Milagres da célula-tronco

Jornal Diário da Manhã, 07/06/2007

Milagres da célula-tronco

Douglas Branquinho e Juliana Luiza
Da editoria de Cidades

Nova técnica baseada no transplante de células-tronco foi apresentada ontem em Londres por cientistas britânicos com o intuito de curar a cegueira adquirida com a idade. O tratamento deve ser realizado nas retinas danificadas do paciente, a fim de que elas funcionem corretamente por si mesmas. Capazes de se transformarem em outros tipos de células, as células-tronco são consideradas pela Ciência verdadeiros milagres para o tratamento de doenças.

No caso dos estudos londrinos, procedimento parecido já havia sido desenvolvido pela Ciência, mas o método requeria duas cirurgias longas e acarretava complicações. A técnica recém-desenvolvida, com resultados bem-sucedidos em testes feitos em ratos, consiste de uma só operação de aproximadamente 45 minutos. Os pesquisadores esperam colocá-la em prática em cinco anos.

O tratamento poderá ser feito em pessoas que perderam a visão devido à degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Como o nome sugere, trata-se de doença degenerativa que atinge pessoas acima dos 60 anos pelo surgimento ou crescimento de novos vasos sangüíneos. A DMRI acomete a área central da retina, denominada mácula. É essa estrutura que permite a distinção dos detalhes dos objetos.
“O dano causado pela enfermidade é irreversível, por isso a expectativa depositada nas pesquisas com células-tronco”, sustenta o oftalmologista e chefe do setor de Neuroftalmologia do Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof), Alexandre Taleb. De acordo com o médico, estudos como o apresentado pelos ingleses são promissores, mas requerem cuidado com a aplicação clínica prática. “Esta não deve contecer em período inferior a cinco, sete anos”, defende. Além da retina, Alexandre explica que há outras áreas de pesquisa com células-tronco em Oftalmologia.

“Existem estudos relacionados ao nervo óptico para doenças neuro-oftalmológicas e glaucoma e ainda há células- tronco limbares, com o objetivo de regenerar enfermidades da córnea”. Conforme Alexandre, no Brasil essas pesquisas já são realizadas em animais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Em Goiânia, elas serão desenvolvidas somente após aprovação do nosso Conselho de Ética”.

Avanço – Em Cardiologia, a Capital já se encontra em estágio mais avançado de pesquisas. Há um ano, por exemplo, o Hospital Anis Rassi iniciou estudo patrocinado pelo Ministério da Saúde para transplante de células-tronco em pacientes com doença de Chagas e infarto agudo do miocárdio. Até hoje, dez pessoas fizeram o tratamento. Segundo o coordenador da pesquisa, Anis Rassi Júnior, o acompanhamento dos doentes mostra recuperação.

“O problema é que ainda não se pode atribuir a melhora somente ao transplante, já que os pacientes continuam tomando medicamentos”, adianta. O método consiste em retirar o sangue do osso da bacia por meio de punção e, após preparo para separar as células-tronco, injetá-las no coração pelas artérias coronárias. Resultados definitivos da técnica só após a realização dos testes em 300 pacientes de todo o País, em mais de 20 centros de pesquisa.

Novidade – Outras três equipes de cientistas anunciaram ontem que conseguiram produzir células equivalentes a células-tronco embrionárias em camundongos, sem destruir os embriões. Eles fizeram com que as células da pele se comportassem como embrionárias. Se o mesmo puder ser feito com células humanas, o processo poderá levar a um salto na Medicina sem entrar na disputa ética e política em torno da manipulação de embriões.

No dia 20 de abril deste ano, audiência pública sobre a Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/05) promovida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dividiu opiniões até mesmo entre a comunidade científica. A legislação autoriza as pesquisas com células-tronco embrionárias.