A greve na educação: quem paga por isto?

Jornal O Popular, 15/06/2007

A greve na educação: quem paga por isto?

Já são 40 dias de greve, milhares de alunos sem aulas, nenhuma perspectiva de solução para a crise que já se arrasta há muito tempo na educação pública em Goiás e no Brasil.

Fernando Pereira dos Santos

Todas as avaliações educacionais feitas no País constatam: o ensino público vai de mal a pior e não é de agora. Nas últimas décadas, a cada avaliação feita vemos a qualidade da educação ser colocada em xeque, e os atores envolvidos no processo educacional – professores, pais, alunos, governos – parecem não se dar conta de que medidas precisam ser tomadas para reverter esta situação.

Os pais e alunos, o elo mais fraco desta corrente, fazem a única coisa que parece ser do seu alcance: aqueles que têm alguma condição financeira levam seus filhos para as escolas particulares, muitas vezes de qualidade duvidosa, mas que pelo menos têm aulas. Isto talvez explique a falta de indignação da sociedade com tantos dias de greve. Chegamos ao fundo do poço. Só permanecem na escola pública aqueles alunos que não podem de maneira nenhuma freqüentar uma escola particular, ou seja, a camada mais pobre da população.

São justamente os mais pobres, os que mais necessitariam da educação para ter alguma perspectiva de melhora em suas vidas, que estão pagando por mais esta greve na educação pública de Goiás. Com certeza os filhos dos governantes e nem mesmo os dos dirigentes da greve estudam na escola pública, pois estes sabem exatamente o que encontrariam ali.

Neste momento não dá para ficar procurando os culpados que fizeram se chegar a esta situação, mas pode-se aproveitar a crise para tentar um projeto que, um dia, possa dar à escola pública a qualidade que aqueles que nela estudam necessitam.

Os professores, em suas justas reivindicações, não podem bater o pé numa reivindicação salarial que o Estado afirma que não pode atender neste momento, em que vive uma situação pré-falimentar. O governo do Estado, o maior responsável por esta situação, também não pode endurecer e dizer que não negocia, não recebe os professores e simplesmente não tem como atender às reivindicações.

É no mínimo uma grande irresponsabilidade ter deixado a situação chegar a este ponto. Cabe ao governo, como a autoridade responsável pelo funcionamento da máquina pública, fazer a situação voltar à normalidade, mas sem obrigar os professores a uma volta desmoralizada, que só fará piorar, se é possível, a atual situação do ensino em nosso Estado.

Como professor e pai de aluno que já viveu esta situação de greve, ouso aqui dar algumas sugestões que possam solucionar imediatamente este impasse e, aproveitando-o, apontar para alguma perspectiva futura para nossa educação pública.

Se o Estado não pode atender as reivindicações salariais neste momento, penso ser possível montar um cronograma que possa vincular aumentos salariais a metas de qualidade a serem cumpridas pelos professores. É o momento de comprometer os professores com uma política educacional – elaborada com a participação do governo, pais e professores – que institua um sistema de avaliação estadual para alunos e também professores.

As metas seriam traçadas com a participação dos professores e os índices de reajustes poderiam ser variáveis e diferenciados, de acordo com a conquista destas metas. Este cronograma seria o comprometimento de governantes e professores na busca de um ensino de qualidade. Seria a prova de que os professores não querem, embora necessitem, só aumento salarial, e de que o governo pensa a educação a longo prazo. Seria a prova de que os atuais dirigentes estaduais não querem simplesmente empurrar com a barriga, como vêm fazendo neste tempo todo, uma crise que já dura décadas, simplesmente com o argumento de que “não há dinheiro”.

Responsabilidade é o que se espera destes que são os principais responsáveis pela educação em nosso Estado: governo e professores.

Fernando Pereira dos Santos é professor do Cepae/UFG, ex-professor da rede estadual de educação e um dos refundadores do antigo CPG, atual Sintego. fsantos@cepae.ufg.br