Uma semana para se pensar em educação

Jornal O Popular, 18/05/2007

Uma semana para se pensar em educação

Por força de uma lei municipal, que foi sancionada pelo ex-prefeito Nion Albernaz, e resultante de projeto de lei do vereador Hélio de Britto Júnior, a data de 24 de maio é considerada Dia Municipal da Educação. Sendo assim, a próxima semana, em cuja quinta-feira cai a data, torna-se sugestiva para se refletir a respeito da ímpar importância social da instrução.

Hélio Rocha

A data de 24 de maio, feriado municipal, celebra reverência à padroeira da cidade, Nossa Senhora Auxiliadora, cujo culto em Goiânia se associou bastante à chegada dos educadores pioneiros, os salesianos. Influenciou também, nesse sentido, a devoção mariana de dona Gercina Borges, primeira-dama do Estado na época, e do arcebispo d. Emanuel Gomes de Oliveira.

O arcebispo Emanuel, capixapa de nascimento, integrou a comissão encarregada de escolher a área na qual Goiânia seria construída, a qual fez opção por este espaço de campinas levemente onduladas, junto à fertilidade de bosques e matas e abundância de água, fornecida pelo Rio Meia Ponte e seus tributários.

O prelado Emanuel, cuja sepultura se encontra junto à capela-mor da Catedral Metropolitana, desde jovem assimilara a inclinação de d. Bosco pelo inexcedível benefício da educação. Passou a ser chamado de arcebispo da instrução, por causa de sua obra educacional. Ele já havia fundado o Colégio Anchieta, de Silvânia, apoiara a fundação dos educandários das irmãs salesianas e, na primeira metade da década de 1940, empenhou-se a fundo para trazer os frades franciscanos menores, originários dos Estados Unidos, que se encarregaram do Colégio São Francisco, de Anápolis.

O piemontês João Bosco (1815-1888), fundador da Ordem dos Salesianos e canonizado em 1934 pelo papa Pio XI, dirigiu a sua cruzada educacional, originalmente, para um objetivo: instruir crianças e jovens camponeses pobres que iam em busca de empregos nas cidades. Como o caso de Turim, a principal cidade do Piemonte. João Bosco estava convencido de que a instrução livraria esses jovens do perigo de atalhos para a degradação de costumes, vícios e, enfim, para a tentação do crime e da violência.

O espírito original da obra salesiana caberia muito na pauta de reflexões, hoje, sobre a redimensionada importância da educação, do ensino socialmente libertador, pois o jovem instruído estará muito mais perto do primeiro emprego e muito mais distante do cerco da miséria e da sedução da criminalidade.

Pode até ser que os números dos levantamentos a respeito do desafio da criança, adolescente ou jovem na rua apontem alguns avanços, se exprimem o crescimento do número de matrículas, mas são muito tímidos. Programas voltados para a melhoria da renda familiar mínima, condicionando o recebimento do benefício à matrícula dos filhos e à freqüência deles nas escolas, certamente ajudam. Mas, ainda falta muito, pois, como se vê, até adolescentes continuam sendo recrutados por gangues para o serviço do crime.

Assustam-nos as estatísticas que mostram o Brasil disputando um dos primeiros lugares no inglório campeonato mundial de homicídios. E nos envergonha a confrontação de indicadores sociais, mesmo apanhados ao acaso, por escolha aleatória, de algumas sociedades desenvolvidas, com baixíssimo grau de criminalidade, com países como o Brasil, onde se manifesta escalada perturbadora do crime. O nível elevado de instrução continua e sempre continuará a ser a melhor receita para combater as enfermidades da miséria e da violência.

No caso do Brasil, acrescente-se outro fator, o da má distribuição da riqueza e da renda, agente de exclusão social e da geração de desigualdades e de injustiças.

Vemos, pois, que refletir sobre o objetivo de aperfeiçoamento educacional, no País e no Estado, na semana em que Goiânia associa seu feriado religioso ao bem da instrução, será um exercício mental muito positivo. Até porque estará ajudando a produzir compromisso coletivo com a causa da educação – causa que é de todas as pessoas com sensibilidade social e humanismo no coração.

Hélio Rocha é colunista do POPULAR