Aprovados da UFG tiram nota vermelha na 1ª fase

Jornal O Popular, 13/06/2007

Aprovados da UFG tiram nota vermelha na 1ª fase

Apenas em Língua Estrangeira, Geografia e Português os estudantes que ingressaram na instituição conseguiram acertar mais de 50% das questões

Patrícia Drummond

Os 3.621 candidatos aprovados no último vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG) acertaram mais de 50% da prova da 1ª fase somente em três das dez disciplinas cobradas no processo seletivo de 2007. É o que dizem as estatísticas divulgadas pela universidade em relatórios disponíveis no endereço eletrônico www.vestibular.ufg.br. Os aprovados se deram bem em mais da metade das questões de Língua Estrangeira (64% da prova de Inglês e 58% da de Francês), 56% de Geografia e 58% de Português.

A disciplina que teve o pior desempenho na primeira fase entre os que ingressaram na universidade foi Física, com 32% de acerto, seguida de História (38%). Química e Espanhol (45% de acerto), Biologia (46%) e Matemática (49%) vêem em seguida. Pela análise do relatório das provas discursivas da 2ª etapa, Física e História também apresentaram as questões com menores índices de acerto. Em algumas questões das duas disciplinas, a grande maioria dos vestibulandos zeraram a questão (veja quadro com as questões com menos acertos na 2ª fase).

Física e História
“A Física é, tradicionalmente, o bicho-papão do vestibular da UFG. Mas acho que, na segunda etapa, a instituição pegou pesado”, diz o professor Alexandre Almeida Dias, o Xande. “A questão 20 do Grupo 2 só vi igual no processo seletivo do IME (Instituto de Matemática e Estatística, da USP), considerado um dos mais difíceis do País”, diz Luiz Felipe Bragança Truran.

Em relação a História, o professor Márcio Bernardes argumenta que, sempre, em todo vestibular da UFG, “há uma questão de mal-estar, que acaba criando uma aura de difícil para a disciplina”. Já no que diz respeito à prova da 2ª etapa do vestibular da UFG, o professor de História é só elogios: “A segunda fase foi muito boa. Como imagino que deve ser uma boa prova, apresentou questões fáceis, de nível médio e difíceis, ao contrário das questões da primeira fase, que, na minha opinião, não avaliaram conhecimentos.”

Química, muito difícil; Geografia, muito fácil

Para os professores de Química Heitor Godinho e Jorge Tadeu, tanto as provas da 1ª quanto da 2ª etapa da Universidade Federal de Goiás (UFG) apresentaram um grau de dificuldade exagerado para alunos de escolas particulares e, ainda mais, para os da rede pública. Eles avaliam que a questões exigiram raciocínio e cálculo além da conta, em detrimento da aplicabilidade da Química no dia-a-dia, uma tendência nos vestibulares do resto do País.

“Além do nível super-elevado das provas, a UFG pecou, mais uma vez, pela má distribuição do conteúdo da disciplina”, ressalta Heitor Godinho. “Observando o desempenho dos candidatos, temos a impressão de que a prova de Química está sendo feito para avaliar os vestibulandos de Medicina, e não dos outros cursos”, completa o professor.

Já Marcelo Segurado e Rinaldo Grina, que ministram aulas de Geografia em escolas particulares do ensino médio, queixam-se de que as provas da disciplina fogem ao próprio padrão da UFG e são consideradas as mais fáceis entre os três maiores vestibulares do Estado (UFG, UCG e UEG). “As questões deveriam ser melhor elaboradas e exploradas, já que a Geografia pode ser transversal a todas as outras disciplinas. Na minha avaliação, como está hoje, a cobrança da Geografia no processo seletivo da UFG chega a ser simplória e até ingênua”, dispara o professor Marcelo Segurado.

Por baixo
Para o professor Rinaldo Grina, o pouco aproveitamento da disciplina no vestibular da UFG se traduz em falta de valorização da Geografia em sala de aula e atividades extra-curriculares. “Isso torna o estudante mais bitolado e nivela por baixo”, avalia. “As provas da Unicamp (Universidade de Campinas) e da USP (Universidade de São Paulo) são mais elaboradas e cobrem questões humanas e sociais. Também faz falta a geohistória, com conteúdos de política, economia e atualidades”, diz.

Prova tenta se aproximar do ensino médio

Presidente do Centro de Seleção da Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Verbena Lisita destaca que, em um processo seletivo, uma prova é considerada boa quando aqueles que realmente dominam os conhecimentos e as habilidades exploradas nas questões conseguem resolvê-las, enquanto os que não dominam não conseguem. Segundo ela, as provas da UFG se preocupam de fazer a interface com o ensino médio.

“Estamos desenvolvendo várias ações para promover uma maior aproximação entre a UFG e o ensino médio. Uma dessas ações foi a discussão dos programas das provas do processo seletivo 2008 com professores das escolas públicas e particulares do ensino médio do Estado”, aponta Verbena.

Sobre as provas de Química e Geografia, a presidente do Centro de Seleção pondera que, para definir uma prova de um processo seletivo como sendo fácil, é necessário observar se os candidatos que não dominam os conhecimentos explorados conseguem realizá-la. “Na prova de Geografia, percebe-se uma distribuição de notas em todos os níveis de acertos. Portanto, a prova de Geografia não pode ser considerada fácil”, afirma. De acordo com ela, há diferenças entre a avaliação da aprendizagem que é realizada em sala de aula e a avaliação em larga escala.

“Nesta última, deve-se elaborar as provas considerando o conjunto de estudantes com toda a heterogeneidade, enquanto que, na avaliação em sala de aula, o professor geralmente lida com uma classe específica, que é bem mais homogênea”, argumenta. “Daí a tendência de alguns professores considerarem uma determinada prova fácil, quando eles adotam como parâmetro os seus próprios alunos”, acrescenta.

Fim das específicas para Artes e Design

A partir do vestibular de 2008, a Universidade Federal de Goiás (UFG) não serão mais realizadas provas de Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos para os cursos de Artes Visuais e Design de Moda. Os candidatos também devem ficar atentos às mudanças na abordagem de algumas disciplinas, no sentido de referendar as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como critério para a definição das habilidades e dos conhecimentos que serão cobrados nas provas.

É o caso, por exemplo, de Física, Química, Biologia, Língua Estrangeira Moderna, Literatura, Língua Portuguesa e Redação. As demais disciplinas encontram-se em fase de transição para adoção desses parâmetros.

Segundo a presidente do Centro de Seleção da UFG, Verbena Lisita, isso significa que o estudo das matérias não mais se baseia em conteúdos desvinculados da realidade dos estudantes. “Acredito que essas mudanças significarão uma ´influência benéfica do vestibular` na formação geral desses jovens”, diz Verbena.