Professores em greve sob risco de demissão

Jornal Hoje, 12/06/2007

Professores em greve sob risco de demissão

Bruna Mastrella

Além de estarem com os pontos sendo cortados desde o dia 1º, os servidores da rede estadual de ensino poderão ser exonerados, caso completem 30 dias de greve – fato que caracteriza abandono de cargo. As informações são da secretária de Estado da Educação, Milca Severino, aos professores da rede estadual para que retornem às suas atividades, suspensas há quase 40 dias.

A secretária justifica o corte dos pontos como sendo apenas o cumprimento de decisão judicial, deferida no dia 1º pela 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual, que considerou a greve ilegal. “Estamos em um impasse complexo. O corte do ponto foi uma determinação judicial; se não a cumprimos, as implicações legais caberão a nós”, diz, enfatizando que o alerta não deve ser encarado, em hipótese alguma, como ameaça ou retaliação. Ela ressalta que a continuidade da paralisação, além de trazer danos aos próprios grevistas, estão prejudicando os estudantes.

A titular da pasta afirma que as reivindicações dos professores, principalmente o reajuste salarial de 20,31%, são justas e fazem parte das exigências que a própria secretaria tem feito ao governo estadual. Contudo, ela antecipa que não é possível atendê-las no momento, por falta de recursos. “Não daremos nenhuma previsão de reajuste. Entendemos as reivindicações, mas simplesmente não temos dinheiro para cumpri-las”, explica.


Segundo balanço da Secretaria Estadual de Educação (SES), 704 escolas, o que equivale a 63,3% das unidades existentes, já estão funcionando normalmente. Outras 56 (5,1%) estão funcionando parcialmente e 347 (31,3) ainda continuam com as portas fechadas. Trabalhadores comissionados ou contratados, embora tenham os pontos cortados, não serão prejudicados. Quanto a reposição das aulas, a SES informa que cada unidade de ensino estabelecerá seu cronograma.

IMPASSE


Em resposta ao alerta dado por Milca Severino, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego), Domingos Oliveira, afirma que até a realização da próxima assembléia, amanhã, não há intenção em suspender a greve. “A greve só se tornará ilegal quando formos notificados da decisão judicial, o que ainda não aconteceu”, explica. Quando comunicado oficialmente, o sindicalista informa que o Sintego pretende recorrer. Sobre o corte de pontos, ele afirma que a atitude inviabiliza qualquer possibilidade de reposição das aulas perdidas. “Só voltamos ao trabalho se o governo apresentar propostas”, assinala.

Hoje, professores reunidos na Cidade de Goiás farão uma manifestação durante a abertura do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). Na quarta-feira (13), os grevistas se reunirão, às 10 horas, em frente à Assembléia Legislativa para discutir os rumos do movimento.



SAÚDE MUNICIPAL EXIGE ISONOMIA


Servidores da Saúde de Goiânia continuam com a onda de manifestações, que começou na semana passada, próxima a centros de atendimento. Eles querem melhores condições de trabalho, igualdade de tratamento profissional, sobretudo isonomia salarial. No início da manhã de ontem, liderados pelo Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde em Goiás (Sindisaúde), alguns funcionários chegaram a se concentrar em frente à sede da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), no Setor Pedro Ludovico, mas, em respeito à morte da irmã do secretário Paulo Rassi, Augusta Rassi, que morava na Argentina, a manifestação foi interrompida. Augusta era bastante idosa e morreu na madrugada.
A presidente do Sindisaúde, Maria de Fátima Veloso Cunha, diz que a SMS tem tido uma postura antidemocrática ao conceder gratificação ambulatorial de 871 reais apenas para médicos, apesar de que tais equipes são multiprofissionais. Para ela, outros funcionários com nível superior também devem receber a gratificação, pois, conforme diretrizes do SUS, todos formam uma categoria maior: a de analistas de saúde.

“A secretaria vem desrespeitando uma igualdade de tratamento que ocorre há 20 anos em Goiânia. Exigimos que a concessão dessa gratificação seja revista”, diz Fátima. “Sabemos que os médicos do município ganham mal e que o salário precisa ser complementado, mas os profissionais em geral estão na mesma situação”, argumenta.


Em vários Centros de Assistência Integrada à Saúde (Cais) de Goiânia, segundo o Sindisaúde, falta insumos básicos, como água – inclusive para beber –, papel higiênico, luvas, alimentos para os pacientes internados, medicamentos como dipirona e anestésicos. “Noventa por cento dos servidores são mulheres. Como é possível faltar papel higiênico nos banheiros?”, indaga Maria de Fátima.
Ela afirma ainda que os setores de odontologia em muitos locais praticamente não têm condições de desenvolver suas atividades. “Várias salas estão completamente mofadas”, aponta. A presidente do sindicato alega ainda que o material para exames disponível nos laboratórios é insuficiente, o que chega a comprometer suas realizações.

Outra reclamação é que os conselhos de saúde, órgãos com obrigação de fiscalizar as condições de trabalho de unidades de tratamento, estariam tendo sua função desvirtuada. Segundo Fátima, os conselhos são usados para negociação salarial. O Sindisaúde promete outras manifestações para esta e a próxima semana, na porta de Cais dos Distritos Norte, Mendanha, Central e Sudoeste. Até o fechamento da edição, a reportagem não conseguiu falar com Paulo Rassi.