O globalismo e a exclusão social
O globalismo e a exclusão social
Armando Acioli
Se o nosso País está sendo atacado por um terremoto de corrupção e de impunidade, envolvendo figurões de setores públicos e privados, motivando justificada indignação da sociedade, o desenfreado, monopolista e perverso globalismo econômico-financeiro mundial vem deixando os povos de todas as latitudes em situação de desespero, sobretudo nos países subdesenvolvidos. Tanto que renomados sociólogos, economistas e financistas, entre os quais os brasileiros Octavio Ianni e Celso Furtado e o norte-americano Joseph Stiglitz, em seus tratados sobre o tema, sempre alertaram os governos a respeito dos malefícios da globalização, tendo em vista o desordenamento, a ganância e sua ação concentradora, desmantelando e empobrecendo as economias nacionais. Os fóruns sociais que se realizam periodicamente em várias regiões do Planeta, contrapondo-se aos fóruns econômicos dos magnatas, já gritam contra os inomináveis abusos da globalização apátrida, egocêntrica e sedenta de lucros que se orienta pela megaespeculação e fomenta as injustiças sociais no mundo.
Por paradoxal que pareça, foi nos Estados Unidos, a maior nação capitalista da Terra, que começou o movimento contra os efeitos danosos da globalização econômica, quando então tiveram seqüência os fóruns sociais, que passaram a defender uma legislação internacional para racionalizar o sistema econômico-financeiro mundial. Daí porque, com plena razão e senso humanístico, o consagrado economista Jeffrey Sachs, da Universidade de Harvard (EUA), partindo do princípio de que o mercado global é comandado pelas multinacionais, entende que suas atividades devem ser normatizadas por melhores critérios, a fim de que o mundo tenha uma ordem econômica e financeira socialmente justa. Jamais arruinadora das nações emergentes, dos povos pobres e muito menos ampliando a exclusão social, como ocorre em diversos países, inclusive no Brasil.
Em seu livro A Era do Globalismo, o sociólogo Octavio Ianni, que foi contemporâneo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na Universidade de São Paulo (USP), analisa que o sistema global sem freios é condutor da exclusão social e seu objetivo prioritário é desmontar as economias nacionais, pois ele está a serviço apenas dos afortunados, ou seja, da plutocracia externa e interna. Ianni também defende o seu ordenamento, pois, caso contrário, as economias, ainda que em evolução, serão dominadas pelas multinacionais e as riquezas ficarão centradas nas mãos de uma centena de magnatas. O economista Celso Furtado, em seu livro Uma Economia Dependente, revela que o Brasil dispõe de todos os recursos naturais para ser uma nação rica, mas o globalismo sem lei, sobretudo o financeiro, o aniquila. Aliás, o criador da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que tanto condenou a presença do capitalismo especulativo nos países emergentes, dizia que esse mercado não passa de um cassino financeiro. Os megaespeculadores, que aplicam nas bolsas de valores de países diversificados, inclusive no Brasil, ganham milhões da noite para o dia e não têm sequer os seus valores taxados.
A dura e feia realidade é que a globalização econômico-financeira, sem nenhuma legislação internacional para discipliná-la, vem provocando uma série de malefícios: o desemprego aumenta a cada hora e a cada dia (há mais de 2 bilhões de desempregados no mundo). No Brasil há mais de 10 milhões de pessoas sem emprego, inclusive qualificadas para o trabalho; o neoliberalismo econômico e as empresas multinacionais vão assumindo as funções estatais (saúde, educação, segurança pública, previdência social, telefonia, construção de estradas, transporte coletivo e outras áreas), a exemplo do que acontece nos demais países emergentes; a criminalidade e os desajustes psicossociais atingem índices assustadores, assim como a pobreza e a miséria causam piedade. Em meio a tudo isso, vejamos o contraditório que causa indignação: os bandidos do colarinho branco não ficam presos, mas apenas os pés-de-chinelo, pois o conceito no meio de alguns segmentos do Judiciário é o de que quem rouba milhões é barão e quem rouba tostões é ladrão. Que o digam Marcos Valério e o chefão da construtora Gautama, que estão soltos, poderão destruir provas e fugir.
Em sua recente estada em nosso País, o papa Bento XVI afirmou que não há ética na globalização, confirmando assim os danos que ela vem causando aos povos e às nações pobres, enquanto o Episcopado Latino-Americano e a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) criticaram a corrupção em instituições brasileiras e clamaram por sua punibilidade. Ainda sobre os descaminhos do globalismo monopolizador, uma pesquisa da revista norte-americana Forbes apontou o seguinte quadro que comprova a concentração da riqueza nas mãos de poucos. Os bilionários são 946 e estão em 53 países, 20 deles no Brasil. A lista mundial é liderada pelo dono da Microsoft, Bill Gates (US$ 56 bilhões), enquanto no Brasil a maior fortuna é a do banqueiro Joseph Safra, avaliada em R$ 12,6 bilhões.
Enquanto um universo de pessoas (homens, mulheres e crianças) passa fome no mundo, os bilionários do globalismo gargalham no mar da especulação de suas fortunas. Com razão, o economista norte-americano, Joseph Stiglitz, prêmio Nobel 2001, escreveu A Globalização e Seus Malefícios.
Armando Acioli é articulista do POPULAR