso pesquisar as necessidades das empresas e preparar o trabalhador para as vagas existentes. Para isso é importante mobilizar todos os que de alguma forma possam oferecer contribuição: Senai, Senae, Sebrae, Senat, Senar, secretarias e demais instituições públicas voltadas para o social. Um verdadeiro mutirão de treinamento. Criar uma mentalidade voltada para o trabalho será bom para o Brasil. É preocupante ler matérias como a publicada em O Popular (08/05/2007): “Bolsa Família – bloqueados 12,5 mil benefícios”. O que significa isso? A resposta é clara: gente pobre, o povão, fazendo, dentro de suas limitações, o que sabe ser feito na alta cúpula. Em outras palavras: sanguessugas, mensalões, verba indenizatória, licitações fraudadas...
O que dizer dos jovens do Pró-Cerrado (antigo-Pró-Jovem)?
Admitidos por repartições públicas estaduais a partir dos 14 anos, com tempo de permanência até os 16 anos e três meses, eles vivem apenas um pequeno hiato em meio ao sufoco. Pouco ou nada aprendem nesse período de “emprego”. De um modo geral, não passam de contínuos.
Recebem e repassam recados, vão ao banco e nada mais. Por que não treiná-los para que possam desempenhar uma atividade mais consistente?
Sem isso, não se resolve o problema em definitivo.
Valterli Guedes é advogado, jornalista, sócio do escritório Guedes e Willar Advogados, diretor e editor-geral da revista Hoje. E-mail: valterliguedes@hotmail.com
Educação para o trabalho, por Valterli Guedes |
Há altos índices de desemprego no Brasil. Isso é preocupante em vista das conseqüências. 10% da força de trabalho, sem emprego, é uma grave ameaça à estabilidade social. Daí os esforços dos governos para amenizar a crise, com a instituição dos programas sociais, tipo Fome Zero, Bolsa Família e suas variáveis.
Mas se existe mão-de-obra disponível, também existem vagas nas empresas. Só que com a exigência de qualificação. Então, temos o desempregado e temos o emprego, só que o primeiro não está preparado para o segundo. Cabe aos governantes dar ênfase a programas de qualificação da mão-de-obra, voltados, prioritariamente, para os integrantes dessas famílias atendidas pelos programas sociais. Sem isso, corre-se o risco de institucionalizar o pária, o carente-assumido.
Segundo estatísticas da Secretaria da Cidadania do Governo de Goiás, 38% das 59.000 famílias pioneiras, aquelas que em 1995 começaram a receber a cesta de alimentos instituída pelo então governador Maguito Vilela, permanecem inscritas no programa “Renda Cidadã” instituído pelo ex-governador Marconi Perillo. O programa, hoje, contempla mais de 150 mil famílias.
Sei que as autoridades procuraram abrir caminhos. A ex-secretária Linda Monteiro instituiu o “Criando Oportunidades”, paralelo ao “Renda Cidadã”. Foram ministrados cursos de até quatro meses de duração, treinando padeiros, eletricistas, manicures, torneiros, entre outros. Mas tais cursos foram insuficientes. São elevados, a meu ver, os índices (38%) dos pioneiros ainda dependentes desse programa. Estão virando “profissionais” do favor público. Isso não é bom. Ou o indivíduo é incapaz e assim deve ser aposentado ou tornar-se beneficiário de uma pensão, ou ele precisa ser levado a realizar um consistente esforço para, aí sim, ter a verdadeira renda cidadã: o fruto do seu trabalho.
Então, mais importante que a própria renda cidadã, ou tanto quanto esta, é a educação voltada para o trabalho. É preciso pesquisar as necessidades das empresas e preparar o trabalhador para as vagas existentes. Para isso é importante mobilizar todos os que de alguma forma possam oferecer contribuição: Senai, Senae, Sebrae, Senat, Senar, secretarias e demais instituições públicas voltadas para o social. Um verdadeiro mutirão de treinamento. Criar uma mentalidade voltada para o trabalho será bom para o Brasil. É preocupante ler matérias como a publicada em O Popular (08/05/2007): “Bolsa Família – bloqueados 12,5 mil benefícios”. O que significa isso? A resposta é clara: gente pobre, o povão, fazendo, dentro de suas limitações, o que sabe ser feito na alta cúpula. Em outras palavras: sanguessugas, mensalões, verba indenizatória, licitações fraudadas...
O que dizer dos jovens do Pró-Cerrado (antigo-Pró-Jovem)?
Admitidos por repartições públicas estaduais a partir dos 14 anos, com tempo de permanência até os 16 anos e três meses, eles vivem apenas um pequeno hiato em meio ao sufoco. Pouco ou nada aprendem nesse período de “emprego”. De um modo geral, não passam de contínuos.
Recebem e repassam recados, vão ao banco e nada mais. Por que não treiná-los para que possam desempenhar uma atividade mais consistente?
Sem isso, não se resolve o problema em definitivo.
Valterli Guedes é advogado, jornalista, sócio do escritório Guedes e Willar Advogados, diretor e editor-geral da revista Hoje. E-mail: valterliguedes@hotmail.com