Alunos estão sem aula há 43 dias

Jornal O Popular, 18/06/2007

Alunos estão sem aula há 43 dias

Greve tem provocado transtornos para várias famílias, que mudaram rotina para não deixar filhos em casa. Negociações não avançam

Almiro Marcos

Milhares de alunos da rede pública estadual de Goiás completam hoje 43 dias sem aulas. Segundo a estimativa mais otimista, que é do governo e indica que 17,7% das escolas estavam totalmente paradas ontem, pelo menos 130 mil dos 750 mil alunos dos colégios estaduais continuam sendo prejudicados pela paralisação. Não faltam histórias de famílias que estão enfrentando transtornos por conta do movimento, como a doméstica Valdeci Rosa, de 47 anos, que se vê obrigada a levar o filho de 10 anos para o trabalho para não deixá-lo sozinho em casa.

A próxima posição oficial dos professores virá hoje, quando será realizada assembléia para definir o futuro do movimento. Há pelo menos uma semana não há avanços nas negociações. Os professores querem reajuste de 20,31% e o governo insiste que não tem como dar nenhum porcentual no momento. Enquanto o impasse prevalece, parte dos estudantes continua sem aulas.

Valdeci Rosa mora no Bairro Cardoso 2, em Aparecida de Goiânia, e trabalha no Setor Aeroporto, em Goiânia. Todos os dias ela toma vários ônibus de casa até o trabalho e depois no sentido contrário. Desde o início desta semana ela leva consigo o filho, Sines Lopes Almeida Filho. “Eu fico preocupada em deixá-lo sozinho”, resume. A preocupação está relacionada com o fato de não saber o que o menino estará fazendo o dia todo. “Depois do caso daquele garoto que foi devorado pelos cães, eu fiquei com medo”, explica.

Mãe e filho moram sozinhos e ele é aluno do período vespertino do Colégio Estadual Garavelo Park, vizinho da sua casa. Quando o menino está em aula, não há muitas dificuldades. “Ele dormia até as 9 horas e saía na hora do almoço para a escola. Daí a gente chegava junto à tarde. Então ele praticamente não ficava sozinho em casa”, diz. Há 43 dias, a rotina mudou. Com a greve, a mãe passou a ir para o trabalho, mas com a cabeça em casa. “Eu fico controlando ele o dia todo, pelo telefone”, conta.

A mulher chegou a pensar em deixar de trabalhar para ficar com o menino. “Disse para a patroa que pediria conta. Mas ela não aceitou”, lembra. A solução foi levar o menino para o trabalho. “Essa greve está sendo um transtorno danado para muitos pais”, alerta. Ela afirma que não tem como tomar partido sobre a paralisação, já que os professores insistem em continuar a greve quando o governo não dá esperança de reajuste. “Eles têm de chegar a um acordo.”

 

Para Sintego, greve atinge 600 mil

O caso da doméstica Valdeci Rosa, de 47 anos, é um entre milhares. Se prevalecer a visão do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), o número de alunos prejudicados pode chegar a 600 mil estudantes, já que a entidade garante que 80% das escolas estaduais estão sem atividades. O presidente do sindicato, Domingos Pereira da Silva, diz que não tira a razão de pais que reclamam da paralisação, mas lembra que a culpa não é dos professores. “A culpa é do governo. É ele que não quer negociar e não apresenta proposta”, diz.

A posição da Secretaria da Educação segue a mesma dos últimos dias. Na sexta-feira, a assessoria de imprensa do órgão informou que os canais de negociação continuam abertos. “O governador já disse publicamente que não pode dar o reajuste neste momento. Então, a Secretaria está aguardando uma posição do sindicato para retornar às aulas”, informou.

Prejuízos
Independente da quantidade de escolas paradas, o fato é que nenhum dos principais negociadores dos dois lados tem filhos estudando em escolas públicas da rede estadual. Isso quer dizer que os filhos dos negociadores não estão sendo prejudicados pela paralisação. Da parte do Sintego, o principal negociador é o presidente Domingos Pereira, cujo filho já é universitário. Já da parte do governo, os principais negociadores são Milca Severino, da Educação, que não tem filhos, e Jorcelino Braga, da Fazenda, cujos filhos ou são universitários ou estudam em escolas da rede privada.