Leite de saquinho tem até coliformes fecais

Jornal Hoje, 19/06/2007

Leite de saquinho tem até coliformes fecais

Luís Augusto Falconi

Os consumidores goianos devem ficar atentos com o leite que compram, principalmente o pasteurizado tipo C, vendido em saquinhos. O alerta é do Sindicato dos Médicos Veterinários do Estado de Goiás (Sindivet), que divulgou ontem resultados de análises laboratoriais de amostras de sete marcas de leite pasteurizado. Todas apresentam algum comprometimento com a qualidade.

Em um litro de cada produto foram encontradas irregularidades como adição de água, redução da quantidade de proteína e gordura, presença de conservantes e até mesmo microorganismos e coliformes fecais, em quantidades bem acima das permitidas. Os testes foram realizados em março do ano passado em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG).

Segundo o presidente do Sindivet, Humberto Marques Bonfim, as amostras foram obtidas cada uma em um supermercado diferente de Goiânia. Mesmo de posse dos resultados do exame pericial há um ano e três meses, só na sexta-feira passada o Sindivet fez denúncia formal ao Procon estadual para que o órgão tomasse as providências legais cabíveis. Bonfim alega que tentou atenuar o problema por meio de recomendação aos laticínios, mas, com base em informações de veterinários de várias empresas, diz que a situação é geral em todo o Estado.


ESTERILIZAÇÃO

Bonfim explica que a presença de microorganismos e coliformes no leite é muitas vezes resultado da negligência de empresas que não esterilizam adequadamente os equipamentos utilizados na pasteurização. Em outros casos, os próprios funcionários da cadeia produtiva do leite, principalmente os que têm contato com as vacas, não se preocupam com a higienização das mãos ou utilização de luvas para lidar com os animais.


Para o diretor financeiro do Sindivet, Hélio Louredo, a fiscalização insuficiente por parte de órgãos estaduais e federais agrava a questão. “Quem perde sempre é o consumidor. Além de pagar por um produto que não corresponde ao anunciado, o leite com as características que encontramos pode causar problemas de saúde. No mínimo, diarréia”, alerta.

O funcionário público Emivaldo Gonçalves de Sousa, 36 anos, diz que há algum tempo suspeitava da qualidade do leite que comprava. Ele conta que a mulher, Denise Maria Dantas, 33, utiliza muito o leite pasteurizado de saquinho para fazer bolos. A família também bebe leite integral duas vezes por dia, no café da manhã e antes de dormir.


Emivaldo conta que ele e o filho, Vinícius, por vezes sofrem de diarréias, sem motivo aparente. “Quem sabia da má-qualidade do leite já deveria ter denunciado há muito tempo. Por sorte, em casa reduzimos bastante a compra do leite de saquinho, justamente porque já desconfiávamos disso”, aponta.

Diante dos laudos periciais do Laboratório de Microbiologia de Alimentos e Água da UFG, o Procon começou ontem a autuar os sete laticínios em que as irregularidades foram constatadas. Segundo a gerente de educação para o consumo, Sara Ximenes, do Procon, trata-se de crime contra as relações de consumo, sujeito à multa entre R$ 212,82 e R$ 3.192.300. As empresas têm dez dias para apresentar defesa.


O Procon promete realizar análise do leite pasteurizado nos outros 33 laticínios goianos. Sara diz ainda que o Ministério da Justiça recomendou a verificação do leite integral e do leite em pó, devido a suspeita de problemas semelhantes nessas variações do produto. O trabalho será feito em parceria com o Ministério da Agricultura e os resultados devem sair em 20 dias.