UNE diz que vai invadir reitorias

Sandro Lima

Líder estudantil anuncia ocupação de 24 horas como forma de pressionar ministério a destinar pelo menos R$ 200 milhões para assistência a alunos carentes. Lula promete estudar reivindicação

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, anunciou ontem que a entidade promoverá na próxima quarta-feira uma série de invasões a reitorias de universidades federais em todo o Brasil. O objetivo é pressionar o governo federal a implementar um programa de auxílio aos estudantes universitários carentes. Petta foi ontem ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, para pedir investimentos de R$ 200 milhões na política de assistência estudantil.

“Na semana que vem, haverá o dia nacional de mobilização em torno dessa questão (apoio financeiro para universitários carentes)”, disse Petta. “Muitas reitorias vão ser ocupadas, muitas manifestações vão acontecer. Vamos pressionar o governo federal a adotar medidas para ajudar os universitários a continuarem estudando”, completou.

Lula disse ao presidente da UNE que encaminhará o pedido ao ministro da Educação, Fernando Haddad. Na conversa, o presidente da República disse a Petta que o assunto pode ser resolvido rapidamente, já que a medida não depende de aprovação do Congresso. “Nós trouxemos a reivindicação e exigimos que governo adote uma medida voltada para esses estudantes que têm dificuldades financeiras”, declarou o líder estudantil. Segundo o presidente da UNE, o Brasil não tem verba específica para atender aos jovens universitários carentes.

Acesso

“Discutimos a necessidade de o governo federal adotar uma política específica para assistência estudantil nas universidades públicas. Muitos estudantes estão chegando às universidades, mas não conseguem concluir o curso por não terem acesso à alimentação, transporte, ou outro tipo de política de assistência estudantil”, reclamou Petta.

De acordo com o líder estudantil, o investimento de R$ 200 milhões seria suficiente, em um primeiro momento, para atender o custeio desses estudantes universitários carentes. Mas o valor pode ser maior. “Precisamos chegar em um número comum, mas inicialmente é preciso R$ 200 milhões em investimentos. Mas vamos apresentar, na próxima quarta-feira, a nossa reivindicação com um estudo melhor, mais detalhado”, contou.

USP

Ao contrário do que ocorre na Universidade de São Paulo (USP), ocupada desde o início de maio por estudantes que exigem a manutenção da autonomia universitária, a UNE pretende ocupar as reitorias das universidades federais somente pelo prazo de 24 horas. Em São Paulo, desde a semana passada os estudantes descumprem ordem judicial determinando a desocupação da reitoria. Os manifestantes só vão sair do local após o governador de São Paulo, José Serra, revogar os decretos que, segundo os líderes do protesto, comprometem a autonomia universitária.

Iniciados na capital no início do mês, os protestos contra decretos assinados pelo governador paulista ganharam forte adesão nas universidades do interior do estado. Ontem, mais estudantes ocuparam prédios de pelo menos cinco campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Assim como acontece na Universidade de São Paulo, os alunos da Unesp também acreditam que o governo estadual estaria incorrendo em inconstitucionalidade ao tentar gerenciar a dotação orçamentária das universidades públicas. O governo nega tal intenção e diz que a medida é legal.

Hoje os estudantes da USP pretendem mobilizar mais de mil pessoas numa passeata até o Palácio dos bandeirantes, sede do governo paulista, na Zona Sul da capital. O protesto deve contar com o apoio de professores e funcionários em greve. Os manifestantes querem uma reunião com José Serra para discutir suas reivindicações, entre elas a revogação dos decretos.