Alimentos envenenados
Alimentos envenenados
Lara Cristina
Da editoria de Cidades
O consumo de frutas e verduras é recomendado em uma dieta saudável. Mas nem sempre estes produtos podem ser vistos como sinônimo de saúde. Pesquisa divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), revela altos níveis de contaminação por agrotóxico nos alimentos. Especialistas apontam males à saúde, causados pela contaminação.
O morango e a alface foram os alimentos que apresentaram maiores índices de contaminação por agrotóxico, de acordo com os dados do resultado das análises. O Para monitorou em 2006 os níveis de agrotóxicos presentes em seis alimentos consumidos pela população: alface, batata, laranja, maçã, morango e tomate. Desde 2002, foram realizadas 561.200 análises de 92 princípios ativos de agrotóxicos em cada uma das amostras coletadas nos 16 Estados que integram o programa. O programa recebeu um investimento de R$ 10 milhões durante todo o período.
Conforme o gerente de Avaliação de Riscos da área de Toxicologia da Anvisa e coordenador do Para, Ricardo Velloso, o programa busca identificar a quantidade de resíduos de agrotóxicos nas amostras de cada alimento monitorado. O estudo avalia, ainda, se os níveis estão de acordo com os estabelecidos por lei e se o agrotóxico é autorizado para aquelas culturas.
Os dados do Para apontam um índice geral de 14% de irregularidades nas culturas analisadas. Esse número evidencia a necessidade de desenvolver estratégias para a redução do nível de contaminação nos alimentos. Os resultados do Para vão auxiliar as vigilâncias sanitárias de Estados e municípios a estruturar ações de rastreabilidade de controle dos eventos que geraram a contaminação. Com isso, será possível chegar até o produtor, identificar e, em muitos casos, resolver o problema.
Danos – O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de agrotóxicos do mundo. Um fator preocupante, conforme especialistas, pois o uso abusivo de agrotóxicos ameaça a saúde do consumidor e do trabalhador rural, além de contaminar o meio ambiente. Conforme o engenheiro agrônomo, pesquisador e professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) Paulo Marçal, ainda não existem estudos precisos sobre os resultados do consumo de alimentos com agrotóxicos. Ele é especialista em insetos e agrotóxicos. A maior parte dos danos ainda é desconhecida, pois em relação ao consumidor os efeitos são a longo prazo. “Claro que o foco da maioria das pesquisas é o trabalhador que manuseia os produtos, mas não podemos esquecer que os sintomas podem ser semelhantes”, explica.
O pesquisador revela que há estudos que apontam para a cultura do tomate, em Anápolis (a 55 km de Goiânia), como uma possível causa para a elevada taxa de câncer na população, pelo manuseio de agrotóxicos. “Muitos processos alérgicos, úlceras, gastrites e até problemas neurológicos podem ser conseqüências do excesso de consumo de produtos contaminados”, observa Marçal.
Ele acrescenta que os mais utilizados são inseticidas, que são neurotóxicos, ou seja, afetam o sistema nervoso central. Além disso, conforme o pesquisador, há relatos de casos de depressão e até suicídios em regiões onde há produção agrícola com uso intensivo de agrotóxicos.
DICAS – Marçal enfatiza que o consumidor deve evitar comprar alimentos cuja origem seja desconhecida e dar preferência aos orgânicos. “Não há como retirar o agrotóxico da fruta ou verdura.” Ele explica que não adianta, por exemplo, retirar a pele do tomate, pois a substância penetra o alimento.
Produtos orgânicos são aqueles em que não são utilizados agrotóxicos sintéticos e adubos químicos no processo de produção. No máximo, os insumos naturais, como enxofre. “Na faculdade produzimos tomate sem utilização destes produtos químicos e provamos ao agricultor que é possível. Mas é necessária uma conscientização do consumidor para que valorize os alimentos sem agrotóxicos.” Ele salienta que há local de comércio atacadista em que o tomate natural é vendido mais barato do que o contaminado. O que não incentiva o produtor.