Armas contra o câncer
Armas contra o câncer
Lucielle Bernardes e Juliana Luiza
Da editoria de Cidades
Fernando Leite
Funcionário público aposentado e comerciante Celso Moessa de Lima, 48, luta contra um tipo raro de câncer na bexiga: “Existe muito estudo até o lançamento de um produto. Não tenho tempo a perder”
Depois de quase 75 anos que se falou pela primeira vez em “guerra contra o câncer”, em um artigo da revista médica British Medical Journal, o câncer ainda parece ser um inimigo invencível. Porém, nesse combate, muitas vitórias expressivas foram conquistadas. Agora já é até possível traçar o perfil genético de diversos tumores, como os de mama e de pulmão. Essas informações, aliadas à análise genética do próprio paciente, levaram à criação de medicamentos bastante específicos.
A especificidade é tamanha que se fala até na criação de tratamentos individualizados, o que significa identificar que medicamento funciona melhor para um determinado grupo de pacientes com características semelhantes.
Algumas dessas armas já estão disponíveis. Trata-se dos medicamentos que formam as terapias-alvo, que costumam ser associadas aos quimioterápicos tradicionais. Conhecidos também como biológicos, agem de maneira inteligente, impedindo a proliferação das células tumorais sem afetar as células saudáveis. Os mais difundidos são: Erbitux (cabeça e pescoço), Mab Thera (linfoma), Herceptin (mama), Nexavar (rim), Glivec (leucemia), Sutent (rim) e Avastin (intestino).
Os remédios existentes no mercado não tratam todos os tipos de câncer. São indicados especificamente para pacientes com tumores de pulmão, mama, rim, fígado e linfoma. Os primeiros representantes das terapias-alvo foram o Mab Thera e o Herceptin, lançados no final da década de 1990. De lá para cá, foram criados em torno de outros 30 medicamentos. A meta é associar somente remédios biológicos, sem utilizar a quimioterapia.
Vencer um inimigo bastante poderoso, uma vez que o câncer é a segunda causa de morte por doença em todo o mundo, não é tarefa fácil. A grande dificuldade é o fato de que um mesmo tipo de tumor difere de um indivíduo para outro, e mesmo as células de um único câncer podem ser diferentes entre si.
Outro problema é que duas pessoas podem responder de maneiras diversas ao tratamento contra a doença. Além disso, o câncer é extremamente mutável. Acontece com freqüência um paciente deixar de responder a uma terapia porque o tumor se tornou resistente à medicação.
DNA – Testes de sangue que identificam as mutações genéticas associadas aos riscos e à progressão do câncer também são realidade – e dezenas de pessoas já se beneficiaram desses exames. Eles não são uma sentença, mas têm grande precisão. Cientistas consideram-nos entre as armas mais eficientes e simples de atacar a doença ainda no início, e além disso, o paciente tem a chance de aproveitar o tempo para ajustar o estilo de vida antes da manifestação.
O desenvolvimento de mais testes, entretanto, será possível com a descoberta de novas áreas dos genes. Sabe-se que estruturas até hoje chamadas de “sucatas” por não terem função biológica definida formam uma intrincada rede de controle.
Estudo com essa conclusão foi publicado recentemente nos renomados periódicos científicos Nature e Genome Research. Os resultados práticos da novidade podem se traduzir em novas drogas ou melhor entendimento da doença.
Vantagens – “Estamos saindo da era em que um tratamento serve para todos para entrar na era das terapias alvo-dirigidas”, afirma o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, membro do Serviço de Ginecologia e Mama do Hospital Araújo Jorge e também coordenador do Programa de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG).
De acordo com o especialista, à medida em que novos alvos (biológicos e genéticos) são descobertos, é possível utilizar substâncias que vão acertá-los diretamente. Freitas Júnior vê duas vantagens nas terapias-alvo. A primeira é o tratamento cada vez mais personalizado. “É como se fosse um tratamento de alfaiate”, compara. A segunda vantagem diz respeito à redução dos efeitos colaterais. “Utilizando um medicamento para um grupo específico, evita-se os efeitos colaterais e impede-se que as pessoas usem a droga sem necessidade.”
Freitas Júnior aponta apenas uma desvantagem das terapias-alvo: o alto custo. Segundo o mastologista, o valor passa a ser o grande ponto limitante do tratamento, o que torna a Medicina mais cara pelas novas descobertas. “É preciso discutir quem arcará com esses custos: fontes pagadoras, governo ou plano de saúde, “completa.