Ministra volta a fazer defesa de cotas

Portal Estadão, 08/06/2007

Ministra volta a fazer defesa de cotas

Para Matilde, elas são essenciais para garantir acesso à universidade

Silvia Amorim

No mesmo dia em que a Universidade de Brasília (UnB) reconheceu o erro e aprovou a inclusão do estudante Alex Teixeira da Cunha no sistema de cotas para negros, a ministra da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, fez uma defesa fervorosa das cotas raciais nas instituições de ensino superior no País.

Na visão de Matilde, a criação de vagas para negros e índios é fundamental para democratizar o acesso às universidades e reduzir a discriminação racial. “Nós bem sabemos que a educação é uma fonte para a melhoria da qualidade de vida. Não é a única, mas é uma fonte, uma ponte muito importante. Então termos mais jovens, homens e mulheres, indígenas, negros, pobres nas universidades é sinal de que a política pública brasileira está se dinamizando e se democratizando cada vez mais”, afirmou a ministra, em entrevista, anteontem, a Radiobrás.

A defesa de Matilde tem como objetivo pôr panos quentes na polêmica sobre o sistema de cotas, que ressurgiu na semana passada diante do episódio na UnB. Por fragilidades no processo de seleção para essas vagas especiais, a instituição acabou aprovando apenas um de dois irmãos gêmeos. Alan Teixeira da Cunha, aprovado, foi considerado negro pela banca que avalia candidato por candidato, analisando fotos. Ele obteve uma vaga para o curso de educação física. Seu irmão, Alex, que tentava estudar nutrição, foi classificado como branco e, portanto, excluído do processo. Depois que o caso veio a público, a UnB voltou atrás e deu uma vaga a Alex anteontem.

Na UnB, diferentemente da maior parte das instituições de ensino superior do País, o sistema de cotas leva em consideração somente a cor do candidato, não a situação financeira do estudante. Do total, 20% das vagas da UnB são reservadas para negros.

Contrária à tese de que a desigualdade social no País é antes um problema social do que propriamente racial, Matilde destacou ser impossível separar deste debate o racismo da pobreza. “A melhor definição sobre isso foi feita por Florestan Fernandes e Octavio Ianni, estudiosos dedicados a esta temática, que diziam não ser possível dissociar a desigualdade social do racismo fortemente existente em nosso País. A forma como foi a construção de nossa nação traduz hoje porque os negros e também os indígenas em outra esfera são os mais pobres entre os pobres. Portanto, é muito difícil separar a pobreza da discriminação racial.”

Segundo a secretaria, 40 universidades adotam hoje as cotas, antes mesmo da aprovação da lei sobre o tema. Um projeto de lei, que tramita no Congresso desde 1999, prevê a reserva de 50% das vagas das universidades estatais para egressos do ensino público, considerando o percentual de negros e indígenas em cada unidade da federação.

Em reposta às críticas de que, com a adoção das cotas, o governo deixa de praticar uma política de caráter universalista, a ministra sustentou que o desempenho desses estudantes é igual ao de outros alunos ou até melhor. “Essa é a tese dos setores conservadores”, minimiza Matilde. “Os resultados até agora são bastante animadores. Os alunos que entraram no ensino superior têm tido desempenho igual ou superior aos demais. Percebe-se que quando é dada uma oportunidade a quem nunca teve, a pessoa agarra como sendo ímpar na sua vida e se esforça ao máximo para aproveitá-la.”