Pacientes ficam sem cirurgia
Pacientes ficam sem cirurgia
Servidores do Hospital interromperam ontem os procedimentos ambulatoriais e doentes ficam nos corredores
Vinicius Jorge Sassine
Serviço público mal prestado é uma rotina em feriados. Quem precisou do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG) ontem, um dia após a quinta-feira de Corpus Christi, encontrou serviços essenciais parados, em função do feriado e da paralisação de servidores técnico-administrativos da UFG, em greve em outras unidades da instituição desde 28 de maio.
Exames laboratoriais, consultas médicas, procedimentos ambulatoriais e cirurgias ficaram suspensos durante todo o dia. Apenas o pronto-socorro do HC, com os atendimentos de emergência, funcionou normalmente. Pacientes e familiares denunciaram a superlotação da unidade, com falta de leitos e acomodações nos corredores.
O motoboy Edmilson Pedro da Silva, de 32 anos, foi orientado por um dos atendentes a retornar na segunda-feira. Ele tentava marcar uma consulta para avaliar um problema na garganta. “Os funcionários me disseram que estavam de recesso.”
Mais grave era a situação de Maria Moreira de Souza, 65. Há 16 dias no HC, com câncer no esôfago, Maria não havia conseguido ainda passar por um procedimento cirúrgico. Segundo um de seus filhos, o lavrador Raimundo Souza Santos, 43, a mãe permanece no corredor do pronto-socorro, em uma maca, à espera de um leito.
“Os médicos não falavam em fazer a cirurgia. Diziam que hoje (ontem) havia greve e que ontem (quinta-feira) era feriado”, diz Raimundo, que mora com a mãe em Correntina (BA). Segundo ele, a postura mudou após a família relatar o caso à imprensa. “Disseram que fariam a cirurgia, mas ela teria apenas 90 dias de vida. Preferimos não fazer.”
De acordo com a diretoria geral do HC, de 3 mil a 5 mil pessoas são atendidas diariamente no hospital. Até 50 procedimentos cirúrgicos são realizados todos os dias. Ontem, conforme o movimento grevista, somente duas cirurgias foram realizadas: em um paciente que sofreu acidente vascular cerebral (AVC) e em outro com apendicite. Pacientes que tentaram agendar uma consulta ou fazer um exame de raio-X, por exemplo, voltaram para casa sem ser atendidos. Nos guichês do ambulatório, três funcionários jogavam paciência (um jogo com cartas de baralho) nos computadores. Os pacientes eram orientados a retornar segunda-feira, sob a alegação de que ontem era feriado.
O Sindicato dos Trabalhadores da UFG (Sint-UFG) informou que a paralisação atingiria o HC somente ontem. O Sint-UFG reivindica isonomia salarial e de benefícios, aprimoramento da carreira, manutenção do direito de greve, paridade entre ativos e aposentados e aprimoramento da carreira.