Fim da prova de habilidade específica divide opiniões
Fim da prova de habilidade específica divide opiniões
Universidade Federal de Goiás deixa de aplicar prova de Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos para cursos de Artes Visuais e Design de Moda a partir deste ano
Patrícia Drummond
O Conselho Diretor da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da Universidade Federal de Goiás (UFG) decidiu abolir, a partir do vestibular deste ano, as provas de Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos para os cursos de Artes Visuais e Design de Moda. A novidade, anunciada ao POPULAR na semana passada pela professora Verbena Lisita, presidente do Centro de Seleção, divide opiniões de vestibulandos, estudantes universitários e profissionais das áreas envolvidas.
“Não sabia disso. Agora vai passar todo mundo, né? E eu que desenho ‘pra caramba’ corro o risco de ficar de fora, com tanta gente que não deve levar o menor jeito, mas quer fazer Design”, reclama o secundarista Diego Lopes, de 17 anos, candidato a uma vaga no curso de Design Gráfico. Para Mariana Sousa de Lima, 19, que também se considera fera em desenho e pretende se formar em Design de Moda, a decisão da FAV/UFG pode render frutos no futuro: “Se, no vestibular, não seremos avaliados em teste de aptidão, lá na frente, quando já estivermos no mercado de trabalho, isso pode vir a fazer a diferença. Para mim, tanto faz”, diz a estudante.
Formado em 2002 pela UFG, o designer gráfico Elízeo Hamu Dias, 28, afirma que não concorda com o que decidiu o Conselho Diretor da faculdade onde estudou, mas faz algumas ressalvas. Segundo ele, como a maioria do trabalho na área, atualmente, é feito no computador, a necessidade de saber desenhar para fazer o curso não é tão grande. Por outro lado, argumenta, embora já tivesse alguma habilidade manual, muito do que sabe, hoje, de desenho, aprendeu na graduação.
Diferencial
“É claro que quem não tem o dom pode desenvolver a técnica na faculdade, mas fica mais fácil quando já se leva jeito para a coisa. Para mim, essa questão do dom também é o diferencial na hora de encarar a concorrência, por isso discordo sobre a não realização dos testes de aptidão”, considera Elízeo. Seu colega de profissão – porém há menos tempo no mercado de trabalho –, Fernando Basílio Portero Simon, 23, concluiu o curso de Design Gráfico em 2005 e presta serviços em uma grande empresa do segmento. Ele também lamenta a decisão. “Em alguns projetos, como logomarcas, por exemplo, é fundamental fazer esboços à mão, no papel. O fato de trabalhar direto no computador, com programas específicos para desenhar, pode virar dependência e acaba matando a criatividade. Isso vai levar à mesmice no resultado final, onde você usa menos da sua criação de artista e, dessa forma, não foge ao senso comum”, justifica.
Ajuda dos recursos tecnológicos
Atualmente aluna de Jornalismo na Faculdade Araguaia, Larissa Romano, de 26 anos, quase concluiu a graduação em Design de Moda pela Universo, mas desistiu, em 2005, para fazer curso técnico de Estilismo. Antenada, a jovem já é empresária do ramo e tem uma grife própria de moda feminina, com roupas que ela mesma cria e modela. Larissa conta que, quando pensou em prestar o primeiro vestibular, chegou a fazer inscrição na Universidade Federal de Goiás (UFG). No entanto, não compareceu às provas, optando pela faculdade particular exatamente porque não havia teste de aptidão.
“Para atuar na área de Design de Moda, saber criar, modelar e cortar são fundamentais, muito mais do que desenhar”, pondera Larissa Romano. Para ela, muita gente com boas possibilidades profissionais deve ter ficado de fora da seleção da UFG por causa do teste de aptidão.
Outro que concorda com o fim da verificação de habilidade é o estudante do 7º período de Design de Comunicação na Universidade Católica de Goiás (UCG), Guilherme Blanco Rospi Nunes, 23. “Eu não sabia desenhar. Fiz um cursinho de uma semana para prestar o vestibular”, recorda. “Na vida profissional, são muitos os recursos tecnológicos e as alternativas para executar um bom trabalho”, diz.
As opiniões de Larissa Romano e Guilherme Blanco vão ao encontro da justificativa do diretor da Faculdade de Artes Visuais da UFG para a mudança nos critérios de seleção dos candidatos. O professor Luiz Edegar de Oliveira Costa argumenta que a prova que a instituição vinha fazendo avaliava as habilidades específicas dos vestibulandos de maneira distante das mudanças ocorridas, segundo ele, no atual contexto das Artes. A idéia, explica o diretor da FAV, é propor questões da área nas provas que todos os inscritos deverão fazer.