Críticas às cotas nas Universidades, por Marcelo Caixeta
Jornal Diário da Manhã, 22/05/2007
Críticas às cotas nas Universidades, por Marcelo Caixeta
A Universidade Estadual de Goiás, sem discussão com a sociedade, vem implantar o sistema de cotas (45% das vagas); esta é mais uma “contribuição” do poder público para o desestímulo ao esforço, ao trabalho e à inteligência. E estímulo ao clientelismo, demagogia, paternalismo e às políticas tipo “bolsa-assistencial”, coisas que nunca construíram país algum.
Seu Pedro (personagem real) é dono de uma banca de revistas de rua; com ela, formou cinco de seus nove filhos em Medicina, dois em Odontologia e uma em Enfermagem. Como é que um pobre como ele conseguiu isso? É simples e sem milagres: trabalho, disciplina, estímulo ao estudo (ao contário dos governos, seu Pedro acredita no trabalho e na inteligência). Se o sistema de cotas fosse aplicado ao curso de Medicina da UFG (o que será feito em breve), por exemplo, seu Pedro não teria como formar os filhos (que não são negros ou índios, não estudam em escola pública, não moram em favelas etc. – a UnB vem de estabelecer cotas para quem mora em favelas). Provavelmente, seus filhos, assim como os meus e como os de qualquer outro pai esforçado e preocupado, teriam muita dificuldade em passar nas poucas vagas restantes da UFG – coisa só para gênios – e mesmo nas minguadas e caras vagas da UCG (os governos também têm cedido ao corporativismo médico e aceito a tese equivocada de que “há médicos demais no Brasil” – se houvessem tantos médicos assim não estariam sobrando vagas para empregos de médicos).
Apesar de muito esforçado, seu Pedro não teria dinheiro para fazer como os magnatas, políticos ou altos funcionários públicos e mandar seus filhos para estudar fora. Assim que ele seria “premiado” pelo governo: com a impossibilidade de que seus filhos cursassem Medicina; é a punição por ser um pai honesto, trabalhador, disciplinado, econômico; punição por ele pagar impostos e uma escola que presta para seus filhos; punição por ele se sacrificar e, ao invés da pinguinha, da mulherada, do churrasco e do futebol, ir trabalhar nos fins de semana.
Com essas “cotas” é isso que o governo está fazendo: punindo quem se esforça para trabalhar, estudar e sair da linha de pobreza. Seu filho, caro leitor(a), vai ter muito mais sucesso se você ir para mesa de sinuca de um bar e colocá-lo no falido sistema público de ensino – e depois pleitear uma “cotinha” qualquer. A solução correta, que é aquela de melhorar o ensino, ou pelo menos fazer um ensino médio de qualidade, isso o governo não quer, pois dá trabalho. Se não conseguem melhorar o ensino em geral, por que, pelo menos, não fazer uma ou várias escolas de ensino médio para aqueles alunos e famílias que realmente queiram um futuro nos estudos? (É muito fácil identificar tais pais e alunos, mesmo dentro da escola pública). Dar a eles condições reais para competir com os alunos de escolas particulares. Ou então, por que não estabelecer mensalidades para a universidade pública que sejam condizentes com a capacidade dos pais? (Seu Pedro, por exemplo, poderia pagar uns 400 reais por mês para um curso de Medicina em universidade pública, mas não consegue pagar 3 mil na Católica). Com essa modalidade de pagamento diferencial em universidades públicas, os governos poderiam melhorar as universidades e contratar mais professores etc., aumentando o número de vagas e favorecendo mais pessoas, inclusive pobres. Mas isso também dá trabalho e o governo não quer.
O sistema de cotas atual é tão ou mais injusto e absurdo justamente porque quem paga imposto é exatamente aqueles pais que se esforçaram e se sacrificaram para sair da linha de pobreza. São eles, hoje, que pagam o sistema de cotas, enquanto seus próprios filhos não conseguem cursar a profissão que escolheram ou que seus pais se esforçaram para lhes dar condição de cursar (a cota tira a vaga pública deles e esses pais, por sua vez, não são milionários ou políticos para conseguir pagar uma faculdade particular). Mais um fato lastimável que o governo nos faz engolir goela abaixo, fato que só ocorre no Brasil porque, apesar de esforçada, a classe média continua sendo um símbolo de comodismo e covardia.
Marcelo Caixeta é médico psiquiatra
Críticas às cotas nas Universidades, por Marcelo Caixeta
A Universidade Estadual de Goiás, sem discussão com a sociedade, vem implantar o sistema de cotas (45% das vagas); esta é mais uma “contribuição” do poder público para o desestímulo ao esforço, ao trabalho e à inteligência. E estímulo ao clientelismo, demagogia, paternalismo e às políticas tipo “bolsa-assistencial”, coisas que nunca construíram país algum.
Seu Pedro (personagem real) é dono de uma banca de revistas de rua; com ela, formou cinco de seus nove filhos em Medicina, dois em Odontologia e uma em Enfermagem. Como é que um pobre como ele conseguiu isso? É simples e sem milagres: trabalho, disciplina, estímulo ao estudo (ao contário dos governos, seu Pedro acredita no trabalho e na inteligência). Se o sistema de cotas fosse aplicado ao curso de Medicina da UFG (o que será feito em breve), por exemplo, seu Pedro não teria como formar os filhos (que não são negros ou índios, não estudam em escola pública, não moram em favelas etc. – a UnB vem de estabelecer cotas para quem mora em favelas). Provavelmente, seus filhos, assim como os meus e como os de qualquer outro pai esforçado e preocupado, teriam muita dificuldade em passar nas poucas vagas restantes da UFG – coisa só para gênios – e mesmo nas minguadas e caras vagas da UCG (os governos também têm cedido ao corporativismo médico e aceito a tese equivocada de que “há médicos demais no Brasil” – se houvessem tantos médicos assim não estariam sobrando vagas para empregos de médicos).
Apesar de muito esforçado, seu Pedro não teria dinheiro para fazer como os magnatas, políticos ou altos funcionários públicos e mandar seus filhos para estudar fora. Assim que ele seria “premiado” pelo governo: com a impossibilidade de que seus filhos cursassem Medicina; é a punição por ser um pai honesto, trabalhador, disciplinado, econômico; punição por ele pagar impostos e uma escola que presta para seus filhos; punição por ele se sacrificar e, ao invés da pinguinha, da mulherada, do churrasco e do futebol, ir trabalhar nos fins de semana.
Com essas “cotas” é isso que o governo está fazendo: punindo quem se esforça para trabalhar, estudar e sair da linha de pobreza. Seu filho, caro leitor(a), vai ter muito mais sucesso se você ir para mesa de sinuca de um bar e colocá-lo no falido sistema público de ensino – e depois pleitear uma “cotinha” qualquer. A solução correta, que é aquela de melhorar o ensino, ou pelo menos fazer um ensino médio de qualidade, isso o governo não quer, pois dá trabalho. Se não conseguem melhorar o ensino em geral, por que, pelo menos, não fazer uma ou várias escolas de ensino médio para aqueles alunos e famílias que realmente queiram um futuro nos estudos? (É muito fácil identificar tais pais e alunos, mesmo dentro da escola pública). Dar a eles condições reais para competir com os alunos de escolas particulares. Ou então, por que não estabelecer mensalidades para a universidade pública que sejam condizentes com a capacidade dos pais? (Seu Pedro, por exemplo, poderia pagar uns 400 reais por mês para um curso de Medicina em universidade pública, mas não consegue pagar 3 mil na Católica). Com essa modalidade de pagamento diferencial em universidades públicas, os governos poderiam melhorar as universidades e contratar mais professores etc., aumentando o número de vagas e favorecendo mais pessoas, inclusive pobres. Mas isso também dá trabalho e o governo não quer.
O sistema de cotas atual é tão ou mais injusto e absurdo justamente porque quem paga imposto é exatamente aqueles pais que se esforçaram e se sacrificaram para sair da linha de pobreza. São eles, hoje, que pagam o sistema de cotas, enquanto seus próprios filhos não conseguem cursar a profissão que escolheram ou que seus pais se esforçaram para lhes dar condição de cursar (a cota tira a vaga pública deles e esses pais, por sua vez, não são milionários ou políticos para conseguir pagar uma faculdade particular). Mais um fato lastimável que o governo nos faz engolir goela abaixo, fato que só ocorre no Brasil porque, apesar de esforçada, a classe média continua sendo um símbolo de comodismo e covardia.
Marcelo Caixeta é médico psiquiatra